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research

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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Reflexão a respeito do trabalho de extensão que conectou a disciplina de Laboratório de Arquitetura e Urbanismo e o Escritório modelo do curso com o ‘Atelier Ensaios Urbanos’ da PMSP, a SAVMZ e a Associação de Cultura da Vila Maria Zélia.

english
Reflection on the university extension project that connected the discipline of Architecture And Urban Planing Lab, the University’s Office Project with the ‘Urban Essays Workshop of PMSP’, ‘SAVMZ’ and ‘Vila Maria Zélia Culture Association’.

español
Reflexión sobre el trabajo de extensión que conectó la disciplina Laboratorio de Arquitectura y Urbanismo con el Escritorio Modelo del curso con el ‘Taller de Ensayos Urbanos’ de la PMSP, la SAVMZ y la Asociación de Cultura de Vila Maria Zélia.


how to quote

CARVALHO, Maria Albertina Jorge. A experiência do laboratório de arquitetura e urbanismo e seus desdobramentos como atividade de extensão universitária. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.07, Vitruvius, nov. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6804>.

Este trabalho propõe apresentar a experiência da disciplina de Laboratório de Arquitetura e Urbanismo aplicada no 3º semestre do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Fiam-Faam Centro Universitário. Será suscintamente apresentada sua formatação e desdobramentos em atividades no Escritório Modelo (1) do curso. Oportunidade de organizar na linha do tempo e das ideias este percurso iniciado no primeiro semestre de 2010.

Serão consideradas três fases. A primeira restrita à disciplina; a segunda ampliada para o Escritório Modelo, momento em que se buscou viabilizar a atuação da Instituição junto ao Atelier Ensaios Urbanos (restrita ao segundo semestre de 2014), e a terceira refere-se aos desdobramentos da produção do “Atelier Ensaios Urbanos” no Escritório Modelo.

O Atelier Ensaios Urbanos foi idealizado pela Prefeitura de São Paulo para ampliar a reflexão a respeito da revisão da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo – LPUOS do município junto às instituições de ensino de arquitetura; a troca de informações e debate com professores e alunos a respeito de diferentes porções do território era esperada.

Alunos de arquitetura entrevistam moradores que frequentam as atividades sociais, pesquisa em 2010
Foto Maria Albertina Jorge Carvalho

Características da instituição e alunos

O Fiam-Faam Centro Universitário é uma instituição privada criada no município de São Paulo com origem vinculada à FMU, formada em 1968. Em 2014 passou a fazer parte da rede internacional de educação Laureate, de origem americana. A rede reúne mais de setenta instituições no mundo, mais de um milhão de alunos e atua nos cinco continentes.

O curso de Arquitetura e Urbanismo surge na década de 1990, seu regime é semestral de meio período (3,5h por dia) para ser cursado em cinco anos. São oferecidos os horários matutino e noturno. Nos últimos anos o número de alunos cresceu muito por acompanhar o movimento vivido pela educação de ensino superior privado no Brasil, que recebeu incentivo e financiamento para ampliar o acesso ao ensino superior a todas as camadas de renda. O curso atraiu alunos de renda média e baixa oriundos das escolas públicas. Além da graduação a área de arquitetura e urbanismo se expandiu aos cursos de Pós-graduação lato-sensu e Mestrado.  A maior parte dos alunos tem o tempo dividido entre estudo e trabalho, sendo este último com jornada integral de 8 horas. A quase totalidade dos professores tem dedicação parcial e estão envolvidos em outras atividades profissionais. Atuam em escritórios, instituições públicas (incluindo a prefeitura de São Paulo) ou como docentes em outras instituições. Esse pequeno relato sobre o perfil do aluno, professor e da instituição nos parece importante para auxiliar na percepção dos desafios que são propostos, seja pela pouca disponibilidade de tempo de professores e alunos fora da sala de aula, como pela carga já excessiva de atividades na semana. Somente no 2º semestre de 2015 criou-se a figura do professor com dedicação de 40 horas semanais.

