Introdução
O capitalismo, de forma bastante intensa, participa da organização do espaço urbano, ocupa e produz novos espaços, formando áreas especializadas em distintas partes do território, intensificando o uso e a ocupação do solo urbano, estimulando o mercado imobiliário e as parcerias entre os setores público e privado, segundo facilidades de infra-estrutura. Essa organização depende também das ações políticas, econômicas e sociais sobre determinados espaços. Nesse sentido, a cidade é fruto de intervenções privadas e estatais, que atuam no espaço através de investimentos estruturais e organizacionais, regulamentando os diversos interesses de poder e de classe, estabelecendo estratégias sociais e políticas, muitas vezes geradoras de segregações e exclusões sociais. (1)
A cidade é potencialmente o símbolo poderoso de uma sociedade complexa. (2)
Manter de pé apenas as chaminés de antigas fábricas de São Paulo tem sido a estratégia das construtoras para conseguir a liberação dos órgãos do patrimônio histórico e, assim, ocupar os grandes terrenos do município com condomínios residenciais. (3)
A cidade de São Paulo elevou-se à categoria de metrópole há menos de cem anos (4). Foi graças ao café e investimentos em prol da industrialização que começou a expandir no final do século XIX e início do século XX (5), momento que coincide com um movimento importado dos Estados Unidos, que é a verticalização edilícia, intensificada na década de 1930 (6). Nessa época, apesar da decadência do café, São Paulo apresentava expressivo crescimento econômico com a industrialização, e já predizia que seu crescimento vertical seria ainda mais significativo.
Neste artigo, estuda-se a metrópole São Paulo justamente por ser a maior cidade de todo território nacional e, portanto, oferece maior quantidade de aspectos urbanos para serem analisados. Mas não só isso, seu tamanho e população tornam flagrantes os elementos que promovem ou complicam a vida na cidade. A verticalização é um desses elementos.
Segundo Maria Adélia Souza (7), a verticalização é “a resultante, no espaço produzido, de uma estratégia entre múltiplas formas do capital [...] que cria o espaço urbano”. Nadia Somekh (8), em uma leitura mais clara do fenômeno, explica que a verticalização é a “multiplicação do solo urbano possibilitada pelo elevador”. Somekh (1997), Souza (1994) e Reis Filho (2004) explicam que a verticalização de São Paulo tem início no começo do século XX, com construções voltadas para o setor terciário, e concentradas na região central. De acordo com Reis Filho (9), o primeiro edifício vertical de São Paulo, o Prédio Martinico Prado (atual BM&F, na Rua Quinze de Novembro), surgiu em 1904. Em 1924, surge o edifício Sampaio Moreira e estabelece o que Samuel Kruchin (10) chama de arquétipo metropolitano, isto é, um grande edifício simbolizando uma grande cidade. Até o final da década de1920, a verticalização foi predominantemente voltada para o uso terciário (lojas, serviços e escritórios), e não para moradia.
A pesquisa de Galesi e Campos Neto (11) mostra como o incentivo do governo de Prestes Maia, aliada aos discursos desenvolvimentistas da época, corroboraram com a verticalização de moradias na cidade. Segundo os autores, a primeira moradia vertical moderna da cidade, projetada por Julio de Abreu, surgiu em 1927 (segundo Campos Neto,2004, averticalização foi legalizada em 1929, com o Código de Obras Arthur Saboya), que foi o Edifício Martinelli, com trinta imponentes andares. Dessa primeira iniciativa, explicam, somam-se os avanços tecnológicos do concreto armado, das estruturas metálicas e dos elevadores, além dos padrões urbanísticos importados dos Estados Unidos e da Europa. O resultado dessa equação: edifícios que apresentam fachadas sofisticadas e materiais de acabamento de alta qualidade, seduzindo a classe média e alavancando a construção de edifícios na região central da cidade.
Nadiah Somekh (12) explica o processo de verticalização em São Paulo em seis períodos, caracterizados por marcos específicos. Sua análise abraça o período de 1920 a 1994, e os marcos de uso terciário, depois residencial, envolve o estilo de construção europeu e americano, abarca a intensificação do uso do automóvel na Cidade, o aquecimento econômico, os financiamentos do Banco Nacional de Habitação, o Plano Diretor, a Lei de Zoneamento, enfim, uma complexidade de fatores que, tecido juntos, levaram São Paulo a crescer para cima, ora em épocas mais intensivas, ora mais amenas.
Disse Somekh (1994) que a verticalização no centro da cidade foi, inicialmente, poderoso símbolo de progresso. Em seguida, passa a ser um condicionante indispensável à concentração de população e atividades. Em contrapartida, a concentração de moradias, comércio e serviços, em meados do século passado, levou a um plano de expansão do Centro de São Paulo, com o objetivo de se estabelecer maior mobilidade na região. Em constante crescimento físico e econômico, a expansão vertical da Cidade fica expressa em sua paisagem, em inúmeras regiões centrais, incluindo aí a Mooca, um dos mais antigos bairros da Capital (13).
Aqui, o recorte recai sobre o bairro da Mooca não apenas porque faz parte da massiva verticalização amparada por um recente boom imobiliário, mas porque esse movimento foi alvo de uma disputa judicial entre preservação histórica e progresso econômico, em 2007 e, no início da década de 2010, ainda é cenário dessa arena de debates entre aqueles que defendem a preservação e a especulação imobiliária (14). Em adição às disputas por terrenos das antigas indústrias, os moradores da Mooca assistem, de camarote, à invasão e saque de seu patrimônio abandonado e em deterioração (15). Assim, a Mooca, que conjuga modernização com tradição, industrialização com moradia, gastronomia, lazer, cultura, entretenimento e comércio, vem se aprumando neste início de século XXI, enquanto suas vias de circulação parecem cada vez menores. Neste artigo, à luz de uma leitura ambiental, coloca-se em xeque não o desenvolvimento, mas o desenvolvimento lastreado por uma ascensão vertical, que ignora seus impactos.
A urbanização em nosso contexto
Urbanos por excelência, somos é dependentes. (16)
... a altura é elemento de prestígio consolidado há longo tempo. (17)
Disse Sposito (18) que as cidades se tornaram marca tão profunda da civilização moderna, que é quase impossível conceber a idéia de que, em algum passado remoto, não existiam ou tinham apenas papel acessório no modo como a sociedade se organizava. Mas hoje as cidades existem, e cada vez mais se urbanizam. O trabalho de Maria Sposito (1997) é significativo, porque ressalta a importância da história para a compreensão das cidades. A autora, portanto, retoma a história do próprio ser humano e encontra na revolução agrícola a semente da urbanização, porque a partir daí, o homem se fixaria à terra. Dessa fixação, grosso modo, originariam a idéia de posse e propriedade, a necessidade de defender o patrimônio contra saques e ocupações, o excedente de alimentos, a divisão do trabalho, as classes e os papeis sociais, a política... e, milhares de anos de evolução depois, com a revolução industrial, chegam-se aos complexos aglomerados de pessoas, que são as cidades.
