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architexts ISSN 1809-6298


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Em Cuba, até 1930 havia uma alternância entre o neoclassicismo do Capitólio Nacional e o neocolonial do Pavilhão de Cuba na Exposição de Sevilha. Foi quando surgiu, a partir da difusão por Alberto Camacho e Joaquin Weiss, o entusiasmo pelo Art Decó.


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SEGRE, Roberto. Havana Déco em Cuba. A renovação estética dos années folles. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n. 140.02, Vitruvius, jan. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.140/4167>.

A história de Cuba na primeira metade do século XX foi complexa e contraditória. O açúcar constituiu o embasamento da economia que produzia a riqueza e a pobreza do país, em dependência das altas e baixas do seu preço no mercado internacional. Nos anos da Primeira Guerra Mundial, o valor do açúcar atingiu as estrelas e gerou o chamado período das vacas gordas; seguido pela grave crise ocorrida a partir de 1918 – definida como das vacas fracas –, quando o baixo preço paralizou a economia de Cuba.

Com o governo do general Gerardo Machado (1925-1933), começou uma etapa de prosperidade devido aos investimentos norte-americanos que estabeleceram as grandes fábricas de açúcar no interior da ilha; logo interrompida pela Crise Mundial do ano 1929, e posteriormente pela finalização da ditadura de Machado. Até o início da Segunda Guerra Mundial, desenvolveu-se um período político instável que voltou a se regularizar na primeira presidência de Fulgencio Batista (1940-1944; seguido por Ramón Grau San Martín (1944-1948), favorecido pela riqueza acumulada devido ao alto preço do açúcar nos anos da guerra; o que permitiu concretizar significativas obras públicas em todo o território do país. Finalmente, esta primeira metade do século encerrou-se com o golpe militar de Fulgencio Batista (1952), que estabeleceu uma ditadura derrubada em 1959 pela guerrilha dirigida por Fidel Castro, quem abriu uma nova etapa da história de Cuba.

Capitolio Nacional, Havana, 1929
Foto divulgação

As prolongadas guerras pela independência da Espanha culminaram em 1898 com a intervenção de Estados Unidos, que desejava ocupar as ilhas das Antilhas para controlar a região do Mar do Caribe. Mas os cubanos não aceitaram pertencer a este país – ao contrário do que aconteceu em Porto Rico –; e inicio-se a República em 1902, mantendo-se uma dependência econômica e cultural até finais dos anos cinquenta, evidenciada no íntimo relacionamento entre Miami e Havana.

Nas três primeiras décadas do século, os modelos arquitetônicos e urbanísticos assumidos dos Estados Unidos e da Europa estabeleceram um diálogo criativo na configuração da cidade de Havana, que a burguesia cubana desejava transformar na Paris das Antilhas. Mas também assumia a monumentalidade dos prédios públicos governamentais de Washington, assim como com arranha-céus de Nova York.

Quando foi construído o Campus da Universidade de Havana, o modelo provinha da Columbia University de Nova York; e o símbolo da República, o Capitólio Nacional, inspirou-se no homólogo de Washington. E no momento em que o Ministro de Obras Públicas do governo de Machado, Carlos Miguel de Céspedes, decidiu promover um Plano Diretor “moderno” para o desenvolvimento da capital, não foi convidado um urbanista norte-americano, mas quem fora diretor dos parques e jardins de Paris, J.C.N. Forestier, quem elaborou o projeto entre 1925 e 1929, com uma equipe de arquitetos franceses e cubanos.

Residência Juan de Pedro y Baró e Catalina de Lasa, 1928. Arquitetos Evelio Govantes & Félix Cabarrocas
Foto Roberto Segre

O professor e arquiteto Pedro Martínez Inclán, no livro que publicou em 1925 – Havana atual –, sugeriu que a cidade devia transformar-se na “Nice de América” para assimilar um milhão de turistas provenientes de Estados Unidos. Não foi uma coincidência que Henry Morrison Flager, ao criar a linha ferroviária que unia Nova York e Filadélfia com Miami, denominou-a Havana Express.