Alunos apresentam seus trabalhos aos representantes das associações, Laboratório de Arquitetura e Urbanismo, 2011
Foto Maria Albertina Jorge Carvalho

Premissas e antecedentes

Cabe fazer um breve esclarecimento a respeito do perfil da Extensão Universitária no Brasil e o percurso pessoal que antecedeu minhas atividades no FIAMFAAM.

A universidade surgiu no Brasil apenas no início do século 20, reunindo algumas escolas de ensino superior. Nos anos de 1950 e 1960 os estudantes organizados pela UNE – União Nacional dos Estudantes indicaram as direções e perfil da atuação da extensão brasileira mesmo antes de sua formalização. Na redemocratização dos anos 1980 a relação universidade e movimentos sociais retomaram o mesmo viés. A extensão nunca alcançou visibilidade, status e reconhecimento permanente da sociedade que concretizasse o tripé propagado como função da universidade: ensino, pesquisa e extensão. Há com certeza projetos que marcam a história de grupos que pontuam o Brasil de Norte a Sul. Na década de 1960 o Projeto Rondon (2) se tornou um emblema nacional; foi rearticulado em 2004 por solicitação da UNE ao presidente Lula.

Atualmente a extensão brasileira no âmbito nacional está institucionalizada, consolidada e atuante nas Universidades Públicas. Encontra mais abertura nas federais do que nas estaduais. Define como diretriz a indissociabilidade com o ensino e a pesquisa, a interdisciplinaridade e a relação bidirecional com a sociedade.

Alunos apresentam seus trabalhos aos representantes das associações, estágio do Escritório Modelo, 2014
Foto Maria Albertina Jorge Carvalho

Em 1987 se organizou o primeiro Encontro Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. Em maio de 2015 se realizou o XXXVII. Vinculado a este está o Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras – Forproex (3). Foi no primeiro encontro, 1987, que se definiu o conceito da extensão universitária no Brasil. Segundo o Documento Final do I Encontro,

“A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e sociedade.

A Extensão é uma via de mão dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento. Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, terá como consequência: a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional; a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade.

Além de instrumentalizadora desse processo dialético de teoria/prática, a Extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social (4).

Nos cursos superiores privados a extensão não está institucionalizada. São ações pontuais sem articulação em rede ou possiblidade de solicitar o financiamento do ministério da Educação restrito às públicas (5).

Quanto ao percurso pessoal duas vertentes favoreceram para que eu contribuísse na construção do percurso que vamos ver nesse projeto. Uma delas foi a experiência com atividades de extensão no curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Taubaté, de 1995 a 2003. Ocorreu a partir da criação do Núcleo de Habitação e Desenvolvimento Urbano – NHDU. Participei deste processo onde estruturamos uma articulação entre professores e alunos, com estatuto próprio, votações e ações de parceria com entidades de diferentes municípios no Vale do Paraíba (6). Além dos trabalhos desenvolvidos pelo NHDU durante o semestre letivo, organizou-se por dois anos seguidos incursões em julho, como no Projeto Rondon. Fixamos período de duas semanas nas quais professores e alunos permaneceram concentrados na compreensão da problemática e na busca de soluções. Escolas públicas foram cedidas para organização de dormitórios coletivos, refeitório, escritório e ambientes de reuniões. Computadores e materiais foram deslocados. Primeiramente o município de Aparecida do Norte foi objeto de estudo. A conclusão do trabalho gerou documento entregue à prefeitura e apresentação dos alunos na Câmara Municipal. No ano seguinte ocorreu no Balneário de Boiçucanga, com entrega às Associações de Moradores e pescadores locais. Essa experiência de articulação de ensino-pesquisa-extensão marcou fortemente o inicio da minha atividade profissional como docente.