As cidades, por sua vez, continuam a se modificar e a evoluir. Evolução que se caracteriza pelas constantes alterações, que nem sempre significam melhorias. Em muitos casos, observa-se justamente o oposto. Pierre George (19) chega a afirmar que a urbanização suscita um problema novo para o ser humano: “o da sobrevivência da cidade”. E quanto maior e mais populosa for uma cidade, mais a questão de nela sobreviver se torna flagrante. Obviamente, afirma Lynch (20), e apesar do referido caos, não é impossível viver e sobreviver em uma cidade. Em verdade, existem inúmeros fatores que facilitam ou dificultam a vida urbana, dentre os quais se destacam as questões de habitação, trabalho e circulação, que estão intrinsecamente relacionadas. Em uma cidade como São Paulo, ir e vir de casa para o trabalho pode significar algumas horas dentro de ônibus ou de um carro. Há inúmeras implicações ecosóficas (21) nesse processo: o ambiente sofre com o excesso de gases de efeito estufa lançados na atmosfera, as relações sociais sofrem com o esgotamento físico dos motoristas e passageiros, dentre outros. Esse é um assunto delicado que merece atenção.
Segundo Marie-Charlotte Belle (22), o crescimento econômico e a urbanização de São Paulo, na primeira parte do século XX, se deram em um momento em que a cidade não dispunha de infra-estrutura suficiente para suportar tamanho desenvolvimento. O centro da capital, explica a autora, se tornou uma cidade em si, tanto em concentração populacional e edilícia, quanto em agrupamento de comércio e serviços. Em rápida síntese, essa concentração levou a administração de São Paulo a criar um sistema viário capaz de suportar a intensa circulação de automóveis e pessoas no centro. Esse plano concebido por Prestes Maia ficou conhecido como Plano de Avenidas que, segundo Galesi e Campos Neto (23), levou a uma descentralização e criação de um centro expandido, que transferiu a função de núcleo comercial, terciário e habitacional do Centro Velho para outros centros, principalmente na calha do rio Pinheiros. E mesmo com a nova centralidade, a expansão vertical não cessou.
Para Lucrécia Ferrara (24), a cidade é um todo comunicativo, no qual a altura construída informa não apenas seus pontos de referência, mas equivale-se a prestígio e poder, “através das torres de concreto, aço ou vidro”, afirma, “comunica-se a liderança de uma nação e dá-se ao homem da cidade a ilusão de ser o emissor daquele poder que deve contaminar o planeta”. Houve uma época na história de São Paulo, explica Aziz Ab’Saber (25), em que todos queriam “espaço para erguer arranha-céus”. No início do século XXI, essa época de que fala Ab’Saber parece ter retornado, porque a cidade vive o que se chama boom imobiliário, incentivando a compra de apartamentos residenciais e salas comerciais, mas principalmente a construção de novos empreendimentos (26). Boom que impulsiona a verticalização e atende às expectativas de mercado, mas acaba por ignorar a capacidade de suporte do meio, principalmente nas questões relativas ao tráfego de veículos automotivos na Capital. Do ponto de vista econômico – e Sachs (27) já alertou para a miopia deste ponto de vista, que contempla apenas resultados em curto espaço de tempo –, esse crescimento é interpretado como benéfico à cidade e ao próprio País, como afirmam Salgado, Caetano e Napolitano (28): “o setor imobiliário brasileiro vive a maior euforia das últimas décadas. E isso pode mudar – para melhor – a economia”. Mesmo que isso signifique um prédio novo por dia na cidade, como indicam os autores. Claro que mesmo na esfera econômica, a verticalização tem suas implicações, como o caso de prédios que incomodam o turismoem Balneário Camburiú descrito por Luiza Bandeira (29): “os prédios altos da orla se tornaram os vilões do verão em um dos destinos mais procurados do litoral de Santa Catarina”, porque havia pouco terreno e a altura era a solução para construção e venda de apartamentos valiosos. Muito embora não haja praias em São Paulo, a capital sofre conseqüências com a verticalização excessiva.
Segundo Helena Cordeiro (30), a partir dos anos de 1960, São Paulo se desenvolve de maneira a se tornar uma “cidade mundial”, assumindo posto de núcleo econômico do País, concentrando bancos e indústrias. No início dos anos 1980, explica, o capital financeiro começa a se destacar e se tornar mais importante que o industrial. Esse postulado encontra ressonância no trabalho de Ana Fani Carlos (31), que explica que o início do século XXI é caracterizado por um movimento de desconcentração industrial na Capital, que acompanha a própria evolução econômica global: a transição do capital industrial para o capital financeiro. A autora explica que a industrialização permanece, mas fora das grandes metrópoles, que passam a acolher suas sedes administrativas e também instituições financeiras. Para Carlos (2009), essa passagem da industrialização para o capital financeiro inaugura um segundo movimento de urbanizaçãoem São Paulo. O primeiro foi aquele marcado pela industrialização da Capital. O segundo é esse que transfere as indústrias para outras locações fora da Metrópole, iniciando uma urbanização baseada no capital financeiro. Essa nova configuração muda o perfil da Cidade. Laura Naime (32) mostra que há dois principais argumentos para a verticalização da Capital: o primeiro é de que a Cidade já não tem mais como se expandir horizontalmente, e o segundo é que sua desindustrialização deixou muitos terrenos valiosos ocupados por construções sem uso. Assim, explica Naime (2008), substituem-se as fábricas que não produzem mais nada por empreendimentos verticais multiuso: residências, serviços e comércios. E uma substancial mudança é visível na paisagem: centenas de gruas e milhares de operários povoam as ruas da cidade e convertem terrenos em arranha-céus.
No entanto, há algumas implicações para essa verticalização, que são ocultadas pelo vislumbre econômico (33) que proporciona. Esse frenesi econômico abriga algumas contradições, como a real necessidade desses novos prédios (novamente: um por dia na Capital), que põem em risco a capacidade de suporte do meio, em especial as vias de circulação que, diariamente, tornam-se cada vez mais abarrotadas de veículos e, consequentemente, das implicações ambientais provocadas pelo excesso de automotores. Dados recentes do censo realizado pelo IBGE (34) indicam, em números, que a Capital possui 3.928.331 de domicílios particulares (até cinco famílias ou cinco pessoas sem grau de parentesco), sendo que deste total, 397.791 (10%) estão vagos ou fechados e 59.974 (2%) são de uso ocasional. E se consideramos os domicílios coletivos, do total de 5.117, estão vagos 2.299 (45%).
