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research

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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
A Unifesp está construindo um novo campus destinado ao Instituto das Cidades, cujo projeto político pedagógico é baseado no aprendizado por problemas e no reconhecimento das dinâmicas e dos conflitos urbanos reais, em seus diversos contextos e escalas.

english
The Unifesp is building a new campus for its Institute of Cities, whose political pedagogical project is based on problem learning and also on the recognition of the real urban dynamics and conflicts in its various contexts and scales.

español
La Unifesp está construyendo un nuevo campus destinado al Instituto de las Ciudades, cuyo proyecto político pedagógico se basa en el aprendizaje por problemas e el reconocimiento de las dinámicas y conflictos urbanos reales, en sus contextos y escalas.


how to quote

ARANTES, Pedro Fiori; SANTOS JÚNIOR, Wilson Ribeiro dos; LEITE, Maria Amélia Devitte Ferreira D’Azevedo. Um projeto de práticas pedagógicas transformadoras. A formação do arquiteto e urbanista no Instituto das Cidades da Unifesp na Zona Leste de São Paulo. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.06, Vitruvius, nov. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6803>.

A Universidade Federal de São Paulo – Unifesp está construindo um novo campus destinado ao Instituto das Cidades (IC), localizado na região Leste da cidade de São Paulo, tradicional área da classe trabalhadora numa iniciativa compartilhada com os movimentos sociais que ali atuam e que estiveram presentes em todas as etapas de implantação do novo Campus Zona Leste, desde a conquista do terreno até a discussão do projeto pedagógico. Elaborado com forte influência do pensamento do grande educador Paulo Freire, autor da “pedagogia do oprimido” e “educação como prática de liberdade” o projeto político pedagógico do IC é baseado no aprendizado por problemas a partir do reconhecimento das dinâmicas e dos conflitos urbanos reais, em seus diversos contextos e escalas e irá se desenvolver por meio de práticas didáticas inovadoras como o uso de jogos, dramatizações, multimeios de comunicação, modelos e protótipos, cartografias de conflitos e simulações, e também pela convivência dos estudantes e professores nos Espaços Pedagógicos integrados de ensino, organizados em escritórios temáticos, laboratórios e oficinas. As relações entre teoria e prática, meios e fins, razão instrumental e substantiva, tempo e lugar, são centrais para que os novos profissionais formados sejam capazes de reconhecer os problemas que afetam a vida das populações nas cidades, palco e produto de conflitos sociais e onde atuarão, inevitavelmente, de forma não neutra.

O novo Instituto reitera a vocação pública e congrega, de forma integrada, as formações universitárias em Geografia, Arquitetura, Urbanismo, Administração Pública, Engenharia Civil e Engenharia Ambiental, áreas de conhecimento correlatas à Arquitetura e Urbanismo que pensam, planejam, projetam, constroem e transformam as cidades e tem como compromisso descrever, compreender e propor soluções para os problemas urbanos, em especial, aqueles que afligem as maiorias desfavorecidas.

O curso de Arquitetura e Urbanismo nasce, assim, a partir de uma avaliação das condições de ensino e da prática profissional no século 21, em contexto de fortes desafios colocados pela crise da urbanização capitalista – intensiva, desigual e insustentável –, e pelo colapso de infraestruturas e serviços de um urbanismo em fim de linha, exigindo a necessária redefinição de políticas e ações em novos rumos, que promovam uma inflexão no modo de pensar, planejar, projetar e construir as cidades, e definam os aliados em defesa do que é comum, da qualidade de vida em uma cidade mais justa, integrada e acessível a todos.

O percurso formativo do curso pretende investigar crítica e propositivamente o processo histórico, analisar o contexto presente e as possibilidades de futuro na relação entre a sociedade e as forças produtivas com a natureza e o território, com o rural e as fontes de energia, água, alimentos e matérias primas que as sustentam; imaginar e propor soluções para os problemas endógenos da urbanização, como a falta de moradia adequada, de espaços, serviços e equipamentos públicos, de mobilidade urbana, enfim, do “direito à cidade”, sem perder de vista também as causas exógenas. Pretende-se mapear as práticas e potencialidades já existentes nos contextos urbanos, formas de sobrevivência, resistência e inventividade, modos de fazer e usar a cidade pelos moradores-construtores, em geral desprezadas pelo exercício mais elitista da profissão.