Alunos com Sr. Dedé, morador, preparam roteiro histórico da Vila Maria Zélia para participar da I Jornada do Patrimônio do Município de São Paulo
Foto Maria Albertina Jorge Carvalho

O segundo aspecto é o envolvimento profissional com a metodologia do projeto participativo, iniciado no período de estudante tanto em disciplina orientada pela professora Ermínia Maricato como no estágio na prefeitura de Diadema onde trabalhei com a urbanização de favelas. No início da carreira profissional essa vertente se manteve, em especial nos projetos vinculados à problemática habitacional. Deste processo se definiu o tema da pesquisa de mestrado: “Intervenção Urbana com Participação da Sociedade: noções teóricas e práticas na experiência dos canais institucionais de participação em Santo André, Projeto Centro com vida” (7).

Este caldo profissional retrata minha forma de ver o mundo e, portanto, influencia a condução da montagem dos trabalhos quando se abrem oportunidades.

Em 2010 me foi solicitada a reestruturação de uma disciplina dirigida ao 3º semestre do curso de arquitetura, ou seja, o “Laboratório de Arquitetura e Urbanismo”. Desde então a disciplina se mantém no mesmo caminho e o processo continuo permitiu desdobramentos no Escritório Modelo.

A primeira fase

Ao receber a solicitação para reestruturar a disciplina ficou alinhado junto à coordenação que manteríamos a função desta de não estar presa a conteúdo especifico do currículo obrigatório, mas propiciar base ou complementação que auxiliasse a compreensão de conteúdos gerais e preenchesse lacunas que dificultavam determinados desempenhos. Foram traçados os objetivos:

  • introduzir aos alunos a questão do patrimônio histórico e cultural no campo arquitetônico;
  • orientar o aluno para a produção do trabalho científico;
  • possibilitar uma aproximação ao projeto participativo;
  • apoiar a disciplina de projeto com o tema habitação;
  • focar a construção do conceito de projeto.

O tema definido para nortear aulas expositivas, discussões, trabalho externo, pesquisa e desenvolvimento de proposta foi: “Reconhecimento do ambiente arquitetônico e urbanístico de vila operária paulistana com desenvolvimento de proposta de intervenção”.  Escolheu-se inicialmente como recorte físico a vila operária Maria Zélia, no bairro do Belenzinho em São Paulo, tombada pelas instituições de patrimônio municipal e estadual em 1992. A delimitação da área de levantamento e análise era ampla para possibilitar estudo da relação com o bairro e várzea do Rio Tietê. O perímetro se ampliou na fase dois. Atualmente abrange cerca de 2 milhões de m2, com boa parte ocupada por fábricas, outras vilas operárias e “futebol de várzea”. Na vila, descendentes da primeira geração local convivem com edificações públicas em ruínas. Diversas organizações sociais estão presentes e atuantes neste perímetro.

Dos cinco objetivos expostos acima, um deles foge do trivial acadêmico: apresentar e trabalhar a metodologia do projeto participativo. Embora a sociedade civil reivindique participação no Brasil, a tradição acadêmica, profissional e cidadã não é da participação (8). Desta forma o desafio está posto, metodologia distante da prática e da teoria de grande parte dos professores envolvidos com a disciplina e desconhecido da prática cidadã dos alunos.

Alunos apresentam em palestras seus estudos a respeito da nova legislação urbana incidente no perímetro estudado
Foto Maria Albertina Jorge Carvalho

Inicialmente a disciplina assumiu a postura de que o próprio processo investigativo traria as descobertas do que havia no local. Quem eram as pessoas, como se organizavam, qual tipo de proposta a fazer seriam descobertas e construções feitas ao longo do processo. No primeiro semestre muitas turmas e professores foram envolvidos, em geral, atuando em duplas. Minha parceria foi com a professora Jenny Zoila Baldiviezo Perez. Não nos antecipamos em levantar o material e apresentá-lo; nosso papel era estruturar metodologia, cronograma, objetivos gerais e orientar os encaminhamentos e discussões. As descobertas foram conjuntas. Ao fugir do formato fechado as aulas não podem ser detalhadas com antecipação porque o caminho para chegar ao objetivo é construído passo a passo. Turmas guiadas por outros professores conseguiram apenas em parte gozar da mesma liberdade. O processo envolve um risco maior, flexibilidade e muita atenção para não perder o fluxo. Tivemos que estar atentas para identificar o limite da investigação e passar a próxima etapa assim que o método fosse absorvido, mesmo que o resultado investigativo não estivesse concluído. No semestre seguinte, uma nova turma chegaria para trabalhar no mesmo local, contatando as mesmas pessoas para dar continuidade e aprofundar. Com a prerrogativa participativa, o trabalho dos alunos não pode ser repetido, portanto cada semestre tem objetivos e resultados diferentes no que concerne aos produtos. Trata-se de estruturar um processo contínuo de trabalho com a sociedade local, portanto, um semestre dá sequencia ao trabalho do anterior. Os trabalhos concluídos são entregues e sistematizados para que a turma seguinte os receba para prosseguir; como quando ingressamos em uma empresa.

A estrutura da disciplina passa por quatro momentos. O exercício 1 se resume a uma visita de sensibilização do aluno com o local. A ida individual é para captar as impressões pessoais, apresentadas na semana seguinte com cinco imagens e uma fala pessoal. O segundo, mais tradicional, trata da investigação cientifica com consulta a bibliografia especifica e mapas históricos. Após este reconhecimento oficial da relevância histórica e características gerais passam ao exercício três que inclui reuniões com a população local, entrevistas, visitas, levantamentos, análises. A cada semestre a formatação deste é diferente, assim como o do 4º exercício, propositivo, que depende das solicitações e negociação do terceiro. Este processo permite que se estabeleça o contato e o choque com a realidade, mas também a possibilidade de sentir a relevância da profissão que se almeja, seu papel social. Os estudantes passaram a fornecer dados e a atender requisições locais.

Em seis semestres, anos de 2010 a 2012, este trabalho envolveu 18 turmas do terceiro semestre, ou seja, aproximadamente 540 alunos e 11 professores. No início as entrevistas e pesquisa de casa em casa foram importantes para reconhecer quem eram as pessoas, como funcionavam e o que desejavam. Os quadros 1 e 2 em anexo e as imagens 1, 2 são representativas deste processo. Sentir a realidade, descobrir as dificuldades que se impõe, perceber visões contrárias, disputas, sentimento gregário da comunidade e as marcas da história impregnadas além das edificações são aspectos difíceis de explicar se não experimentados na pele. Acrescento como especial para o aluno o processo de se preparar para argumentar, seja em uma simples conversa no local ou em uma apresentação pública. Há ainda o ingrediente de sentir que aquilo que se produz faz sentido para as pessoas, que pode ser útil.

Este processo de trabalho dentro da disciplina teve continuidade e perdura até os dias de hoje. O perfil de se transformar a cada semestre ocorre apenas no caso desta vila e nas turmas em que estou envolvida diretamente. Outras vilas da cidade passaram a ser trabalhadas. A distância de alguns professores da prática da metodologia participativa, a limitação de disponibilidade para deslocamento do curso noturno (restrito ao final de semana) e outras dificuldades faz com que se alcance menos do que o almejado. Todavia, conquistou-se ao final de alguns semestres um conjunto de dados e propostas de interesse que não encontravam possibilidades para vazão.

Resumo das atividades do laboratório de arquitetura e urbanismo entre os anos de 2010 e 2012 [CARVALHO, Maria Albertina Jorge, PEREIRA, Marcio da Costa. A Vila operária Maria Zélia, 20]

A segunda fase

A segunda fase se iniciou em junho de 2014 quando a Prefeitura de São Paulo criou um canal de comunicação com os cursos de arquitetura: o “Atelier Ensaios Urbanos” (9). A intenção era ampliar o debate a respeito da revisão da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo – LPUOS. Foi uma experiência inovadora para o município e seu modo de operar foi desafiador para todos os envolvidos. Houve uma adesão enorme dos cursos de arquitetura que aceitaram o convite e construíram de maneira independente o seu modo de operar. Temas e territórios podiam ser escolhidos com liberdade. Alguns parâmetros comuns foram demarcados, assim como um cronograma que finalizaria em dezembro com apresentação das propostas à prefeitura e posterior publicação dos trabalhos prevista para 2015. A experiência foi concluída no dia 15 de dezembro com a entrega de 41 trabalhos desenvolvidos por 17 instituições de ensino.