Outro fator interessante que ressalta o paradoxo na construção de novos prédios é uma dinâmica de possível estagnação populacional motivada, em partes, pelo êxodo que alguns bairros da Capital vem sofrendo nas últimas três décadas. “Nos anos 1980”, explica Jannuzzi (35), “dos 96 distritos paulistanos 41 apresentaram diminuição absoluta de população residente; entre 1996 e 2000, esse número aumentou para 56, ao incorporar outros distritos localizados em região menos central”. Esse esvaziamento populacional, explica o autor, apresenta um ritmo crescente e se dá em um movimento centrífugo, isto é, começa nas áreas centrais. Reis Filho (36), ao analisar o cenário metropolitano indica que, pelo menos nas duas primeiras décadas do século XXI, a população paulistana se estagna. Essa inferência é corroborada pela Fundação Sistema Estadual de Análises de Dados, SEADE (37). Segundo a SEADE, a população da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), em 2011, estará próxima a 19,85 milhões de habitantes. Em 2015, a previsão é de que cerca de 20,5 milhões de pessoas habitem a RMSP, número que em 2020 ultrapassará a casa dos 21,2 milhões de habitantes. A pesquisa do SEADE, portanto, mostra um crescimento de 6,8% em uma década. Se considerarmos que em 2002, a população da RMSP era de 18,2 milhões, a primeira década do século XXI apresentou um aumento de 9% na população. E na década anterior, a partir dos dados da pesquisa de Dedecca e Cunha (38), baseados no IBGE, a RMSP apresentou crescimento populacional acima de 12%, taxa semelhante à da década de 1980. Em 1970, por sua vez, o crescimento populacional foi acima de 15%. Portanto, o crescimento populacional, que justificaria a demanda por residências verticais se encontra em declínio, o que passa a ser contraditório com o que se vê na primeira década do século XXI: um prédio novo por dia.
Mas não só isso. Em adição à vacância e às previsões estatísticas de possível estagnação populacional, observa-se que muitas construções se encontram em verdadeiro processo degenerativo, que pode resultar em completo abandono e nenhuma esperança de abrigar novos moradores, comércio, serviços, cultura, entretenimento (etc.). David Lloyd (39) desaprova essa dinâmica, explicando que os prédios de São Paulo conferem à cidade um aspecto enigmático, mas que o desamparo ao seu patrimônio material acaba por apagar a imagem de cidade apaixonada. “Uma cidade verdadeiramente dedicada a este espírito”, afirma, “conservaria os prédios que marcaram sua prosperidade e riqueza no passado, tanto quanto conserva aqueles que são as marcas do presente”.
Lloyd (2007, s.p.), ainda, condena o movimento de construção de novas edificações (um por dia), que parecem prometer, com a tecnologia utilizada nos novos empreendimentos, os itens de lazer e serviços inclusos, uma espécie de paraíso na terra. Sob um prisma romântico, o autor escreve: “acho que levar mais recursos aos necessitados e menos aos construtores de arranha-céus fará este trabalho de maneira muito melhor – mas talvez eu esteja muito baixo e grudado ao chão para conseguir enxergar o grande cenário...”.
Há, ainda, um fator de extrema importância com relação à verticalização, que não diz respeito às questões econômicas ou ambientais, mas de identidade. Substituir moradias, lojas e/ou escritórios térreos por edifícios altera significativamente a paisagem local. Peirce Lewis (40) explica que toda paisagem construída tem importância e significado culturais. O autor faz uma analogia com os livros, e explica que as paisagens também podem ser lidas e decodificadas (claro que de uma maneira muito mais sutil, afirma). Dessa tese, Lewis (1979) deriva alguns axiomas para leitura de paisagens. Ao postular que as paisagens fornecem elementos indispensáveis para a compreensão da cultural local, Lewis (1979) diz que toda alteração significativa na paisagem implica em recíproca alteração significativa na cultura. Ademais, a convergência de paisagens, isto é, locações diferentes com paisagens em aproximação, indica convergência de culturas. O que a verticalização, a partir do mencionado boom imobiliário faz, no sentido de identidade e valores, é massificar e generalizar.
Eis, portanto, os paradoxos da verticalização: (i.) leva mais concreto e população a locais que já estão à beira (ou ultrapassaram) da capacidade de suporte de veículos, de serviços, de pessoas; (ii.) traz novas construções a uma cidade que oferta mais de 10% de vacância em seus edifícios, que se vêem em processo de deterioração, além do êxodo de São Paulo e as estatísticas que indicam possível estagnação populacional (41) e; (iii.) promove a alteração da paisagem e sua conseqüente percepção, dinâmica intrinsecamente relacionada com a identidade local. A próxima etapa é analisar esses paradoxos no recorte espacial desta pesquisa: a Mooca.
A devoração vertical da Mooca em três paradoxos
...a vida no bairro da Mooca sempre foi muito provinciana. Em certo sentido, é como se fosse uma cidade dentro de São Paulo, quem viveu por lá ou continua fiel as suas ruas estreitas e nostálgicas sabe bem o que é não querer de maneira alguma deixar as tradições morrerem. (42)
A Mooca é um bairro onde os sentidos se afloram, bastando ficar atento aos cheiros que marcam a vida em alguns pontos do espaço comum: cheiro de diesel das locomotivas, de carvão das padarias, do malte e cevada da Cervejaria Antártica, de fumo, de café torrado. Da mesma maneira para os sons: máquinas das gráficas e tecelagens, dos gritos da torcida no estádio da rua Javari, do trem correndo sobre os trilhos, do apito das fábricas, das pessoas conversando. (43)
Em linhas gerais, o conceito de devoração tem uma estrutura conceitual enraizada nos estudos antropológicos do imaginário (44), e vem lastreando minhas pesquisas há algum tempo (45). Devorar, sobre este baldrame teórico, pressupõe um rito de passagem que se impõe pela força à fragilidade do objeto a ser devorado. É, portanto, um processo violento que apaga pela brutalidade a imagem que se propõe a renovar.
Não é foco deste artigo narrar os processos históricos da Mooca – há inúmeros trabalhos com esse propósito, tais como o de Garcia (2009) (46) e o de Barbulho (2006) (47). Aqui, apenas enumeram-se e descrevem-se alguns fatos e dados que estabelecem a identidade do bairro, incluindo a imigração italiana e a manutenção dos costumes em festas conhecidas do público, como a tradicional Festa di San Gennaro, organizada há quatro décadas pela paróquia de mesmo nome e que faz parte do calendário oficial de eventos da Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo de São Paulo (48). O bairro também é famoso pelo seu time de futebol, o Clube Atlético Juventus (conhecido como O Moleque Travesso), mas principalmente pelo seu estádio na Rua Javari (estádio Conde Rodolfo Crespi).
Quem mora, transita, visita, ou até mesmo já ouviu falar sobre a Mooca, não escapa da divisa bairro tradicional. As camisetas que estampam a frase Mooca é Mooca revelam algo que é comum de se escutar, e até mesmo de dizer: quem é da Mooca, ama a Mooca e daqui não sai. O bairro já foi o mais populoso da cidade, em meados de 1940, explicam Duarte e Fontes (49), em um “adensamento peculiar, imbricando trabalho e moradia”. Os autores mostram que o bairro tem ocupação antiga por uma mistura de imigrantes italianos (região de Nápoles, principalmente), portugueses e espanhóis, e de diversas locações da Europa centro-oriental. A tradição industrial do bairro imperou durante a industrialização da cidade São Paulo do século XX, com predisposição para tecelagem, metalurgia, alimentos e confecções. Verônica Pereira (50) lembra que a Mooca (junto com o Brás) foi berço da Greve Geral de 1917: um marco histórico e simbólico para toda classe operária.