A ênfase do curso está na recuperação da vocação pública do arquiteto e urbanista, como profissional orientado para a defesa da cidade e da arquitetura como bem comum e direito de todos; uma formação generalista, com visão global dos processos de urbanização e inteligência sistêmica integradora de áreas, mantendo diálogo permanente com cidadãos, usuários e produtores da cidade, entidades representativas e movimentos sociais. A escolha de temas de ensino, pesquisa e projeto irá se basear em critérios de relevância, isto é, na definição de problemas que afetam o cotidiano dos trabalhadores e de todo conjunto multitudinário, vasto e heterogêneo. A atuação interdisciplinar e coletiva na resolução de problemas complexos da urbanização orientará contextos de ensino-aprendizagem inovadores em situações reais, abordados com indissociabilidade entre teoria e prática como princípio formador e integrador das atividades, e fundamento da permanente problematização e pesquisa de soluções por profissionais capazes de agir, simultaneamente, de forma crítico-reflexiva, imaginativa e resolutiva. Será estimulada a proposição de tecnologias sociais e sustentáveis, seja prospectiva ou de origem em técnicas e saberes ancestrais; e com a defesa da história dos lugares e da qualidade do ambiente construído como princípios indissociáveis na transformação das cidades em espaços democráticos, justos e de bem viver para todos.

A proposta da Unifesp de criação de um curso integrado reconhece a inescapável relação da arquitetura e urbanismo com os outros fatores e agentes responsáveis pela produção, uso e transformação da cidade como elemento determinante do ensino e da prática profissional do arquiteto e urbanista contemporâneo.

Desafios para o ensino de arquitetura e urbanismo

A situação dramática das megacidades, como São Paulo, nas primeiras décadas do século 21, exige da universidade, dos centros de pesquisa, dos órgãos públicos, dos movimentos sociais e da sociedade em geral, que sejam procuradas e testadas alternativas concretas às recorrentes situações de catástrofe, aumento dos padrões de segregação e violência, crise de abastecimento de água, colapso dos aterros sanitários, congestão da mobilidade urbana, contaminação de solo e ar, problemas crônicos de saúde pública, condições de trabalho degradantes, contínua autoconstrução das periferias e encortiçamento dos centros, separação entre moradia e trabalho, calçadas intransitáveis, praças abandonadas e privatizadas, entre outros temas.

Para tanto, é decisiva a redefinição de metodologias de projeto e planejamento urbano, socialmente referenciadas, baseadas em estudos de caso, problemas e conflitos reais, com metaprojeto integrando projeto de processo construtivo (tecnologia e canteiro) e arquitetura do programa e da cidade. Também um programa de pesquisa histórica e crítica da produção social da arquitetura e das cidades, a formulação de teorias renovadas sobre cidade e sociedade no Brasil, e a pesquisa de campo participante para redescoberta da cidade como invenção urbana cercada de paradoxos, desigualdades e conflitos.

O curso parte de uma necessária autocrítica da profissão (ensino, prática e ideologia), em especial da referência que ainda orienta o desejo de sucesso e ascensão social dos estudantes e jovens profissionais em torno da figura mistificada do arquiteto de renome, profissional liberal que define o “traço” do projeto de forma autoral e se torna “celebridade” entre seus pares; forma essa, hoje, arcaica e elitista da prática profissional, frequentemente baseada em encomendas de exceção e até em condições ocultadas de exploração do trabalho nos escritórios e nos canteiros. A literatura em arquitetura segue a hegemonia das monografias acríticas e que reforçam esse sistema de valores e aclamações fora do lugar social da profissão. A falta de produção crítica e de debate franco, de concursos de projetos, de valorização do arquiteto e urbanista nas carreiras de estado e nas políticas públicas - sequer houve participação da categoria em programas como o Minha Casa, Minha Vida) – é consequência de uma profissão que deixou de influenciar as decisões políticas, urbanas e simbólicas/identitárias do desenvolvimento brasileiro, como aconteceu nos anos 1930 a 1960. Tal irrelevância política e social atual é fruto de uma visão elitista, estreita e autoral da profissão, que precisa ser questionada e transformada.