O processo por si só foi valioso, gerou um movimento de encontro, trocas e visibilidade – as instituições de ensino olhando para a prefeitura; a prefeitura para as instituições e as instituições olhando seus pares.

O curso de Arquitetura e Urbanismo do FIAMFAAM entendeu esta proposta como uma experiência impar para aproximar a escola da prática profissional no viés da política urbana. O município passava por um período de intensa mudança na legislação urbanística o que tornava a aproximação mais interessante para o ensino.

O FIAMFAM optou em participar com estudo para duas áreas. A primeira com os alunos do 6º semestre na disciplina regular de urbanismo, a segunda no Escritório Modelo, herdando o trabalho desenvolvido na disciplina de Laboratório de Arquitetura e Urbanismo com o objetivo de aproveitar o conhecimento construído desde 2010 e aprofundá-lo. Estruturou-se uma equipe de oito alunos de semestres variados e um professor. A expectativa era que o interesse pelo tema e as perspectivas profissionais gerassem o envolvimento dos alunos.

O desafio de preparar os alunos para o universo complexo das leis é claro no cotidiano acadêmico, mas a prática do Atelier tornou explícita a dificuldade de compreensão e indicou a impossibilidade dos alunos em lidar com o tamanho da proposta necessária. Por outro lado, reforçou a percepção de que a realidade palpável é atraente. Ao longo do semestre os desafios foram de diversas ordens. O formato “via Escritório Modelo” mostrou-se mais frágil que o modelo interno à disciplina: compatibilizar a agenda do estudo regular, o trabalho e a vida pessoal com a atividade complementar do Escritório Modelo mostrou-se difícil para a maioria dos alunos, o que inviabilizou o acompanhamento das atividades do início ao fim. A equipe foi se transformando ao longo do semestre. O escritório deveria ser o espaço mais propício para essa prática, entretanto o comprometimento pessoal perdeu para os demais compromissos, no “perde/ganha” entenderam o este trabalho como passível de ser deixado de lado. As reuniões na prefeitura no período da tarde eram impeditivas para os alunos. Aqueles que puderam estar presentes apresentaram entusiasmo, participaram com perguntas. A frase de um aluno marcou aquele momento: “se ao menos uma pequena ideia puder ser aproveitada tudo vai ter valido a pena”– nenhum dos presentes naquela data acompanhou o processo até o fim.

O trabalho final “Gestão do território histórico não monumental: Setor Leste-Arco Tietê-Belenzinho” apresentou diretrizes e propostas específicas para a gestão de territórios onde convivem premissas de preservação e renovação. Algumas discussões foram intensas; permitiram abordar assuntos e fazer esclarecimentos que não se reproduzem facilmente em sala de aula. No processo metodológico buscou-se parceria com o curso de comunicação e com o Mestrado em urbanismo, obtidas com êxito.

Apenas dois seguiram até o final do semestre (10). O período de provas interrompeu o andamento do Escritório Modelo. O uso dos recursos tecnológicos para a comunicação da equipe e transito de arquivos foi fundamental para viabilizar a finalização fora do ambiente físico do Escritório Modelo. Neste e em muitos outros momentos a professora não estava no papel de professora, era membro da equipe, coordenador. A data 15 de dezembro significava para os alunos que haviam passado sem exame estar em férias, descanso da faculdade e ligação com as festas de final de ano. Os alunos da equipe do Escritório Modelo não compareceram, coube à professora a apresentação completa e o acompanhamento dos debates no dia 16, onde os técnicos da prefeitura interpretaram que as propostas das diversas instituições se distanciaram da discussão da lei, premissa inicial. Neste aspecto demonstraram certa decepção. Destacaram a necessária preparação para a carreira que contempla projetos urbanísticos no âmbito das administrações públicas e a aproximação do estudante com esta realidade. Aprendizado evidente: a necessidade de rever métodos e conteúdos das aulas regulares.

Exemplos da tabulação feita pelos alunos em 2010 [CARVALHO, Maria Albertina Jorge, PEREIRA, Marcio da Costa. A Vila operária Maria Zélia, 20]

A terceira fase

A terceira fase se iniciou no primeiro semestre de 2015, quando propus a continuidade do trabalho dentro do Escritório Modelo. Sem vinculo com a prefeitura o cronograma pôde ser moldado de acordo com o calendário semestral da instituição. O conhecimento das dificuldades percebidas na fase anterior (fragilidade do conhecimento e comprometimento) levou à construção de medidas que cuidassem destes aspectos.

Para o 1º semestre de 2015 o objeto de trabalho definido foi uma consequência natural, formar equipe para três atividades: preparação do material para a publicação da prefeitura; desvendar as dúvidas de compreensão da legislação urbanística (11); e organizar uma palestra que apresentasse a experiência do “Atelier Ensaios Urbanos” para a comunidade do FIAMFAAM. O engajamento dos alunos foi satisfatório e as reuniões permitiram reflexões a respeito do processo e possibilidades de desdobramentos com atividades para os semestres subsequentes.

Semestralmente estamos renovando os desafios deste trabalho tanto na disciplina como no Escritório Modelo. Busca-se colocar em prática as propostas aprofundadas no período de parceria com a prefeitura. O material gerado continua sendo entregue às associações locais. O contato com a prefeitura foi retomado por outras frentes. Um acordo de cooperação está ajustado para o segundo semestre de 2016 entre o Departamento de Patrimônio Histórico e o Escritório Modelo. Cerca de sessenta alunos prestarão serviços de levantamento e documentação semestralmente.

notas

NA – Artigo apresentado no 2° Encuentro “La formación universitária y La dimensión social del profesional” a 46 años del Taller Total, 2016.

NE – Sob a coordenação editorial de Abilio Guerra (editor do portal Vitruvius), esta edição especial da revista Arquitextos sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo contém textos selecionados dos artigos  apresentados em dois eventos ocorridos na Universidade Nacional de Córdoba, na cidade de Córdoba, Argentina: 1° Encuentro “La formación universitária y la dimensión social del profesional” a 45 años del Taller Total (2, 3 e 4 de setembro de 2015; eixos temáticos: 1. O ensino da arquitetura. 2. O primeiro ano universitário: expectativas, conquistas e frustrações. 3.A formação universitária e o compromisso com os problemas sociais, políticos, econômicos e culturais  da  região); 2° Encuentro “La formación universitária y la dimensión social del profesional” a 46 años del Taller Total (31 de agosto, 1 e 2 de setembro de 2016; eixos temáticos: 1. Hábitat, cidadania e participação. 2. A formação universitária e o compromisso com os problemas sociais,políticos, econômicos e culturais da  região. 3. O papel do estudante universitário no seu processo de formação professional  e cidadã). Em ambos os encontros o processo de avaliação dos artigos foi realizado por pareceristas, membros da comissão cientifica, especialistas na área de submissão, pelo sistema duplo cego, para garantir o anonimato e sigilo tanto do(s) autor(es) como dos pareceristas. Os eventos tiveram como objetivos a reflexão, debate e a recuperação da memória do Taller Total, experiência que se desenvolveu na  Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da  Universidade Nacional de Córdoba, FAU UNC, entre os anos 1970 e 1975. Avançou-se na discussão sobre o papel social do profissional universitário e suas capacidades para analisar integralmente e contribuir à solução dos problemas sociais locais e regionais que a presente realidade demanda. Dentre os eixos temáticos correspondentes aos dois encontros, se realizou um processo de seleção dos artigos referentes ao tema Ensino de Arquitetura e Urbanismo que resultou nos textos presentes na edição de Arquitextos. Foram responsáveis por esta seleção, Sylvia Adriana Dobry e Nora Zoila Lamfri (participantes do Comité Organizador e Cientifico de ambos encontros). Considerou se importante dar um panorama do assunto em vários países da América Latina privilegiando critérios de qualidade e pertinência ao tema. Para tanto, selecionaram-se artigos de autores provenientes de Argentina, Brasil e México, que foram convidados a adequá-los às normas da revista; os que responderam à solicitação são os seguintes artigos que formam o número especial de Arquitextos sobre os 1° e 2° Encuentro “La formación universitária y La dimensión social del profesional” a 45 y 46 años del Taller Total/ 2015 e 2016:

DOBRY, Sylvia Adriana; LAMFRI, Nora Zoila. Ateliê Total, um olhar desde o século 21. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.00, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6790>.

GOROSTIDI , Roberto Enrique; RISSO, Marta Teresa. Formación y docencia en la Universidad de hoy. Desafíos y Realidades. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.01, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6791>.

SANCHES, Débora. ArquiCriança: estudo a partir das crianças moradoras de cortiços e pensões em São Paulo. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.02, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6792>.

GIRÓ, Marta; FRANCO, Rafael; PELLI María Bernabela; PACE, Elizabeth; CAMPOS, Mariana; DEPETTRIS, Noel; OLMEDO, Rosario; PONCIO, Diego. La Cátedra Gestión y Desarrollo de la Vivienda Popular. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.03, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6793>.

PORTER, Luis; MIGLIOLI,Viviana. La enseñanza de la arquitectura hoy, las limitaciones del modelo de taller de proyecto y alternativas posibles.Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.04, Vitruvius, nov. 2017 < www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6794>.

PEDRO, Beatriz. Formación para el proyectar con la comunidad en la producción social del hábitat – Articulación de saberes populares y disciplinares. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.05, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6795>.

ARANTES, Pedro Fiori; SANTOS JÚNIOR, Wilson Ribeiro dos; LEITE, Maria Amélia Devitte Ferreira D’Azevedo. Um projeto de práticas pedagógicas transformadoras. A formação do arquiteto e urbanista no Instituto das Cidades da Unifesp na Zona Leste de São Paulo. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.06, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6803>.

CARVALHO, Maria Albertina Jorge. A experiência do laboratório de arquitetura e urbanismo e seus desdobramentos como atividade de extensão universitária. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.07, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6804>.

TEIXEIRA, Catharina Christina; et. al. A questão da habitação social no ensino de projeto integrado ao desenho urbano. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.08, Vitruvius, dez. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6818>.

1
O Escritório Modelo do curso de Arquitetura e Urbanismo do FiamFaam – Centro Universitário foi criado com o objetivo de aprofundar a formação dos alunos por meio de experiências práticas, organizadas como estágio obrigatório de 80 horas. Segue princípios da Extensão Universitária (integração do ensino e pesquisa com a sociedade) e busca preparar o aluno para a vida profissional, com orientação à postura, comprometimento e responsabilidade.

2
Em julho de 1967, 30 estudantes e 2 professores do antigo Estado da Guanabara passaram 28 dias em Rondônia conhecendo a realidade da Amazônia. Esta foi a primeira excursão.

3
Ver: Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. Comissão Permanente de Avaliação da Extensão Universitária. Institucionalização da extensão nas universidades públicas brasileiras: estudo comparativo 1993/2004. João Pessoa/ Belo Horizonte, Editora Universitária da UFPB/Coopmed, 2007.

4
I Encontro de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. Documento Final. Brasília, 1987, p. 11.

5
Sobre a política governamental para a área, ver: BRASIL. Plano Nacional de Educação PNE 2014-2014: Linha de Base. Brasília, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2015.

6
Região do Estado de São Paulo, no eixo de ligação entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro; nome referencia o vale do rio Paraíba do Sul.