O bairro outrora operário, que abrigava inúmeras indústrias de grande porte, no entanto, coaduna com o processo de desconcentração industrial da Capital, indicado por Carlos (51). O que se observa na Mooca, é que essa desconcentração gerou vazios: inúmeros e enormes galpões industriais sem uso. Sánchez (52) já alertou para os perigos sócio-econômicos e ambientais que o abandono do patrimônio material pode gerar para uma cidade: espaços topofóbicos, ótimos para o acumulo de lixo e pestes urbanas (ratos, baratas etc.), esconderijos, dentre outros . Assim, ciente do abandono das grandes indústrias e dos riscos que essas construções oferecem se deixadas vazias, há que se pensar em revitalizar esse patrimônio e propor novos usos. Na leitura de Meneguello et all (53), as indústrias marcam a história e a evolução de São Paulo, oferecendo-lhe a possibilidade de ascensão ao maior núcleo urbano de todo hemisfério sul. E mesmo que agora se viva uma nova etapa, que é a desindustrialização conforme apontam Carlos (2009) (54) e Naime (2008) (55), não há justificativas para a devoração dos pilares que sustentam a memória de sua evolução e, junto com os pilares, sua própria identidade.
A Mooca, um dos locais mais industrializados de São Paulo no século passado, portanto, encontra-se prenhe de oportunidades de revigorar seu próprio espaço, já que abriga grande número de galpões e edifícios vazios. Na leitura de que faz Esterzilda Azevedo (56), o patrimônio industrial deve ser considerado como parte integrante do patrimônio cultural, porque são “vestígios” de uma época e de suas relações sociais. Esse patrimônio representa, ainda segundo Azevedo (57), “o testemunho de atividades que tiveram e que ainda têm profundas conseqüências históricas”, e o que justifica sua salvaguarda é o valor decorrente dessa história. E ainda que a Mooca carregue em seu bojo grande quantidade de patrimônio material, inclusive vago e em degradação, não há, em nível nacional, nenhum bem tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), conforme seu Livro de Tombos (58), nem em nível estadual, conforme listagem eletrônica de bens tombados, disponível no site do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, ou CONDEPHAAT (59). Em nível municipal, conforme resolução no. 14/2007 do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo, ou CONPRESP (60), diversos galpões paralelos à linha de trem, sitiados na Rua Borges de Figueiredo tem sua salvaguarda garantida, pelo menosem lei. O que se observa na Mooca, é a invasão da iniciativa privada, seja para preservar e revitalizar o patrimônio, ou para perverter e destruí-los em nome dos valiosos terrenos. Meneguello et all (61) se manifestam sobre o bairro:
A permanência dessas estruturas no tecido urbano atual permite o resgate dessas relações, bem como a compreensão de sua representatividade no contexto das transformações urbanas de toda a cidade. Com a evasão das grandes indústrias a partir da década de 1960, o bairro da Mooca foi uma das regiões da cidade mais atingidas. O patrimônio urbano de origem industrial existente no bairro – em grande parte ainda preservado em suas características compositivas originais – vem sofrendo constante ameaça de investidores imobiliários que encontram nesses amplos espaços a possibilidade para empreendimentos lucrativos como hipermercados e torres residenciais.
Entretanto, as antigas indústrias sem funcionalidade, não precisam necessariamente ceder ao progresso vertical. Como o caso de Barcelona (62), onde o bairro de Poblenou foi, após apelos populares, revitalizado e ao mesmo tempo preservado. As funções são outras, porque assim como São Paulo, Barcelona também viu suas indústrias emigrarem para outras locações. E mesmo com a necessidade de se repaginar os galpões para atender às novas funções, as fachadas foram mantidas com o propósito de salvaguarda da memória e da identidade. Na redação de Dias (63): “um galpão onde se branqueava tecido é hoje a biblioteca do bairro. Uma fábrica têxtil deu lugar ao centro cívico. Em outra, a Universidade de Barcelona instalou um dos seus campus [sic]”. O que se percebe nessas ações de revitalização é a preocupação com a funcionalidade dada ao patrimônio, que é de caráter sócio-cultural e de utilidade pública.
Exemplo de revitalização do patrimônio da Mooca: a antiga fábrica Alpargatas, que produzia lonas, calçados e, na década de 1960 passa produzir as conhecidas sandálias Havaianas, cujo prédio hoje abriga uma universidade privada, e o cotonifício Crespi, hoje um hipermercado de uma rede internacional, que manteve e restaurou parte de sua fachada, conjugando memória com modernização e funcionalidade. Claro que a revitalização não saiu exatamente como desejado na literatura (64), com escritórios flexíveis nos três andares, controle de iluminação natural, manutenção completa da fachada e a criação de um espaço público livre no térreo, com lojas, restaurantes, um auditório e uma praça. O que se viu em 2005, quando da inauguração do hipermercado, foi um único comércio ocupando os mais de 26 mil metros quadrados da extinta fábrica e, no lugar da praça, um grande estacionamento. Essas informações, divulgadas pelo departamento de Relações Públicas da controladora do hipermercado (Companhia Brasileira de Distribuição, 2005), explica que o patrimônio não era tombado, mesmo tendo fechado suas portas no início da década de 1990 – quinze anos antes da inauguração da loja. Em síntese, a revitalização não atingiu o ideal de salvaguarda, recebeu críticas acadêmicas (65), mas conferiu nova funcionalidade ao patrimônio, gerando empregos e ocupando um grande espaço que, se deixado vazio e em degradação, traria ao bairro muitas implicações de ordem ecosófica (66), ou seja, nos registros ambiental, relacional e subjetivo.
Por outro lado, a cervejaria Companhia Antártica Paulista , que encerrou suas atividades industriais no final do século passado e abandonou seu prédio há mais de uma década, continua fechada, acumulando bolor (já visível na fachada) e degradando-se aos poucos. Recentemente, em 2008, o patrimônio foi utilizado como cenário de algumas cenas de uma novela exibida no horário nobre em um dos mais importantes canais televisivos do país, mas o objetivo era somente o entretenimento e, filmadas as cenas, o abandono e a degradação voltaram. Assim, longe dos exemplos da fábrica de Alpargatas e do Cotonifício Crespi que, embora revitalizados sob a ordem do capital, tiveram suas construções reformadas e renovadas mantendo sua fachada original com novas funções para o patrimônio, a cervejaria continua sofrendo os desgastes provocados pelo sol, pelo vento e pelas chuvas.
Sob o ponto de vista que pretende a salvaguarda do patrimônio, que compreende os prejuízos sociais de edifícios vazios e os danos ambientais de novas construções de concreto, afirma-se que a Cervejaria não pode mais restar à espera de um futuro talvez catastrófico, semelhante à morte da antiga fábrica de açúcar União. Luis Gerbelli (67) explica que os galpões foram demolidos antes de qualquer discussão sobre um possível tombamento: teria a construtora sido rápida, ou a burocracia para salvaguarda lenta demais? Questão importante, porque há um processo de tombamento da Cervejaria aberto junto ao CONPRESP desde 2007 (68), e a exemplo da Refinaria, se não levado a cabo em tempo hábil, pode tornar-se apenas mais uma chaminé cercada de modernização.
A referida fábrica ocupava um terreno de aproximadamente trinta e três mil meros quadrados, que sucumbiu à desconcentração industrial e, em 2009 foi demolido para dar lugar ao frenesi da verticalização: no lugar da fábrica, surgirá um complexo com quase mil unidades autônomas, distribuídas entre apartamentos de um dormitório a luxuosas moradias com quatro suítes, além de torres comerciais para lojas e escritórios (69). O terreno vazio, no entanto, e após mais de dois anos de discussões no CONPRESP (70), preservou uma única chaminé, com a pretensão de sustentar a memória local. A propaganda é perfeita, afinal, quem seria contra o desenvolvimento que conjuga com a memória local?