De outro lado, dos anos 1970 para cá, o campo de atuação do arquiteto e urbanista modificou-se e se tornou mais complexo, com a atuação em diversos setores relacionados a políticas públicas, projetos, mercado imobiliário, planejamento e obras, na condição de funcionário público, assalariado do setor privado, terceirizado ou em condições precárias de contratação e função. As faculdades privadas colaboraram para abastecer o mercado de novos profissionais, passando de 30 cursos nos 1970 para e atingindo já a casa de 600 na atualidade, com uma formação em geral superficial, acrítica e dissociada de pesquisa e extensão. Há, igualmente, uma predominância feminina na profissão e correspondente redução dos rendimentos – tanto no setor público quanto privado – questões que precisam ser avaliadas tanto por uma abordagem de gênero quanto de classe. E mais recentemente, como espaço alternativo, ampliaram-se os coletivos interdisciplinares, inclusive com autogestão, associados ou não a movimentos sociais, que vão atuar diretamente na realidade, gerando pautas, ao invés de esperar encomendas, reorientando uma reflexão-ação política e tática da profissão.

Relacionado a políticas públicas, dentro ou fora do aparelho de Estado, o arquiteto e urbanista é profissional estratégico e necessário em uma série de ações de interesse público e comum: projetos e obras de equipamentos sociais, infraestruturas e habitação social; planejamento do desenvolvimento urbano e seus instrumentos legais, das megalópoles aos pequenos municípios; aprovação e licenciamento de empreendimentos nos órgãos competentes; preparação de termos de referência para licitações de obras e projetos e fiscalização subsequente; manuseio de cadastros multifinalitários e outros dados geoprocessados que embasam taxações, legislações e ações públicas.

O descompasso entre a imagem idealizada da profissão, a inserção no mundo do trabalho real e nas políticas públicas, a maior ou menor relevância para o desenvolvimento do país e de nossas cidades, não é um impasse pequeno. A resposta a essa questão é multidimensional e exige ações complementares, sobretudo mobilizando as entidades de classe, modificando a legislação de licitação de projetos e obras públicas, fortalecendo as carreiras públicas, assessorias técnicas e coletivos interdisciplinares, penalizando a prática profissional informal e/ou ilegal e, da parte da Universidade Pública, propondo uma renovação na formação do arquiteto e urbanista. É possível e necessária a renovação na forma como a profissão se vê e se situa no mercado de trabalho, no setor público, na assessoria técnica aos movimentos e comunidades e na participação na tomada de decisão em políticas estratégicas para o país. A formação do arquiteto e urbanista dentro de um Instituto das Cidades será, nesse aspecto, um espaço importante e inovador na reconquista e redefinição da importância social, política e cultural da profissão.

A proposta da Unifesp é superar a simples integração com campos de conhecimento das artes ou tecnologias, e reconhecer a inescapável relação da arquitetura e urbanismo com os fatores e agentes responsáveis pelos modos de fazer e usar as cidades nas diversas escalas e contextos, como elemento determinante do ensino e prática profissional do arquiteto e urbanista contemporâneo.

Formar o arquiteto e urbanista é diferente de formar o engenheiro-arquiteto ou o arquiteto das belas artes. É preciso favorecer o ensino e a aprendizagem com vistas aos desafios metodológicos e procedimentais que caracterizam a atuação profissional, onde a solução de arquitetura é indissociável da reflexão e da ação urbana, de modo a garantir uma formação de fato integrada entre pensar e projetar o edifício e a cidade. Assim, o curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifesp nasce em diálogo com outras formações, voltado à compreensão e à atuação em um problema multidimensional, que demanda conhecimento convergente.

Zona Leste de São Paulo: um lugar na nova geografia universitária brasileira

O curso de Arquitetura e Urbanismo e o Instituto das Cidades só são possíveis graças à política de expansão das Universidades Federais brasileiras, iniciada em 2007 – com as dificuldades e impasses conhecidos, sobretudo nas condições de instalação física e custeio dos novos campi – com o mérito inegável de permitir, em meio à forte expansão do ensino superior privado e sua lógica mercantil, a permanência e o fortalecimento de espaços de ensino-aprendizagem plurais, críticos, gratuitos e referenciados em temas socialmente relevantes. Mais que isso, a expansão recente das universidades federais permitiu uma nova geografia do conhecimento e da rede universitária no Brasil, incentivando a interiorização e, no caso das grandes metrópoles, novos campi em municípios conturbados e periferias, desconcentrando o saber dos lugares de poder e riqueza nas capitais estaduais.