7
CARVALHO, Maria Albertina Jorge. Intervenção urbana com participação da sociedade: noções teóricas e práticas na experiência dos canais institucionais de participação em Santo André – Projeto Centro com Vida. Dissertação de mestrado. São Carlos, EESC USP, 2004. Da mesma autora, ver também: CARVALHO, Maria Albertina Jorge, PEREIRA, Marcio da Costa. A Vila Operária Maria Zélia. Belo Horizonte, 2º Colóquio Ibero-americano Paisagem cultural, patrimônio e projeto, 2012; CARVALHO, Maria Albertina Jorge, TAVARES. Maria Cecilia Pereira. Considerações sobre a revisão na formação em arquitetura e urbanismo: a experiência do atelier ensaios urbanos no FIAMFAAM Centro Universitário. Revista internacional de Direito Ambiental, ano V, n. 14. Caxias do Sul, ES: Plenum, maio/ago. 2016, p. 249-268.

8
A democracia participativa pode ser aplicada por meio de consultas públicas, seja com debates ou votação. Países como EUA e Suíça tem tradição cultural e estrutura formatada legalmente e logisticamente. A Constituição brasileira de 1988 ampliou instrumentos que impõe e estimulam este valor como forma de gestão, quebrando a cultura tecnocrática e autoritária. Desde 1988 a estrutura governamental vem se transformando para atender às premissas impostas, fruto das reivindicações de movimentos populares, intelectuais e políticos. Essa vertente se amplia ainda mais na era digital, mas a prática abrange uma parcela mínima da população e técnicos. Em 2010 não havia disciplina no curso que tratasse a questão. Algum tempo depois outra disciplina incluiu este viés de trabalho em seu processo: Projeto de Urbanismo e Paisagismo: áreas periféricas.

9
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano – SMDU, coordenada pelo arquiteto Fernando de Mello Franco, foi responsável pela iniciativa por meio da Assessoria de Pesquisa Aplicada e Fomento e do Departamento do Uso do Solo – DEUSO coordenados por Carolina Heldt D’Almeida e Daniel Todtmann Montandon respectivamente. A iniciativa está inserida na concepção da administração municipal da gestão 2013-2016 de Fernando Haddad como instrumento participativo para a revisão da Lei.

10
Equipe Permanente: desenvolvimento e coordenação dos trabalhos: professora Maria Albertina Jorge Carvalho, alunos Marcia Ramos Pascowitch, Priscila Souza Gyenge e Rubia da Cruz Moura. Participações Parciais Amanda Schiassi, Andre Felipe Kruger, Carolina Aptekmann Bonifácio, Isac Bernardo Silva, Oscar Felizardo Escudero e Taina Lopes Conduru. Colaboração da Equipe de alunos do Mestrado para sistematização de dados, orientados pela professora Paula Katakura, alunos: Carlos Americo Kogl, José Pacheco Neto, Lilian Kristina Sales Amim, Priscilla Goya Ramos. Elaboração de Filme (7min), contém  entrevistas, retrata a história e o quadro atual da área - Equipe do Curso de Comunicação, curso de Rádio-TV, professora Cyntia Gomes Calhado, alunos Juan Carlos Chavez Huanca, Karla Priscila Vieira da Silva, Luciano Rodrigues Cordeiro, Luiz Henrique Marzola.

11
Concluíram com a confecção de filmes que explicassem aos demais alunos do curso os principais tipos de legislação. O conjunto de filmes foi exibido em exposição no campus ao final do semestre.

sobre a autora

Maria Albertina Jorge Carvalho, mestre em Arquitetura EESC–USP, 2004; especialização em Desenho e Gestão no Território Municipal, PUC Campinas, 1998; graduação, FAU-USP, 1989. Docente desde 1995 e no FIAM-FAAM – Centro Universitário desde 2002. Gestora do Escritório Modelo 2016-2017. Autora do texto “Preservação de patrimônio não monumental: vila operária Maria Zélia”, ArCiBel editores, Sevilha, 2012.

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03. Imagens do processo de trabalho

 

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