Na passarela de contradições urbanas, econômicas e políticas, um novo shopping center surgirá na Mooca em uma nova construção (71), no terreno que abrigou, no passado, a fábrica da Ford. Há, ainda, o SESC Belenzinho que, inaugurado em 2010, ostenta um novo edifício. São dois novos espaços, cerca de cinco quilômetros distantes das abandonadas Antártica e União, que poderiam ter revitalizado e dado nova funcionalidade aos patrimônios, promovendo, na visão de Meneguello (72) que compartilho, melhor qualidade de vida da população do bairro, que convive, dentre outros, com galpões abandonados e deteriorados, tráfico pesado de veículos automotivos e perda da memória.
Paradoxo primeiro
A aposta, daqui a alguns anos, é de que não haverá mais casas no bairro. (73)
O primeiro paradoxo da verticalização é a degradação ambiental originada da superação da capacidade de suporte do meio. David Drew (74), no início dos anos 1980, já indicava alguns efeitos danosos do ambiente urbano: chuva ácida, ilhas de calor, smog (nevoeiro de fumaça), mariposa cinzenta (na Inglaterra, como exemplo da mutação ambiental), impermeabilidade do solo, etc. Com relação à verticalização da Mooca, quem vive no local, sabe que no verão, época de fortes chuvas, a Rua Borges de Figueiredo alaga e torna impossível o tráfego entre a Rua da Mooca e a Rua Sarapui. Os efeitos das chuvas são visíveis no terreno que abrigará, em meados da década de 2010, o mega empreendimento. Para tentar se esquivar das garagens subterrâneas cheias de água no verão, novas obras de infra-estrutura deverão ser realizadas. E possivelmente essas obras venham a cabo, mesmo que sejam danosas ao meio-ambiente.
Claro que não só isso. É possível pensar no efeito que o empreendimento terá sobre o trânsito local: mais de mil unidades autônomas implica em algo próximo a mil veículos a mais, por dia, circulando pelas Ruas Borges de Figueiredo, Guaratinguetá e João Antônio de Oliveira. Essas ruas são estreitas e de mão única. Novamente apelando ao habitar cotidiano do local, em horários de pico de trânsito, o motorista que pretende chegar à Rua da Mooca ou à Avenida Radial Leste – as duas únicas vias para quem parte de carro do bairro ao Centro –, chega a gastar aproximadamente 10 minutos para conseguir percorrer os cerca de 500 metrosda Rua João Antônio de Oliveira – que há alguns anos viu inaugurar um condomínio residencial com quatro edifícios com mais de 20 andares cada, e cerca de quatro unidades autônomas por andar – entre a Rua Guaratinguetá e a Rua da Mooca. Assim, a antiga fábrica de açúcar União, um dos símbolos da industrialização não apenas local, mas de toda Capital, que poderia ser recuperada para assumir novas funcionalidades e ofertar mais áreas verdes aos moradores do bairro, cedeu, e dará lugar a mais um conjunto de edifícios. A esse movimento, que banaliza a paisagem por reproduzir apenas mais do mesmo, o geógrafo Francesc Muñoz (75) deu o nome de urbanalização. O que a transformação do bairro vem indicando, é que ao banalizar sua paisagem, a provinciana Mooca tende a se tornar apenas mais um bairro.
Outras construções antigas do bairro, em adição aos já referidos Cotonifício e Alpargatas, também viram sua fachada restaurada para novas funcionalidades. Ainda que renovadas para o uso de grandes corporações mercantis, essas obras de restauro são muito mais benéficas para o ambiente do que galpões vazios e enormes empreendimentos verticais, que consomem as vias de circulação e a paisagem, além de exercer funções sociais, como a geração de empregos.
Finalmente, há ainda mais um elemento que escancara esse movimento vertical que não respeita o ambiente: na Rua João Antônio de Oliveira, onde já se ergueram meia dúzia de grandes torres residenciais e pretende-se erguer outras quatro, com mais de mil unidades autônomas, encontram-se dois edifícios inacabados, aos quais chamo aqui de esqueletos. E já foi discutido os efeitos perversos de construções vazias para a qualidade de vida local. E pode-se, ainda, considerar o impacto ambiental já causado pela tentativa de erguer o edifício, e os investimentos já realizados. A paisagem, por sua vez, exibe construções de baixo gabarito, com um ou dois andares, que conjugam residências, escritórios e comércio, e até mesmo antigos galpões em deterioração, adjacentes aos mencionados esqueletos e aos novos e futuros edifícios. A visão econômica, no entanto, prefere erguer novas torres de concreto, a concluir os que estão pela metade, inabitados e sem função, ou revitalizar os que estão se degradando.
Paradoxo segundo
Após as discussões sobre a despreocupação ambiental do boom vertical do século XXI, discute-se agora o excesso de moradias versus a taxa de vacância+possível estagnação populacional. Em matéria para a revista Veja, Sara Duarte (76) mostra a transformação (radical) da paisagem do bairro, outrora notório por instalar grandes indústrias e galpões de armazenagem de produtos que circulavam pelo trem entre o porto de Santos e Jundiaí, no interior do Estado. O que ressalta aos olhos, explica, é a verticalização. “Quem passa pela Avenida Cassandoca e pelas ruas Taquari, Sapucaia e Araiana [sic, o nome da rua é Arinaia], próximas à Radial Leste e à Estação Bresser-Mooca do metrô”, afirma Duarte (77), “depara com mais de duas dezenas de edifícios residenciais sendo construídos ao mesmo tempo. Nos últimos quatro anos, [...], o bairro recebeu 38 lançamentos imobiliários, com um total de 3510 apartamentos”. E a conclusão dessa matéria enaltece, novamente, as palavras-chave valorização econômica.
Sobre essa celebração da especulação imobiliária e sua comemoração pela valorização do metro quadrado no bairro, lembro da fala de Ignacy Sachs (78), para quem a visão econômica é míope, no sentido que não consegue ver nada além de alguns anos à frente. Por isso, se em um espaço de dois ou três anos houver a possibilidade de destruir as antigas indústrias, em detrimento do suporte do meio e da memória, e erguer um ou mais prédios por dia, que tragam as dinamites, as escavadeiras, as gruas, os engenheiros e os operários. Mesmo que isso implique em novos imóveis vagos ou de ocupação temporária na próxima década, já que as estatísticas indicam possível estagnação populacional na Capital nas próximas décadas, e até uma provável redução de moradores nos bairros centrais.
Mesmo quando se observa esse paradoxo, como indicado por Michele Loureiro (79), não se recua a verticalização: mantém-se. Ademais, explica, procuram-se novos espaços para se fazer valer o investimento com o terreno. Assim, Loureiro (80) explica: “o número de lançamentos na metrópole deve se estabilizar nos próximos anos”, e estabilizar não implica em reduzir, mas manter a elevação constante de aproximadamente 25 mil novos apartamentos na cidade por ano. Não só isso, mas a estabilizaçãoem São Paulo, explica Loureiro (81), implica em verticalização em suas áreas periféricas. E se a história (cronológica) ensina algo, é que a verticalização, no longo prazo, pode resultar em vacância.