Até os anos trinta, a alta burguesia cubana construiu suas luxuosas residências, primeiro no Paseo del Prado situado no centro da cidade, e posteriormente no bairro de El Vedado. Na maioria foram projetadas por arquitetos locais formados nos Estados Unidos; e com algumas exceções por prestigiosos profissionais europeus e norte-americanos. Os desenhos assumiram os modelos de Paris e Nova York, e predominaram os estilos historicistas Beaux Arts com uma significativa presença dos elementos decorativos clássicos.

Armazém de Tabaco, Rua Zanja, 1929. Arquiteto Emilio de Soto
Foto Roberto Segre

Quando nos anos vinte, na América Latina e no sul dos Estados Unidos começou a crítica à academia, a procura de um estilo “regional” contraposto ao universalismo das ordens greco-romanas, gerou o interesse pela arquitetura colonial e o Renascimento espanhol, denominado Mediterranean Revival Style. Assimilaram-se os novos elementos decorativos, estudados pelos arquitetos norte-americanos que publicaram detalhados livros ilustrados com detalhes utilizados nas residências, nos edifícios públicos e nos luxuosos hotéis construídos desde a Califórnia, até o Estado da Flórida, recém descoberto pelos milionários nova-iorquinos.

A ocupação da costa atlântica, desde San Agustin até Miami, pela iniciativa do empresário Henry Morrison Flager, acompanhado do arquiteto Addison Mizner, definiu os modelos urbanísticos e arquitetônicos que influenciaram as novas construções no Caribe. Isto aconteceu nos anos trinta, quando as ilhas de Cuba e Porto Rico, assumiram a significação do “Paraíso Tropical” para os norte-americanos. O hotel The Breakers (1925) em West Palm Beach, e o Biltmore (1925) em Coral Gables sem dúvida serviram de modelo para o hotel Nacional em Havana (1929), projetado pelos conhecidos arquitetos de Nova York, McKim, Mead & White, com elementos decorativos de origem espanhola, mas curiosamente integrados com referências Decó.

Hospital Quinta de Dependientes. Pavilhão Romagosa, anos 1940
Foto Roberto Segre

Em Cuba, na década dos anos vinte desenvolveu-se um debate sobre os caminhos da arquitetura nacional, com a participação de arquitetos e professores universitários que divulgavam suas posturas estéticas nas revistas de arquitetura e de cultura locais. Apesar de que já eram conhecidas as primeras experiências do Movimento Moderno europeu, tiveram pouca repercussão na ilha. Até o ano 1930, a representatividade da arquitetura “oficial”, alternava o Neoclassicismo do Capitólio Nacional (1929), com o Neo-Colonial do Pavilhão de Cuba na Exposição Ibero-Americana de Sevilha (1929). Mas desde as aulas da Faculdade de Arquitetura de Havana, os professores da disciplina de história, Alberto Camacho e Joaquin Weiss, começaram a difundir as obras da vanguarda européia; e desde 1925, uma vez ocorrida a Exposição de Artes Decorativas de Paris, se entusiasmaram com a presença do novo estilo Art Decó.

Até o início dos anos trinta ele foi assimilado timidamente, mas se concretizaram três exemplos paradigmáticos na cidade de Havana: a decoração interior da mansão do fazendeiro de açúcar, Juan Pedro y Baró – casado com a mulher mais elegante da cidade, Catalina de Lasa –, projetada em estilo Renascimento Italiano pelos arquitetos Evelio Govantes & Félix Cabarrocas (1928), e com um interior Art Decó, desenhado por René Lalique; a sede da empresa Bacardi (1930) projeto de Esteban Rodríguez Castells, Rafael Fernández Ruenes e José Menéndez, um dos mais significativos exemplos da mistura entre a influência decorativa proveniente de Paris, e a imagem dos arranha-céus de Nova York; também presente no primeiro edifício alto do Vedado – os apartamentos López Serrano (1932) –, projetado por Ricardo Mira & Miguel Rosich, para os viajantes de negócios norte-americanos que deviam residir em Havana.