A escolha da Zona Leste da cidade de São Paulo não é uma questão casual. Trata-se do resultado de uma confluência entre a luta histórica dos movimentos sociais por educação da creche à pós-graduação na região, que é um espaço tradicional da classe trabalhadora na metrópole hoje com 4 milhões de habitantes (embora com apenas 2% de vagas no ensino superior público), e da iniciativa da Unifesp de instalar seus novos campi em regiões periféricas e vulneráveis da macrometrópole, de forma dialogada com os movimentos sociais e especialistas nacionais e internacionais, contextualizada e socialmente referenciada. Em especial, no caso da Zona Leste, a aliança com os movimentos locais foi decisiva para a iniciativa, e será também para a história desse Campus e do seu primeiro instituto, cabendo destaque a todas as lutas sociais e demandas urbanas e por moradia na região, com seus grupos de origem, ocupações, mutirões etc.

A geografia multicampi da Unifesp
Imagem divulgação [Unifesp, 2014]

A localização do Campus na região do Carmo/Itaquera é também estratégica por se tratar de área pouco adensada da Zona Leste e simultaneamente complexa, marcada por bairros autoconstruídos, conjuntos habitacionais, chácaras de agricultura urbana, fábricas, áreas de proteção ambiental, grandes infraestruturas de transportes e drenagem urbana, cultura, comércio e lazer, combinando situações que serão estimulantes do ponto de vista do ensino, pesquisa e extensão e inovação em políticas públicas em diálogo com movimentos sociais, bem como a possibilidade de influenciar o planejamento da ocupação e transformação do seu entorno. O Campus fará parte de um processo regional de desenvolvimento urbano metropolitano, e sua implantação é um grande desafio e vetor para materializar as dimensões políticas do seu projeto pedagógico em diálogo com outros atores da região, consolidando-se não apenas como um Campus na Zona Leste, mas da Zona Leste, região da cidade onde historicamente se estabeleceu a classe trabalhadora, suas organizações e movimentos sociais, com uma tradição de luta e organização.

Contexto urbano ao redor do Campus
Imagem divulgação [Unifesp, 2014 / Google Maps]

A participação da sociedade no Campus Zona Leste é prevista com diversos canais de diálogo, organizados por meio de conselhos específicos paritários, universidade-sociedade, com os seguintes temas: Conselho Estratégico de diálogo Universidade-Sociedade-Setor Público; Conselho de Rede de Escolas em cooperação com o Campus Zona Leste; Conselho de Atividades Culturais e de Memória do Campus Zona Leste; Conselho de Atividades Esportivas e de Lazer do Campus Zona Leste; Conselho de Atividades Econômicas e Desenvolvimento urbano e regional.

O Campus Zona Leste também está sendo planejado como um espaço experimental de produção e gestão de cidades em que o próprio campus é objeto de pesquisa e intervenção. Com diversas formações em planejamento, projeto e construção de cidades, esse campus deverá manter um caráter de exemplaridade em si mesmo, com pesquisas experimentais permanentes enfocando novas tecnologias construtivas e formas espaciais inovadoras ao pensar sua relação com o contexto urbano e com a paisagem, incluindo a área de preservação e nascentes que abriga.

O Campus Zona Leste ainda permite que várias camadas históricas do seu lugar, de uso e ocupação da sua gleba permaneçam de algum modo ativo, física e pedagogicamente. São elas: a Área de Preservação Permanente – APP, de cerca de 25 mil m², com mata nativa e duas nascentes e córregos afluentes do Rio Jacu; o primeiro uso antrópico da gleba como chácara de família de imigrantes japoneses, produtora de horti-fruti e integrante do cinturão verde leste de São Paulo; sua conversão em área industrial no final dos anos 1970 com a instalação da Metalúrgica Gazarra, uma das principais fábricas da Zona Leste e importante lugar de memória operária; e, por fim, sua transformação em Campus Universitário, uma mini-cidade em diálogo com esses patrimônios materiais e imateriais, ambientais e construídos.

Terreno do Campus, com o edifício da antiga Metalúrgica Gazarra
Foto divulgação [Unifesp, 2016]

Edifício do Instituto das Cidades, APP e área de agricultura urbana
Imagem divulgação [Unifesp, 2016]

Fio da meada do ensino crítico de arquitetura  e urbanismo

O curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifesp pretende ser sucessor de uma história de iniciativas, várias interrompidas, de formulação de um ensino superior crítico e progressista da Arquitetura e do Urbanismo que data, pelo menos, dos anos 1960, momento em que um projeto de formação nacional parecia plausível, mesmo com os paradoxos da construção de Brasília. O contexto de Reformas de Base e da Reforma Universitária permitia o projeto inovador da UnB, e no Rio Grande do Sul, com a reforma curricular da FAU UFRGS no início dos anos 1960; em São Paulo, com a reforma do curso da FAU USP em 1962, incluindo desenho industrial, comunicação visual e novas cadeiras na área de história, tecnologia e projeto, dava-se origem ao projeto do novo edifício construído na cidade universitária de uma faculdade que se preparava para ajudar a pensar e projetar um novo país, das grandes cidades à moradia e objetos que as povoam, projetos esses com clara influência do modelo alemão de Humbolt, da Bauhaus e Ulm.

Com o golpe de 1964, o projeto progressista de ensino de arquitetura, interrompido na UnB e renovado nas FAUs USP e UFRGS, começava a entrar em contradição com seus pressupostos, pois a aposta no desenvolvimento nacional, anti-imperialista, em aliança com a burguesia nacional, tinha caído por terra. Este contexto motivou uma divisão política no novo Fórum de ensino na FAU USP, em 1968, com a presença de um grupo minoritário, mas cada vez mais ouvido, que defendia a crítica ao papel do arquiteto na modernização conservadora e ao desenho como instrumento de dominação, ruptura capitaneada por dissidentes do Partido Comunista Brasileiro, alguns já envolvidos na luta armada.

Deste simbólico “racha” e realinhamentos surgiram iniciativas experimentais e insurgentes dentro e fora da FAU USP. A primeira, derivada diretamente dos debates de 1968, foi a da FAU Santos, fechada pelo golpe militar em 1971 (com parte dos professores presos), pioneira em atuar com os estudantes em favelas da região como situações-problema e temas de projeto e pesquisa social (dela nasce uma vertente inovadora da sociologia urbana brasileira, no estudo da autoconstrução e suas consequências sociais e econômicas). A segunda, também interrompida, foi a experiência da FAU São José dos Campos, entre 1972-74, com a proposta de ateliês integrados e unidades interdepartamentais com temas de projeto contextualizados aos problemas de desenvolvimento do Vale do Paraíba – foi encerrada por intervenção superior militar. No fim dos anos 1970, dentro da FAU USP, professores e estudantes começaram a projetar nas periferias “ocultas” da Zona Sul de São Paulo, em disciplina do Ateliê Integrado de Projeto, Planejamento e Desenho Industrial – espaço minoritário, mas significativo na época, que formou muitos dos que passaram a atuar em políticas urbanas e habitacionais em gestões democráticas após o fim da ditadura militar. Alguns anos depois, no início dos anos 1980, outra iniciativa similar foi o Laboratório de Habitação da Faculdade de Arquitetura da Escola de Belas Artes, com um renovado grupo de professores, com ações de ensino, pesquisa e extensão em favelas, construindo novos territórios de ensino e prática profissional, num contexto de emergência de movimentos populares e de renovação político-partidária, com o surgimento do Partido dos Trabalhadores – PT. A experiência durou três anos e foi encerrada após greve e demissão em massa dos professores pela direção da escola. Em nova diáspora, uma parte dos professores foi para São Carlos formar o Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia da USP, com um projeto inovador de pesquisa em história da arquitetura moderna e diálogo crítico com as tecnologias e cursos de engenharia; e outra parte foi para Campinas, no Laboratório do Habitat – L´Habitat, da FAU PUC-Campinas e no Núcleo de Desenvolvimento da Criativadade – Nudecri da Unicamp. As atividades de extensão do L’Habitat neste período, voltadas para a assessoria técnica aos movimentos populares de moradia de Campinas e região, contribuíram fortemente para o surgimento e consolidação dos núcleos, grupos e cooperativas de assessoria aos movimentos populares que tiveram uma atuação destacada na área de habitação popular, entre 1989 e 1992, na Prefeitura de São Paulo sob gestão do PT. O Nudecri foi responsável por inovações tecnológicas a partir de elementos de construção econômica popular, aplicadas às moradias estudantis da própria Universidade, entre outros projetos habitacionais. Seria o embrião do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade, não fora o fato de ter sido suplantado pelo  projeto de um grupo de viés mais conservador da Engenharia, onde veio a se implantar, efetivamente, a nova escola. Mais recentemente, no início dos anos 2000, outra faculdade com perspectiva progressista, pertencente à Universidade de Taubaté – Unitau, no Vale do Paraíba, com ensino associado à pesquisa e ação direta com movimentos sociais e questões habitacionais, sofreu uma demissão em massa. Vários dos professores demitidos eram também assessores técnicos de movimentos populares. Na FAU USP, a partir de 1993, foi realizada a iniciativa mais ambiciosa de canteiro experimental nas escolas paulistas, embora mantida à margem dos eixos estruturantes do projeto pedagógico da escola - o Canteiro Antonio Domingos Battaglia - que tem inspirado a criação de outros canteiros experimentais nas FAUs no Brasil.

Essas são algumas referências da história brasileira e, em especial paulista, na tentativa de construção de um ensino de arquitetura e urbanismo com perspectiva crítica, contextualizada, em diálogo com movimentos sociais e com ênfase nos problemas urbanos que atingem as maiorias. De 1968 aos anos 1990, quase todas foram eliminadas, ou resistiram, mas em espaços circunscritos de atuação. Justifica-se aqui a referência, pois, dessas, o curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifesp se considera herdeiro e interlocutor.

Dos anos 1990 para cá, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Arquitetura e Urbanismo (DCNs), promulgadas em 1994 e atualizadas em 2010, bem como a Lei de Diretrizes de Base da Educação (LDB), de 1996, abriram novas perspectivas do ponto de vista da legislação e regularização do ensino. De um lado, as DCNs possibilitaram uma certa homogeneização programática da formação, com ênfase no projeto de Arquitetura, de Urbanismo e de Paisagismo, com a readequação dos cursos existentes e formulação de novos. Particularmente, no caso dos novos cursos criados, e que se submeteram à avaliação regulatória externa, observa-se que o cumprimento das DCNs abriu novas possibilidades que têm sido exploradas, em substituição ao currículo mínimo, como organizações curriculares mais flexíveis, interdisciplinares, processuais e voltadas para a uma “cidadania em construção”. No caso da Arquitetura e Urbanismo, a área foi redefinida pela legislação em pauta como campo de conhecimento de “ciências sociais aplicadas”, reconhecendo a distinção em relação às belas-artes e à engenharia. O curso de Arquitetura e Urbanismo do Instituto das Cidades da Unifesp pretende fazer uso, portanto, da abertura legal que tanto as DCNs quanto a LDB permitem e estimulam, aos moldes do que se verifica na nova onda de reestruturação de cursos tradicionais como a UFPE, UFRJ, UFRGS, e também  no surgimento de projetos mais inovadores como a Universidade Federal de Integração Latino-Americana – Unila, Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS e outros, no âmbito do ensino público.

Cabe ressaltar que a retomada da busca de novos paradigmas para um ensino de arquitetura e urbanismo inovador e comprometido socialmente, crescente no país no âmbito de algumas das IES públicas, comunitárias e privadas, reflete um movimento mais amplo que acontece em outros países do continente onde se amplia o número de cursos na área. Pode-se observar, como no caso do Curso de Arquitetura da Universidad Nacional de San Martin (UNSAM), localizado na periferia de Buenos Aires, e na reestruturação de alguns cursos tradicionais, a retomada de propostas pedagógicas voltadas para o atendimento das demandas sociais que tiveram grande repercussão no continente, como as ideias debatidas nos anos 1960-1970 na FAU UnC (Córdoba, Argentina) especialmente em torno do “Taller Total de Arquitectura”, base das experiências de Ateliê Integrado e Ateliê Vertical, suprimidas pelas ditaduras que se instalaram na América do Sul e que hoje comparecem em vários projetos pedagógicos. Importante registrar neste processo também a reestruturação de outros cursos de referência para o ensino de arquitetura e urbanismo no continente, como no caso da Universidad de la República del Uruguay (Udelar), da PUC-Chile, da Universidad Nacional del Chile e a emergência da atuação dos cursos de arquitetura colombianos, notadamente da Universidad de los Andes e da Universidad Nacional de Colombia, sedes Bogotá e Medellin, no campo do urbanismo social, e das políticas públicas focadas, voltadas para a requalificação urbana de áreas de vulnerabilidade social.

É nesse contexto, que o curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifesp surge, procurando reconhecer as iniciativas ousadas do passado e as oportunidades do presente para definir um projeto político pedagógico associado a outras graduações sobre as cidades. Igualmente, toma posição a respeito das questões emergentes e urgentes para o povo brasileiro e se dedica à resolução dos problemas e conflitos em nossas cidades e seus canteiros, como manifesta em seus objetivos e princípios e concretiza em seu currículo.

notas

NA – Artigo apresentado no 2° Encuentro “La formación universitária y La dimensión social del profesional” a 46 años del Taller Total, 2015.

NE – Sob a coordenação editorial de Abilio Guerra (editor do portal Vitruvius), esta edição especial da revista Arquitextos sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo contém textos selecionados dos artigos  apresentados em dois eventos ocorridos na Universidade Nacional de Córdoba, na cidade de Córdoba, Argentina: 1° Encuentro “La formación universitária y la dimensión social del profesional” a 45 años del Taller Total (2, 3 e 4 de setembro de 2015; eixos temáticos: 1. O ensino da arquitetura. 2. O primeiro ano universitário: expectativas, conquistas e frustrações. 3.A formação universitária e o compromisso com os problemas sociais, políticos, econômicos e culturais  da  região); 2° Encuentro “La formación universitária y la dimensión social del profesional” a 46 años del Taller Total (31 de agosto, 1 e 2 de setembro de 2016; eixos temáticos: 1. Hábitat, cidadania e participação. 2. A formação universitária e o compromisso com os problemas sociais,políticos, econômicos e culturais da  região. 3. O papel do estudante universitário no seu processo de formação professional  e cidadã). Em ambos os encontros o processo de avaliação dos artigos foi realizado por pareceristas, membros da comissão cientifica, especialistas na área de submissão, pelo sistema duplo cego, para garantir o anonimato e sigilo tanto do(s) autor(es) como dos pareceristas. Os eventos tiveram como objetivos a reflexão, debate e a recuperação da memória do Taller Total, experiência que se desenvolveu na  Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da  Universidade Nacional de Córdoba, FAU UNC, entre os anos 1970 e 1975. Avançou-se na discussão sobre o papel social do profissional universitário e suas capacidades para analisar integralmente e contribuir à solução dos problemas sociais locais e regionais que a presente realidade demanda. Dentre os eixos temáticos correspondentes aos dois encontros, se realizou um processo de seleção dos artigos referentes ao tema Ensino de Arquitetura e Urbanismo que resultou nos textos presentes na edição de Arquitextos. Foram responsáveis por esta seleção, Sylvia Adriana Dobry e Nora Zoila Lamfri (participantes do Comité Organizador e Cientifico de ambos encontros). Considerou se importante dar um panorama do assunto em vários países da América Latina privilegiando critérios de qualidade e pertinência ao tema. Para tanto, selecionaram-se artigos de autores provenientes de Argentina, Brasil e México, que foram convidados a adequá-los às normas da revista; os que responderam à solicitação são os seguintes artigos que formam o número especial de Arquitextos sobre os 1° e 2° Encuentro “La formación universitária y La dimensión social del profesional” a 45 y 46 años del Taller Total/ 2015 e 2016:

DOBRY, Sylvia Adriana; LAMFRI, Nora Zoila. Ateliê Total, um olhar desde o século 21. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.00, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6790>.

GOROSTIDI , Roberto Enrique; RISSO, Marta Teresa. Formación y docencia en la Universidad de hoy. Desafíos y Realidades. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.01, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6791>.

SANCHES, Débora. ArquiCriança: estudo a partir das crianças moradoras de cortiços e pensões em São Paulo. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.02, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6792>.

GIRÓ, Marta; FRANCO, Rafael; PELLI María Bernabela; PACE, Elizabeth; CAMPOS, Mariana; DEPETTRIS, Noel; OLMEDO, Rosario; PONCIO, Diego. La Cátedra Gestión y Desarrollo de la Vivienda Popular. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.03, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6793>.

PORTER, Luis; MIGLIOLI,Viviana. La enseñanza de la arquitectura hoy, las limitaciones del modelo de taller de proyecto y alternativas posibles.Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.04, Vitruvius, nov. 2017 < www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6794>.

PEDRO, Beatriz. Formación para el proyectar con la comunidad en la producción social del hábitat – Articulación de saberes populares y disciplinares. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.05, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6795>.

ARANTES, Pedro Fiori; SANTOS JÚNIOR, Wilson Ribeiro dos; LEITE, Maria Amélia Devitte Ferreira D’Azevedo. Um projeto de práticas pedagógicas transformadoras. A formação do arquiteto e urbanista no Instituto das Cidades da Unifesp na Zona Leste de São Paulo. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.06, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6803>.

CARVALHO, Maria Albertina Jorge. A experiência do laboratório de arquitetura e urbanismo e seus desdobramentos como atividade de extensão universitária. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.07, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6804>.

TEIXEIRA, Catharina Christina; et. al. A questão da habitação social no ensino de projeto integrado ao desenho urbano. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.08, Vitruvius, dez. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6818>.

1
ARANTES, Pedro Fiori. Arquitetura Nova: Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo Lefèvre, de Artigas aos mutirões. São Paulo, Editora 34, 2002.

2
ARANTES, Pedro Fiori. Arquitetura na era digital financeira. São Paulo, Editora 34, 2012.

3
ARTIGAS, J. B. Vilanova. A função social do arquiteto. São Paulo, Nobel, 1985.

4
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE ARQUITETURA. Caderno 23: anais do XVIII encontro nacional sobre ensino de Arquitetura e Urbanismo. Projeto político pedagógico. Belo Horizonte, 2002.

5
FERRO, Sérgio. Programa para polo de ensino, pesquisa experimentação da construção (1994) em arquitetura e trabalho livre. São Paulo, Cosac Naify, 2006.

6
LEFÈVRE, Rodrigo. Objetivos do ensino da arquitetura e meios para atingi-los em trabalho de projeto. São Paulo, FAU USP, 1977.

7
LEFÈVRE, Rodrigo. Projeto de um acampamento de obra: uma utopia. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU USP, 1980.

8
LEITE, Maria Amélia. A aprendizagem tecnológica do arquiteto. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2005.

9
PRONSATO, Sylvia Dobry. Para quem e com quem: ensino de arquitetura e urbanismo. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2008.

10

REIS FILHO, Nestor G. (Org.). 100 anos de ensino de arquitetura e urbanismo em São Paulo. São Paulo, FAU USP, 1996.

11
RONCONI, Reginaldo. Inserção do canteiro experimental nas faculdades de arquitetura e urbanismo. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2002.

12
SANTOS JR., Wilson Ribeiro. O currículo mínimo no ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil: 1969-1994. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2001.

13
SANTOS, Carlos Nelson dos. A cidade como um jogo de cartas. São Paulo, Projeto Editores, 1988.

14
SANTOS, Roberto Eustáquio dos. Atrás das grades curriculares: da fragmentação do currículo de graduação de arquitetura e urbanismo no Brasil. Dissertação de mestrado. Belo Horizonte, Escola de Arquitetura UFMG, 2002.

15
SCHÖN, Donald A. Educando o Profissional Reflexivo: Um novo desenho para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre, ArtMed, 2000.

16
SOUZA LIMA, Mayumi Watanabe de. A formação do arquiteto, ensino de arquitetura e mercado de trabalho. Chão Revista de Arquitetura, Rio de Janeiro, n. 3, 1978.

17
SOUZA LIMA, Mayumi. Prática-investigação: um processo de trabalho na FAU São José dos Campos. IX Congresso Brasileiro de Arquitetos, mimeo. Acervo MWSL, Fundação Perseu Abramo.

18
UNIFESP. Projeto Político Pedagógico do Instituto das Cidades – Campus Zona Leste, 2014.

19
UNIFESP. Projeto Político Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Instituto das Cidades – Campus Zona Leste, 2016.

sobre os autores

Pedro Fiori Arantes é arquiteto e urbanista, professor e Pró-reitor Adjunto da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Membro do grupo Usina (eleito melhor do Brasil, em 2015, pela FNA) que atua com movimentos sem terra e de luta por moradia. Autor do livro Arquitetura na Era Digital Financeira (2012).

Wilson Ribeiro dos Santos Jr. é arquiteto e urbanista, doutor pela USP. Professor Titular do POSURB e da FAU PUC-Campinas. Membro das Comissões Nacionais de Avaliação da Área de Arquitetura e Urbanismo (2001-2013). Coordenador Adjunto da Área de Arquitetura, Urbanismo e Design da Capes desde 2015.

Maria Amélia Devitte Ferreira D’Azevedo Leite é arquiteta e urbanista, doutora pela USP. Especialista em Controle do Ambiente. Colaboradora da Unifesp no Projeto Político Pedagógico do Instituto das Cidades. Atua em ensino, projetos e construção e pesquisas sobre tecnologia. Autora de publicações sobre a estrutura em Arquitetura.

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