Paradoxo terceiro
Com a demolição da antiga fábrica – justificada [...] pela suposta ausência de valor e representatividade histórica –, a história emerge em seu lugar em forma de imagem e de mercadoria. (82)
Esse terceiro efeito talvez seja o mais perverso em toda essa dinâmica vertical. Trata-se do axioma primeiro de leitura de paisagens de Lewis (83) que explica que a cultura é e está na paisagem. Assistir a transformação da paisagem do tradicional bairro da Mooca em mais um bairro vertical, equivale a assistir a transformação da cultura local. Assim, o bairro que carrega o estigma de tradicional, lastreado por uma imagética de relações afetivas entre seus moradores, está convergindo em um espaço estereotipado pela individualização urbana. Erguer um edifício no lugar de antigas indústrias e das casas de seus moradores ao redor é um ato que remove suas pedras (84) e, com elas, sua memória. E sem memória, nenhum espaço é percebido e interpretado como lugar, na conceituação de Tuan (85), que é um espaço conhecido e dotado de valor.
Disse Kevin Lynch (86) que a cidade se constitui na e pela percepção de seus habitantes e usuários. E há algo interessante nas macro-cidades como São Paulo, onde não se pode conhecer toda a cidade, somente fragmentos específicos, principalmente ligados ao cotidiano e aos afetos. E é nessa direção que surge Morin (87), afirmando que a cidade “tende a cada vez mais ser a aglomeração, e o bairro o habitat”. E o bairro, explica Bosi (88), não se define apenas pelos seus aspectos morfológico e arquitetônico, mas pela sua biografia.
Bosi (89) prossegue sua tese e explica que as histórias de vida “muitas vezes decorrem em sobrados da pequena classe média, que não merecem tombamento, porque lá não morou barão algum”, mas constituíam lares, que abrigavam a sala de estar e as visitas e/ou reuniões em família, a mesa da cozinha e sua toalha de crochê, onde se alimentavam, os quartos que possibilitavam inúmeros sonhos, e assim por diante. A Mooca, conhecida por ser um bairro tradicional, familiar, afetivo, é repleta desses sobrados não-tombados de que fala Bosi (2003), que contam inúmeras histórias de vida. Ainda que alguns sobrados sejam reformados e ganhem cores, a especulação imobiliária, por sua vez, vem devorando essas memórias e a paisagem vertical, cada vez mais, encobre o pequeno sobrado, ora de forma sutil, ora de forma total.
Em sua pesquisa com histórias de vida, Bosi (90) pode perceber que as vidas das pessoas acompanham a transformação do seu habitat (o bairro), e que a lembrança-pura (conceito Bergsoniano que encerra as memórias afetivas) está intimamente ligada com o espaço habitado e suas transformações: seja o arbusto que cresce e vira florida árvore, ou o terreno baldio que dá lugar a casa de uma nova família, os muros que vão ganhando novas cores, e assim por diante. Claro que há um entretanto nessa bela relação entre as histórias de vida e o espaço transformado, que Bosi (2003) nos alerta:
A fisionomia amadurece, as arestas se arredondam, as retas se abrandam e o bairro acompanha o ritmo da respiração e da vida dos seus moradores. Suas histórias se misturam e nós começamos a enxergar nas ruas o que nunca víramos, mas nos contaram. Quando a fisionomia do bairro se humaniza pode continuar se transformando e vivendo ou pode ser golpeada de morte. (91)
E quem pode golpear a Mooca até a sua morte, que na conceituação de leituras de paisagens significaria sua convergência (92), isto é, mais um bairro, sem memória e sem as suas conexões afetivas, é a devoração vertical, que destrói as indústrias em deterioração e sem função, mas também as velhas casas. Novamente recorro a Bosi (2003), quem explica essa dinâmica:
Vêm as imobiliárias e compram uma casa, depois outra, o quarteirão. Os vizinhos se reúnem, querem resistir: os edifícios altos esmagam sua moradia, roubam-lhes o sol, a luz, o horizonte. As quadras são arrasadas, os velhos acuados. Para onde vão? O paulistano tornou-se um migrante urbano, empurrado pela especulação imobiliária de um lugar para outro. (93)
A fábrica de açúcar sucumbiu à especulação imobiliária. Outros galpões abandonados na mesma via, a Rua Borges de Figueiredo, correm perigo (94). Outros quarteirões, explica a paisagem, já deram lugar a novos edifícios. Em palestra proferida por conta da celebração dos 450 anos de São Paulo, Aziz Ab’Saber (95), ao falar do tombamento do Theatro São Pedro (São Paulo, 1984) (96), na esquina da Rua Barra Funda com a Avenida Angélica, na Santa Cecilia, conta que foi uma de suas maiores lutas, enquanto membro do CONDEPHAAT, porque “os especuladores eram, como sempre, muito fortes”. A história de 1984 volta a se repetir, agora, na Mooca.
Novamente citando o trabalho de Meneguello et all (97) sobre a Mooca, os autores se manifestam sobre a salvaguarda do patrimônio do bairro:
A defesa do Patrimônio Histórico não é saudosismo ou nostalgia, antes implica um reconhecimento das origens da formação e ocupação de nossa cidade, possibilitando a manutenção de monumentos urbanos representativos para toda uma população e a atribuição de um novo significado a determinados espaços na atual trama urbana, num sentido de inserção e continuidade. Essa defesa implica, ainda, explorar o relacionamento entre a memória, o território e seus habitantes de maneira a criar laços de pertencimento, criar maneiras de usar e experimentar o meio. Caminhar por uma cidade é viver a experiência de suas ruas, praças e moradores, ato que nos permite apreender a cidade enquanto construção subjetiva, enquanto feito sócio-cultural.
A paisagem do bairro, no entanto, ostenta a degradação de sua origem e algumas pretensas preservações da memória. Exemplo: a mencionada chaminé que resta da antiga fábrica União, em um processo que repete o que foi feito com fábricas da Lapa (98), mas há outras tentativas de mascarar a salvaguarda da memória e do patrimônio, a partir daquilo que chamo de pseudo-preservação. Um destes exemplos é o já mencionado esqueleto: um antigo galpão foi sacrificado em nome da verticalização; da construção original: apenas a parede frontal restou.
E assim, em uma das inúmeras caminhadas pelo bairro, com o propósito de reconhecimento, e de flagrar a paisagem em fotografias, fui abordado por uma moradora: uma senhora de setentas anos de idade, nascida e criada no Bairro, queria saber qual era meu interesse em “fotografar porcarias” (sic), se referindo aos prédios e lojas da rua. Quando interrogada o porquê do predicado porcarias, ela lamentou as transformações do bairro, principalmente da aglomeração de pessoas, e que agora ninguém mais conversa.