Hotel Nacional de Cuba, Vedado, 1929. Arquitetos McKim, Mead & White
Foto Roberto Segre

Entre os anos 1925 e a Grande Crise de 1929 a vida na Havana teve o ritmo dos années folles que caracterizou tanto Paris quanto Nova York. Apesar do governo de Machado ter se transformado rapidamente em uma ditadura, a cidade fervia com as mudanças introduzidas pelas imagens do urbanismo tropical elaboradas por Forestier: sofisticados carros circulavam nas largas avenidas caracterizadas pelas monumentais fileiras de palmeiras tropicais; os flâneurs se movimentavam nas calçadas protegidas pela densa vegetação; nas monumentais residências, sucediam-se as hedonistas festas da alta burguesia, ironicamente descritas nas novelas de Alejo Carpentier. O atrativo da moderna capital tinha resonância internacional: nela chegaram Vladimir Maiakovski, Sarah Bernard, Enrico Caruso, Marlene Dietrich, Buster Keaton, Fred Astaire, entre outros. É a partir deste momento que também começou o interesse por Cuba da “máfia” norte-americana, com a presença de Meyer Lansky e Lucky Luciano, que abriram cassinos e hotéis de luxo na capital. A influência do cinema, o desenho gráfico das revistas e da publicidade, os objetos e móveis importados, já tinham a marca da modernidade Decó que influenciou os artistas locais: Rita Longa, Conrado Massaguer, Ernesto Navarro, Florencio Gelabert, e Juan José Sicre. Mas quase ninguém teve a coragem de construir uma casa nesse estilo: as poucas existentes nesses anos foram projetadas por Joaquin Weiss, Ricardo Maruri, Esteban Rodríguez Castells, e J. A. Mendigutía.

Já na década seguinte, com a presença de cinemas, lojas comerciais no centro da cidade e prédios de apartamentos, sob a influência da arquitetura de Miami Beach, se assumiu nas fachadas a presença de elementos decorativos Decó. E começaram a ser desenhados edifícios públicos no estilo “Monumental Moderno” integrado ao Art Decó. Mudança formal que se correspondia com as escolhas estéticas dos governantes. Por enquanto, Machado olhava para Paris; Fulgencio Batista, que começou a ter uma significativa presença na política cubana dos anos trinta, olhava para Miami. Finalmente, na década dos anos quarenta, o boom econômico produzido pela Segunda Guerra Mundial gerou um forte desenvolvimento dos bairros suburbanos, com casas individuais da classe média identificadas pelos elementos Decó, produzidos pelas empresas construtoras que transformaram o vocabulário clássico tradicional na simplificação geométrica dos ornamentos modernos. Dinâmica formal que se prolongou até os anos cinquenta com a concretização do monumento a José Martí na Praça Cívica (1953), principal ícone Decó no skyline da cidade.

Residência Juan de Pedro y Baró e Catalina de Lasa, 1928. Arquitetos Evelio Govantes & Félix Cabarrocas
Foto Roberto Segre

O Art Decó introduziu a renovação estética identificada com a modernidade na Havana. Cabe imaginar o que significou a presença de René Lalique – com a participação do filho de Catalina que morava em Nova York –, no desenho dos interiores da mansão de Juan Pedro y Baró e Catalina de Lasa no bairro de El Vedado, no momento em que a decoração inspirada nos estilos Luis XV e Luis XVI, outorgava a luxuosa personalidade da mansão da Condesa de Revilla Camargo situada a poucos quarteirões de distância. No palácio renacentista as paredes revestidas com mármores importados de cores escuras; os stuccos decorativos elaborados por Dominique´s de Paris; os vitrais com sutis figuras femininas; as luminárias integradas na arquitetura; as grades de ferro com motivos geométricos executados por Baguez, e a simplificação do desenho do mobiliário, constituiam uma inovação ainda pouco comum nas residências da alta burguesia. O fazendeiro cubano e a sua mulher, através das viagens à Paris, desejavam introduzir na ilha as recentes contribuições da vanguarda artística européia. Entusiasmo que perdurou até o falhecimento de Catalina em 1933, cujo mausoléu no cemitério de Colón concebido por Lalique, é um dos mais refinados exemplos do Decó na Havana.

Sede da Empresa Bacardí, 1929. Arquitetos Esteban Rodriguez Castells, Rafael Fernández Ruenes e José Menendez
Foto Roberto Segre

Cuba foi conhecida como a ilha do rum and sun. E historicamente o seu embasamento econômico provinha da produção de açúcar, do tabaco, do rum e do turismo. Se as fábricas de açúcar e o turismo estiveram nas mãos dos norte-americanos, as plantações de tabaco e as fábricas de rum pertenceram a empresários cubanos. Entre eles se destacava Emilio Bacardi, dono da principal indústria do rum de Santiago de Cuba. Com a expansão da empresa decidiu instalar-se em Havana e convidou em 1929 vários escritórios para participar no concurso da sua nova sede. A equipe vencedora, formado pelos arquitetos Esteban Rodríguez Castells, Rafael Fernández Ruenes e o engenheiro José Menendez, apresentou um projeto acadêmico e historicista, semelhante aos dos outros concursantes.

Afortunadamente, Rodríguez Castells viajou a Paris onde ficou surpreso com os edifícios que se espalhavam na cidade; e conheceu também os novos arranha-céus de Nova York, o que incidiram na mudança radical da imagem do prédio de escritórios, substituindo o historicismo pelos códigos formais Art Decó. Devemos acreditar que esta decisão pretendia se distanciar, tanto dos estilos clássicos que identificavam nessa década os bancos e as empresas norte-americanas; quanto do inexpressivo retorno à arquitetura colonial, promovida pelo escritório de Evelio Govantes & Félix Cabarrocas, responsáveis pelas obras de restauração dos principais monumentos de Havana, e cuja visão ascética do passado tinha tirado a cor das fachadas dos edifícios coloniais, agora caracterizados com a visível e severa cor cinza das pedras.

Sede da Empresa Bacardí, 1929. Arquitetos Esteban Rodriguez Castells, Rafael Fernández Ruenes e José Menendez
Foto Roberto Segre

Ao pretender criar o valor icônico da empresa Bacardi no skyline de Havana, deveriam procurar-se as formas “modernas” da vanguarda, e as cores que tradicionalmente representaram a arquitetura popular caribenha. A equipe decidiu revestir as fachadas com painéis de terracota colorida, e outorgar o valor icónico ao prédio com a torre escalonada com o símbolo do Bacardí – o morcego preto –, decorado com motivos provenientes tanto da iconografía babilônica, quanto dos ornamentos das pirâmides das antigas civilizações americanas. Assim, era reconhecível uma empresa baseada no capital nacional, que construía o futuro do país, sem esquecer as raízes culturais antilhanas e latino-americanas. Elaborou-se um detalhado estudo da decoração dos espaços interiores; teve uma integração dos artistas plásticos que desenvolveram as formas vegetais e as representações femininas – tinha sido arriscado colocar as mulheres nuas na fachada principal, em um período em que a mulher não circulava facilmente na cidade –; e predominaram os elementos ornamentais de ferro e bronze, e as escultóricas luminárias dos espaços públicos.

O terceiro ícone do Art Decó em Havana identificou-se com o prédio de apartamentos López Serrano no bairro de El Vedado, obra do escritório de Ricardo Mira & Miguel Rosich (1932). Construído com uma estrutura de aço, reproduziu, em pequena escala – com 15 pavimentos – a imagem dos arranha-céus de Nova York, com os volumes que vão recuando em degraus, até a torre de coroamento. Valorizaram-se as áreas públicas com murais coloridos e referidos ao futuro tecnológico que propunha a eletricidade, a luminosidade dos espaços, a velocidade dos novos meios de transporte. Os apartamentos de pequenas dimensões seriam ocupados pelos comerciantes norte-americanos que deviam visitar Havana para concretizar os seus negócios. A preocupação dos arquitetos, não se limitou aos componentes estéticos, mas também aos determinantes climáticos: a planta com forma de pente facilitava a ventilação cruzada nos quartos dos apartamentos.

Prédio de Apartamentos López Serrano, El Vedado, 1932. Arquitetos Ricardo Mira & Miguel Rosich
Foto Roberto Segre

Nesta década, com o incremento da população urbana, intensificou-se a construção de prédios de apartamentos no bairro de Centro Havana – acompanhados pelos cinemas – o Fausto de Saturnino Parajón (1938) e o Rodríguez Vázquez com o cinema e teatro América (1941) de Fernández Martínez Campos e Pascual Rojas – e sofisticadas lojas como a Casa Quintana (1937) de Alejandro Capó Boada; conjuntos habitacionais que também se espalharam nos novos edifícios altos de El Vedado, que progressivamente ocuparam os espaços livres disponíveis entre as luxuosas mansões.

Esta proliferação do sistema decorativo Decó na cidade incidiu também na mudança estética dos governantes que assumiram o poder depois da derrubada da ditadura de Gerardo Machado. O sargento Fulgencio Batista, foi ascendendo na escala militar até alcançar a patente de general e ganhar as eleições presidenciais em 1940. Como o seu espaço de atividades era o Quartel Columbia no bairro de Marianao, desejava identificar arquitetônica e urbanisticamente este novo centro do poder, e distanciar-se dos monumentos clássicos que representaram o governo da “alta burguesía” no centro de Havana. O arquiteto José Pérez Benitoa transformou-se no seu projetista “oficial” das obras públicas, e foi responsável pelo desenho do Hospital Militar (1937), e pelo conjunto de quatro edifícios públicos que integraram a Praça Finlay (1943), presidida por um obelisco.

Aqui se produziu a simbiose entre a monumentalidade requerida por estes prédios do governo e os elementos ornamentais Decó. Começou a se desenvolver o estilo “Monumental Moderno”, com composições simétricas, hieráticas colunatas nas fachadas, mas logo suavizadas pelos painéis com os motivos geométricos ou as representações figurativas Decó. Nas proximidades, sempre no bairro de Marianao, também se construiu o hospital da Maternidad Obrera de Emilio de Soto (1939). E foi renovado o Campus da Universidade de Havana no bairro do Vedado, desenhado na sua totalidade com as ordens greco-romanas; em 1937, Joaquim Weiss projetou a sede da biblioteca em Monumental Moderno, com uma rígida colunata com capiteis Decó, de motivos decorativos pré-colombianos. Mais próxima dos códigos do movimento Moderno foi a Escola de Veterinária da Universidade (1943), de Manuel Tapia Ruano.

Biblioteca no Campus da Universidade de Havana, Vedado, 1937. Arquiteto Joaquín Weiss
Foto Roberto Segre

Na década dos anos quarenta, com o desenvolvimento econômico produzido pelo alto preço do açúcar durante a Segunda Guerra Mundial, aconteceu um acelerado crescimento e expansão da malha urbana nas áreas suburbanas. Se densificaram os bairros do Cerro, Luyanó, Víbora, Marianao, Santos Suárez, entre outros. As novas casas ocupadas pela classe média foram projetadas por construtores anônimos que assumiram o Art Decó como o principal estilo identificador da modernidade. Assim, se produziram em série luminárias, pisos cerâmicos e de granito; e placas decorativas de cimento cujos desenhos geométricos e referências vegetais e antropomórficas definiram a paisagem arquitetônica da cidade de Havana. Apesar da pressão simplificadora dos modelos racionalistas do Movimento Moderno, que se misturaram com a herança Decó e conformou o estilo “Proto-moderno”, a decoração geométrica perdurou até os anos cinquenta.

Os paradigmas que fecham a presença Decó na capital foram o Gran Templo Nacional Masónico em Centro Havana (1951-1955) de Emilio Vasconcelos; e o monumento a José Martí na Praça Cívica (1937-1953), a que constitui o principal ícone Decó, visível na cidade. Surgido de um complexo e irregular concurso, em que as pressões políticas mudaram o resultado da premiação, foi finalmente construído depois do golpe militar de Batista em 1952, e projetado por Raúl Otero, Enrique Luis Varela, Manuel Tapia Ruano, Victor Morales e Jean Labatut, com a imagem de José Martí elaborada pelo escultor Juan M. Sicre, que esteve localizada no primeiro prêmio rejeitado. O alto obelisco escalonado com planta estrelada e revestido em mármore, é visível nos quatro cantos da cidade, e a luz do topo da torre estabelece um diálogo com o farol que identifica o clássico Capitólio Nacional. Assim, se encerra a primeira metade do século XX em Havana, com esta interação entre a tradição acadêmica e a renovação estética introduzida pelo movimento Art Decó.

nota

NE
Artigo apresentado no XI Congresso Mundial de Art Déco. Rio de Janeiro, 14 a 21 de agosto de 2011.

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sobre o autor

Roberto Segre, arquiteto e crítico de arquitetura, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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