Em outro percurso, e abrigado abaixo de um toldo por conta das fortes chuvas, participei de uma conversa que se iniciou entre dois rapazes que também fugiam da água, que não apenas jorravam do céu, mas que transformavam a rua em um rio temporário. Estava na Rua Guaratinguetá, a uma quadra da falecida fábrica União e, entre um relâmpago e outro, tive o privilégio de ouvir a confissão de outro morador, nascido e crescido na Mooca. Ele era um pouco mais jovem que nossa primeira interlocutora, mas também lamentava a transformação das ruas onde jogava bola quando garoto. Pude, ainda, ler nas entrelinhas do tom jocoso com que desdenhava o futuro empreendimento que ocupará o terreno que ostenta vulgarmente a chaminé da extinta fábrica.
E assim, as caminhadas interessadas foram denunciando a banalização e a convergência da paisagem, ambas flagradas pelas imagens capturadas em fotografia. As conversas, por sua vez, acusavam o efeito perverso da nova paisagem e, no desdém, na tristeza e nos predicados que mal-dizem a transformação do bairro, condenam o pouco caso com sua memória, identidade e o excessivo progresso, que devora sua afetividade provinciana.
Comentários finais
... os elementos memoráveis da cidade não nos são dados, ao contrário, supõe serem criados e a cidade memorável precisa ser construída. As diferenças dessa construção dependem do modo como entendemos aquela organização do tempo e, sobretudo, a aprendizagem que ela promove. Apreende-se a cidade e aprende-se com ela uma diferença decorrente do modo como sua memória é construída. (99)
Observa-se, no entanto, especialmente na Mooca, um processo de verticalização intenso com a construção de condomínios de classe média e média alta associada à destruição de uma parte do conjunto fabril, sem a avaliação de sua importância (ou não) histórica. (100)
Estou a caminho de uma conclusão preliminar. É um momento necessário na pesquisa acadêmica, porque é o ponto no qual o pesquisador pode não apenas tomar fôlego antes de se debruçar novamente sobre suas inquietações, mas porque permite o compartilhar das idéias. E é transitório, porque o conhecimento nunca está pronto; sempre restaram lacunas e pontos de vistas opostos.
Aqui, discutiu-se a verticalização edilícia em teoria e a cidade de São Paulo foi objeto, recortado até à especificidade de um bairro: a Mooca. Escolhido por sua representatividade, pelo estigma de bairro afetivo e provinciano, porque na época da dominação industrial de São Paulo tornou-se um de seus portos-seguros e, ainda, porque no recente boom imobiliário vem trocando seus referenciais – que são as antigas indústrias – por altos edifícios residenciais e até para uso terciário.
A fala de Lucrécia Ferrara (101), em epígrafe, contém elementos contundes para a compreensão do espaço de uma cidade. A paisagem construída, lembra a autora, denota sua organização no tempo e no espaço. Há, ainda, uma poética (102) nesse espaço construído, que enraíza afetividade e valores que não apenas o transforma em lugar pela relação com a ambiência, mas também nas esferas das relações de alteridade e subjetividade. Toda essa poética, no entanto, tende a se esvaziar com a devoração urbana pela verticalização.
Neste ensaio, a verticalização excessiva foi abordada em três paradoxos complementares. Primeiro, destacando a fragilidade ambiental urbana, e a sua já desgastada capacidade de resiliência por abrigar tantas construções: pessoas e veículos, com seus rios já canalizados e até submergidos por avenidas. O ambiente é cada vez mais ameaçado com novas construções: um novo prédio por dia compromete a qualidade ambiental paulistana. A partir de um exemplo recente, é possível observar os danos causados pelas chuvas de verão nos arredores de um falecido galpão industrial na Mooca.
Em seguida, apontou-se o paradoxo que há em se projetar e construir novos edifícios residenciais em uma cidade que tem significativa taxa de vacância e, ao contrário de décadas pretéritas, as projeções estatísticas indicam possível estagnação populacional na Capital, nas próximas décadas. O boom imobiliário retomado na Capital, em 2007, revela mais uma vez a miopia da valorização puramente econômica. Enquanto as noticias sobre o assunto revelam seus benefícios atuais de geração de emprego e da valorização do metro quadrado, há uma tendência que mais prédios restarão vazios ou, os velhos serão trocados pelos novos e esses sim, a exemplo do Centro Velho de São Paulo, confinados ao abandono.
Finalmente, a partir do axioma de alteração de paisagens de Lewis (103), inferiu-se que a destruição dos paradigmáticos galpões industriais, que tiveram parte intrínseca na constituição do bairro enquanto provinciano e tradicional, para a construção de edifícios, não apenas urbanaliza (104) sua paisagem pela convergência (no sentido de Lewis, 1979), mas que se traduz em devoração da própria identidade local.
Os aspectos aqui discutidos, que aqui chamei de paradoxos, foram tecidos a partir de um olhar ambiental, lastreado pela interpretação da paisagem, mas sem a presunção de esgotar o assunto. Fritjof Capra (105), ao discutir a complexidade do conhecimento científico, nos lembra que “independentemente de quantas conexões levamos em conta na nossa descrição científica de um fenômeno, seremos sempre forçados a deixar outras de fora”. Aqui, reconheço que pelo menos duas importantes lacunas foram deixadas de lado. A primeira diz respeito ao aspecto econômico, e muito embora essa dimensão tenha sido alvo de críticas em seus aspectos míope e de devoração, há diversos estudos que caminham na sua defesa. São estudos como o de Kureski et all (106), que mostram como a construção civil movimenta o desenvolvimento econômico, gerando empregos e renda: elementos necessários para o modelo de sociedade contemporâneo.
A segunda lacuna é a esfera jurídica, cujos instrumentos legais podem cercear ou autorizar ações que transformam a cidade. Claro que foram mencionados alguns processos de tombamento referentes ao recorte espacial da pesquisa. Mas outros aspectos importantes não tiveram espaço nas discussões, como o Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV) incluído no Estatuto da Cidade (107). A referida lei expressa que o EIV não substitui o EIA (Estudo de Impacto Ambiental), mas se trata de um instrumento jurídico necessário para liberação do alvará, quando da execução (construção, ampliação ou reforma,) de empreendimentos de grande porte, e suas alterações possíveis quanto ao adensamento de tráfego, da paisagem urbana, do patrimônio (natural e construído), do uso e ocupação do solo, densidade populacional, ventilação e iluminação (108). Vê-se que a lei, grosso modo, expressa a necessidade de se pensar nos aspectos (paradoxais) discutidos aqui especificamente sobre a Mooca, isto é, a capacidade de suporte do meio, a paisagem, dentre outros. No entanto, dadas as alterações visíveis e previstas na Mooca, parece que o EIV tem sido pouco aplicado, ou preterido.
Ainda que já tenha me aventurado pelos meandros do ordenamento jurídico (109), não o fiz sem a colaboração, o diálogo e o aporte de um pesquisador ancorado no direito. A lacuna presente, portanto, não diz respeito à ausência da dimensão legislativa nas argumentações, mas da necessidade de um aprofundamento pertinente sobre as questões que suscita, tornando-se oportunidade de pesquisa.
Ao fim e ao cabo, tenho ciência e consciência de que este texto é datado: escrito no primeiro quarto de 2011, ele deverá prescrever em menos de uma década, quando o novo shopping já estiver ostentando sua divisa de consumismo, quando (talvez) os esqueletos tenham sido encarnados, e quando poucos se lembrarão dos antigos galpões da fábrica União – talvez a chaminé preservada e seu entorno venha até ser admirado pelas futuras gerações, que não se recordarão de um passado operário e provinciano. É provável, como nos ensina Eclea Bosi (110), que golpeado até a morte, o bairro revisitado passe a viver sem sua memória: é a urbanalização, na conceituação de Muñoz (111).
A esperança é que, muito embora tecido com seu prazo de validade determinado, seus conteúdos acadêmicos e afetivos se espraiem: para o que ainda sobrevive na Mooca e em outros locai paulistanos, e também, para qualquer parte do globo terrestre que precise de salvaguarda de seu patrimônio e, consequentemente, identidade e memória. Estamos diante de um boom econômico que, para o bem da própria economia local e nacional, não pode cessar. Mas vale a pena investir nossa história de vida nesse jogo?
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50
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53
MENEGUELLO, C.; BERTINI, G.; RUFINONI, M.; VALENTIN, F. Op. Cit.
54
CARLOS, A. F. A. Op. Cit.
55
NAIME, L. Op. Cit.
56
AZEVEDO, E. B. “Patrimônio industrial no Brasil”. In: Arq.urb, São Paulo, no. 3, p. 11-22, jan./jun. 2010, p. 18.
57
AZEVEDO, E. B. Op. Cit., p. 19.
58
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60
SÃO PAULO. Resolução no. 14/2007. São Paulo: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo, 2007a. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/09_APT_Companhia_Antarctica_Paulista_1196855327.pdf>, acesso em 10 de fevereiro de 2011.
61
MENEGUELLO, C.; BERTINI, G.; RUFINONI, M.; VALENTIN, F. Op. Cit..
62
DIAS, R. “Barcelona dá novo uso a antiga área industrial”. In: Folha de São Paulo, caderno Cotidiano1, p. c3, domingo, 23 de janeiro de 2011.
63
DIAS, R. Op. Cit.
64
RAMOS, R. U. “Requalificação de edifício industrial, para implantação de escritórios na Mooca”. In: Revista URBS (Viva o Centro), São Paulo, ano. V, no. 31, online, jul./ago. 2003. Disponível em <http://www.vivaocentro.org.br/publicacoes/urbs/urbs31.htm#urbanismonacional>, acesso em 31 de janeiro de 2011.
65
PEREIRA, V. S. Op. Cit.
66
cf. GUATTARI, F. Op. Cit.
67
GERBELLI, L. G. “Mooca: chaminé histórica é tombada”. In: Jornal da Tarde, online, 26 de agosto de 2010a. Disponível em <http://blogs.estadao.com.br/jt-cidades/mooca-chamine-historica-tombada/>, acesso em 30 de janeiro de 2011.
68
SÃO PAULO. Resolução no. 09/2007. São Paulo: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo, 2007b. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/09_APT_Companhia_Antarctica_Paulista_1196855327.pdf>, acesso em 10 de fevereiro de 2011.
69
Correa, V. Op. Cit.
70
SÃO PAULO. Resolução no. 05/2010. São Paulo: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo, 2010b. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/8b69c_14_T_Galpoes_da_Mooca.pdf>, acesso em 10 de fevereiro de 2011.
71
ZANCHETTA, D. “A primeira macrometrópole do hemisfério sul”. In: Estadao.com.br, domingo, 3 de agosto de 2008. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/megacidades/sp_mancha.shtm>, acesso em 27 de dezembro de 2010;
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MENEGUELLO, C. “Valor do patrimônio ainda é subestimado”. In: Folha de São Paulo, caderno cotidiano 1, p. c2, domingo, 23 de janeiro de 2011.
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DREW, D. Processos interativos homem-meio ambiente. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
75
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77
DUARTE, S. Op. Cit., p.1.
78
SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2000.
79
LOUREIRO, M. “São Paulo terá mais 520 condomínios residenciais até 2012”. In: Brasil econômico, Rio de Janeiro, p. 26-27, terça-feira, 8 de fevereiro de 2011.
80
LOUREIRO, M. Op. Cit., p. 26.
81
Idem, ibidem.
82
PEREIRA, V. S. Op. Cit., p. 19.
83
LEWIS, PEIRCE, F. Op. Cit.
84
BOSI, E. “Memórias da cidade: lembranças paulistanas”. In: Estudos avançados, São Paulo, vol. 17, no. 47, p. 198-211, jan./abril, 2003.
85
TUAN, Y. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1983.
86
LYNCH, K. Op. Cit.
87
MORIN, E. Cultura de massas no século XX: o espírito do tempo II: necrose. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1977.
88
BOSI, E. Op. Cit.
89
BOSI, E. Op. Cit., p. 204.
90
BOSI, E. Op. Cit.
91
BOSI, E. Op. Cit., p. 204.
92
LEWIS, PEIRCE, F. Op. Cit.
93
BOSI, E. Op. Cit., p. 206
94
Correa, V. Op. Cit.
95
AB’SABER, A. Op. Cit., p. 23
96
SÃO PAULO. Resolução SC 19/1984. São Paulo: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo, 1984. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/fb435_RES.%20SC%20N%2019%20-%20Teatro%20Sao%20Pedro.pdf>, acesso em 10 de fevereiro de 2011.
97
MENEGUELLO, C.; BERTINI, G.; RUFINONI, M.; VALENTIN, F. Op. Cit..
98
Correa, V. Op. Cit.;
MENEGUELLO, C.; FONTES, P.; SILVA, L. “Patrimônio industrial e especulação imobiliária: o caso da Lapa, São Paulo”. In: Minha Cidade, São Paulo, 09.107, Vitruvius, jun. 2009. Disponível em <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/09.107/1847>. Acesso em 21 de fevereiro de 2011.
99
FERRARA, L. D. Op. Cit., p. 147
100
PEREIRA, V. S. Op. Cit., p. 7.
101
FERRARA, L. D. Op. Cit.
102
BACHELARD, G. A poética do espaço. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
103
LEWIS, PEIRCE, F. Op. Cit..
104
MUÑOZ, F. “Urbanalización: paisajes comunes, lugares globales”. In: VI Foro de participación juvenil en el diseño y evaluación de las políticas de vivienda. Pamplona, España: Documentación do VI Foro..., 2009. Disponível em: < http://www.cje.org/C8/C4/Documentaci%C3%B3n%20VI%20Foro/Document%20Library/F.MU%C3%91OZ.URBANALIZACI%C3%93N%28RESUMEN.libro%29.pdf>. Acesso: 10 jan. 2011.
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107
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108
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110
BOSI, E. Op. Cit.
111
MUÑOZ, F. Op. Cit.
bibliografia complementar
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COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO. A loja funcionará no prédio do Cotonifício. Grupo Pão de Açúcar: Departamento de Imprensa e RP, 2005. Disponível em <http://www.grupopaodeacucar.com.br/imprensa/default_area.asp?idNoticia=4297&cod_area=3>, acesso em 30 de janeiro de 2011.
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SOMEKH, N. “Quando o céu era o limite”. In: MEYER, R. M. P. (org.) Memória técnica do encontro São Paulo Centro XXI: entre história e projeto. São Paulo: Associação Viva o Centro, 1994, p. 37.
sobre o autor
Ivan Fortunato é doutorando em Geografia pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP.