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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Dedicado aos 150 anos do nascimento de Frank Lloyd Wright, o workshop do 8º Ciclo de Estudos do DAU UEM enfocou questões de preservação, restauro e requalificação de patrimônio histórico do arquiteto.

english
Dedicated to the 150th anniversary of the birth of Frank Lloyd Wright, the workshop of the 8th Cycle of Studies of the DAU UEM focused on issues of preservation, restoration and requalification of the architect's historical heritage.

español
Dedicado al 150 aniversario del nacimiento de Frank Lloyd Wright, el taller del Octavo Ciclo de Estudios de la DAU UEM se centró en temas de preservación, restauración y recalificación del patrimonio histórico del arquitecto.


how to quote

FUJIOKA, Paulo Yassuhide; SUZUKI, Marcelo. Frank Lloyd Wright 150 anos: workshop de projeto na Universidade Estadual de Maringá em 2017. Relato de experiência didática. Arquitextos, São Paulo, ano 20, n. 238.00, Vitruvius, mar. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/20.238/7657>.

O objetivo deste artigo é ser registro e memória do workshop de projeto tipo charrete realizado no 8º Ciclo de Estudos – Arquitetura e Urbanismo do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro de Tecnologia da Universidade Estadual de Maringá – UEM PA, em maio de 2017. Este workshop do 8º Ciclo de Estudos enfocou questões de preservação, restauro e requalificação de patrimônio histórico arquitetônico (incluindo projeto de intervenção de arquitetura nova), e foi dedicado aos 150 anos do nascimento de Frank Lloyd Wright (1867-1959).

O objetivo do workshop charrete foi elaborar proposta de requalificação de uma prairie house projetada por Frank Lloyd Wright em 1915, a Emil Bach House em Chicago, preservada e recentemente restaurada, como um centro e laboratório de educação para restauro e preservação do patrimônio histórico moderno, nos moldes da Darwin D. Martin House Complex em Buffalo, Nova York, mantida pela Martin House Restoration Corporation. O tema do workshop foi proposto por dois arquitetos e professores do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Campus São Carlos – IAU USP, Paulo Yassuhide Fujioka e Marcelo Suzuki. Ambos foram convidados pelos professores de Projeto da UEM, sob supervisão de Eduardo Verri e Tania Nunes Galvão Verri.

Origens do workshop charette proposto

8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico
Foto Aníbal Verri

Em meados de 2016, o primeiro autor deste artigo, Paulo Yassuhide Fujioka, docente de Teoria e História da Arquitetura Moderna no IAU USP, recebeu convite da professora Tânia Nunes Galvão Verri, docente de Projeto do curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UEM, para propor um workshop charrete no 8º Ciclo de Estudos – Arquitetura e Urbanismo do curso, e que seria realizado em novembro. O convite foi, sem dúvida, entusiasmante e estimulante para este docente, que logo aceitou e, através de diálogos com a professora Tânia Verri, aos poucos construiu a proposta para o Ciclo de Estudos. De fato, os professores da UEM já tinham sugerido que o tema do workshop fosse vinculado a questões de patrimônio histórico arquitetônico ou à obra e ideias do arquiteto norte-americano Frank Lloyd Wright (1867-1959), um dos mestres pioneiros do Movimento Moderno e objeto de pesquisa de longa data do docente convidado, incluindo sua tese de doutorado Princípios da Arquitetura de Frank Lloyd Wright e suas influências na arquitetura moderna paulistana (1).

O Ciclo de Estudos da UEM vem se firmando como um evento de prestigio, com seus workshops, cursos e palestras recebendo docentes convidados de escolas de arquitetura importantes como FAU USP e Escola da Cidade. Ser convidado para um workshop deste porte foi motivo de alegria, mas também trouxe o peso de dar uma resposta de qualidade para os alunos e professor participantes. Daí a necessidade do convite a outro docente para que participasse junto deste workshop. Convidou-se o segundo autor deste artigo, Marcelo Suzuki, professor de Projeto no IAU USP desde 1990, e com grande experiência em projeto de arquitetura de intervenção em sítios de interesse histórico.

Entretanto, no início do segundo semestre, recebemos a notícia do cancelamento do Ciclo de Estudos da UEM devido às paralisações, greves e protestos nas universidades públicas estaduais, e no sistema de ensino público de 1º e 2º Grau do Estado do Paraná, desencadeados pelos cortes de recursos públicos para a educação pelo Governo do Estado da época, cortes provocados pela crise econômica. Os professores da UEM anunciaram a possibilidade de o Ciclo de Estudos ser realizado ainda no primeiro semestre de 2017, incluindo a realização do workshop, o que de fato foi comunicado depois.

Por outro lado, ainda em 2016, o sempre movimentado noticiário sobre a pesquisa e divulgação da obra de Wright nos Estados Unidos já anunciava os preparativos numerosos para o sesquicentenário do nascimento em 1867. Assim, concluiu-se a proposta na forma de um oportuno workshop que incluiria palestras sobre a obra de Frank Lloyd Wright, e mais restauro e requalificação de patrimônio histórico moderno (preparatórios) e a charette de projeto – intitulado Frank Lloyd Wright: o mestre moderno aos 150 anos – Homenagem ao mestre moderno no 8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico: uma proposta para a Emil Bach House, projeto residencial de Frank Lloyd Wright em Chicago (1915).

O 8ª Ciclo de Estudos foi realizado entre 16 a 19 de maio de 2017, tendo como coordenadores os docentes da UEM Eduardo Verri e Tânia Nunes Galvão Verri, com a colaboração dos professores Aníbal Verri e Maurício Azuma, da UEL.

Projeto e justificativa do workshop charrete

8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico
Foto Aníbal Verri

O objetivo foi celebrar e estudar a obra do arquiteto Frank Lloyd Wright (1867-1959), um cinco dos mestres pioneiros do movimento moderno, aos 150 anos de seu nascimento – através de palestras e workshop charette de intervenção na Emil Bach House, residência unifamiliar projetada por Wright em Chicago (1915), exemplo da fase final do período das prairie houses do arquiteto e preservado como patrimônio histórico arquitetônico municipal. Desta forma, a UEM participou da celebração internacional do sesquicentenário do nascimento de Frank Lloyd Wright que, de todos os mestres do Movimento Moderno, como os cinco pioneiros (Gerrit Rietveld, Frank Lloyd Wright, Le Corbusier, Mies van de Rohe e Walter Gropius) e os três mestres da consolidação (Alvar Aalto, Kenzo Tange e Oscar Niemeyer), foi o menos citado e estudado, principalmente no Brasil.

Enfatizou-se que a longa e prolífica carreira de Wright abrangeu setenta anos, entre os anos mais tumultuados dos séculos 19 e 20. Frank Lloyd Wright iniciou sua prática bem antes do surgimento do moderno, influenciado pelo Arts & Crafts e a Sezession. Seus primeiros quinze anos de produção individual (fase prairie) apontaram caminhos de afirmação para os (então) jovens Gropius, Mies, Corbusier, Richard Neutra e Eric Mendelsohn, quando da publicação do catálogo Wasmuth de 1910. Este período de produção de setenta anos, incluiu 640 projetos, 21 livros, 219 artigos – numa trajetória aventuresca e dramática, com momentos distintos que abrange três fases de arquitetura (prairie, intermediária e usoniana) como se fossem três vidas de arquitetos diferentes, cada fase com uma contribuição distinta para o movimento moderno.

Durante muitos anos após sua morte em 1959, a pesquisa sobre Frank Lloyd Wright ficou estagnada, com poucas obras de peso publicadas sobre o tema. Assim, de todos os grandes mestres do movimento moderno, Wright permaneceu o menos conhecido. E talvez por isso, aos poucos caiu em relativo esquecimento, sobrando apenas o anedotário de depoimentos e entrevistas, além de uma ou outra reedição de algum livro escrito pelo próprio Frank Lloyd Wright.

Uma das principais causas desta estagnação foi justamente o difícil e restrito acesso aos arquivos do arquiteto na Frank Lloyd Wright Foundation, com exceção de alguns estudos notáveis, como os de Peter Blake, Robert Twombly, Norris Kelly Smith, John Sergeant e Lawrence K. Eaton. Foi somente a abertura irrestrita dos arquivos da Frank Lloyd Wright Foundation nos anos 1980 que tornou possível a explosão de grandes estudos sobre Frank Lloyd Wright (catalisador da explosão de popularidade da obra do arquiteto), agora também identificado com outras vertentes de interesse, como a preservação do meio-ambiente, a arquitetura vernacular de origem oriental, islâmica, medieval e indígena, o Arts and Crafts, a arte japonesa, o transcendentalismo americano do século 19 (Thoreau, Whitman, Emerson) etc.

A partir da abertura dos arquivos, estudos biográficos sobre Wright (Meryle Secrest, Ada Huxtable) lançaram novas luzes sobre sua carreira e ideias, somados às grandes e exaustivas monografias que não somente ampliaram o conhecimento sobre FLLW como também renovaram completamente a visão historiográfica sobre o arquiteto (Robert McCarter, Neil Levine, Jean-Louis Cohen, Kenneth Frampton, Jack Quinan etc.). Novas linhas de pesquisa se abriram, como a de Frank Lloyd Wright e o Japão (Kevin Nute, Julia Meech, Kathryn Smith), a partir da teses de doutorado na Inglaterra e pesqusias museológicas nos EUA, levaram à formação no Japão de grupos de pesquisa sobre Wright e o Japão.

No Brasil, a pesquisa pioneira e aprofundada de Adriana Irigoyen praticamente esgotou o assunto em relação às viagens de Wright ao Brasil e de Vilanova Artigas aos Estados Unidos e a Taliesin per se (2). Desta forma, a pesquisa de doutorado, do primeiro autor deste artigo, procurou aprofundar outros aspectos pouco estudados da presença de Frank Lloyd Wright na Arquitetura Moderna Brasileira – enfocando arquitetos brasileiros influenciados por Wright ainda inéditos, ou seja, que ainda não foram estudados, abordados ou pesquisados a fundo na historiografia recente do movimento moderno no Brasil (3).

A pesquisa deste primeiro autor pretendeu contribuir para resgatar os valores e princípios da arquitetura orgânica e enfatizar sua atualidade e seu potencial para o debate sobre os rumos da arquitetura brasileira atual, particularmente pela contribuição que o organicismo pode dar em relação a temas como o diálogo com a paisagem natural, o uso e melhoria de materiais e técnicas regionais, o respeito crítico à cultura e tradição local, economia de energia na edificação etc. Esta pesquisa evoluiu para a investigação de novos aspectos após a conclusão da pós-graduação e ainda prossegue atualmente.

A ideia do workshop partiu de experiências anteriores, dentro do Curso de Graduação do IAU USP desde 2016, da necessidade de reforçar questões da prática do arquiteto no campo do patrimônio histórico arquitetônico, artístico e natural em relação à teoria do patrimônio, preservação, restauro, projeto e políticas públicas, através do estudo de casos de estudo peculiares, de preservação e intervenção de arquitetura nova, em São Paulo e São Carlos. Com a proximidade do sesquicententário do nascimento de Frank Lloyd Wright, percebeu-se a oportunidade de celebrar e estudar a obra do mestre norte-americano a partir de um exercício de intervenção de projeto em alguma obra de seu vasto acervo de realizações. A Emil Bach House foi escolhida pelas notáveis qualidades de projeto, uma prairie house de tijolo, concreto e madeira que já aponta caminhos em direção ao Moderno, e que foi visitada pelo primeiro autor deste artigo em 2013 durante viagem de pesquisa a Chicago (na época, em fase de restauro), com bolsa Auxílio Regular a Docente da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo – Fapesp.

A Emil Bach House

A Emil Bach House (1915) foi uma das últimas prairie houses projetadas antes do início da fase japonesa da carreira de Frank Lloyd Wright (1913-1922). Foi construída no bairro-jardim residencial de Rogers Park, perto do Lago Michigan. A referência bibliográfica mais completa sobre o projeto e a obra da casa está no monumental compêndio Frank Lloyd Wright – Monographs and Preliminary Studies em doze volumes, editado por Yukio Futagawa e Bruce Brooks Pfeiffer, e publicado originalmente pela A.D.A. Edita Tokyo em 1988-1990 (4).

Emil e Anna Bach contrataram Wright em 1915 para projetar e construir uma casa num lote que tinham adquirido, em fins de 1914, na 7415 North Sheridan Road em Rogers Park, um típico bairro-jardim do norte de Chicago, à beira do Lago Michigan. Emil Bach era fabricante de tijolos, um dos proprietários da Bach Brick Company de Chicago. Frank Lloyd Wright calculou o custo do projeto e construção na ordem de US$10.000,00 (que seriam US$250.000,00 em valores atuais) para a “little dream house” do casal Bach, segundo breve texto de Robert J. Hartnett no website da Tawani Enterprises, que atualmente administra a casa para fins comerciais (5).

O casal Bach morou na casa durante dezenove anos, até sua venda em 1934. A residência passou por quatro proprietários até 2003, quando foi posta à venda pela Toulabi por US$ 1 milhão, e depois foi anunciado que seria por US$1,9 milhões (outras fontes indicam US$2,5 milhões), evidência da alta valorização e popularização da obra de Frank Lloyd Wright – resultantes do boom de pesquisas e publicações, inclusive dirigidos ao público leigo, após a abertura geral e irrestrita do acervo da Frank Lloyd Wright Foundation Archives depois de 1985. Desde então, considera-se que Wright é o único arquiteto nos Estados Unidos que tem o status de ícone pop do século 20 junto ao grande público, como Elvis Presley ou Michael Jackson.

O próprio compêndio Frank Lloyd Wright – Monographs and Preliminary Studies só poderia ser publicado após a abertura dos arquivos, que totalizavam 23.000 desenhos, 600 manuscritos de textos, 300.000 peças de correspondência profissional e pessoal, dezenas de maquetes e 44.000 fotografias históricas.

A casa foi registrada como Chicago Landmark em 1977 (bem histórico protegido pelo Município para fins de preservação, e com aprovação e apoio estadual da Landmarks Preservation Council of Illinois) e registrada no National Register of Historic Places em 1977 (6).

Ao contrário do que se esperava, a Emil Bach House ficou por meses sem compradores, e ao final foi vendida em leilão por US$ 750,000. O valor final obtido, relativamente baixo para uma casa de Wright, deveu-se por dois motivos: primeiro, a localização atual em bairro que nasceu como um refúgio de subúrbio junto a praias do Lago Michigan (o terreno original da casa avançava até a orla da praia, permitindo que Emil Bach pudesse pratica natação de manhã no lago).

Entretanto, Rogers Park passou por grande adensamento e valorização ao longo do século 20, com a construção dos prestigiosos campi da Loyola University Chicago (no bairro) e Northwestern University (mais ao norte), além do lakefront residencial de gabarito baixo, ajardinado e com praias bem cuidadas – sem perder a qualidade de vida ambiental, conforme este autor constatou durante visita à casa e arredores. Entretanto, muitos compradores potenciais consideraram o trânsito muito pesado” na North Sheridan Road, para uma rua de moradias unifamiliares (de fato é atualmente um dos principais corredores de tráfego do bairro, junto com a transversal West Jarvis Avenue, apesar desta simpática via lembrar mais uma rua, ou alameda, pela escala, arborização e apartamentos de dois a três andares, do que uma avenida).

O segundo, e mais importante motivo, foi a impossibilidade de reformar ou ampliar a casa, sendo que qualquer intervenção na arquitetura ou no paisagismo requer autorização prévia das autoridades públicas, por ser bem protegido legalmente em nível municipal, estadual e federal pela Chicago Landmarks Commission, pelo Landmarks Preservation Council of Illinois e pelo National Register of Historic Places. De fato, estas “landmark ordnances” (proteção legal) garantiram que a casa não fosse demolida para fins de especulação imobiliária, porque a classificação RT-4 de zoneamento da quadra da Emil Bach house permite a construir condomínios verticais ou horizontais.

Ao final, a casa foi restaurada sob supervisão da Frank Lloyd Wright Trust e aberta ao público para visitação em 2014, ONG fundada em 1974 com o nome original de Frank Lloyd Wright Home and Studio Foundation, e cujo objetivo inicial era adquirir, restaurar e preservar como casa museu, a residência e atelier de Wright em Oak Park, onde ele concebeu e aperfeiçoou paulatinamente o conceito de arquitetura orgânica, ao longo de 10 anos de evolução e refinamento das prairie houses (bem protegido como National Historic Landmark desde 1976). O restauro da casa-atelier foi concluído, em co-adminstração com a National Trust for Historic Preservation, em 1987 (ao custo de US$3 milhões e premiado pelo American Institute of Architects – AIA). Depois, a ONG passou a promover a preservação de várias obras de Frank Lloyd Wright em Chicago, incluindo a Emil Bach house, com a sua denominação atual e a finalidade de “engajar, educar e inspirar o público através da interpretação do legado projetual de Frank Lloyd Wright”, além da preservação do patrimônio arquitetônico e documental de Frank Lloyd Wright em Chicago (7).

Todas as obras de Wright preservadas pela Frank Lloyd Wright Trust estão abertas ao público com visitas guiadas, que devem ser reservadas com grande antecedência, devido à imensa popularidade nacional e internacional do arquiteto e sua obra junto ao público, leigo ou profissional.

A Emil Bach House está aberta a visitação através de tours operados pela Frank Lloyd Wright Trust, mas com a peculiaridade de ser ainda propriedade da Tawani Enterprises Inc. desde 2009 e disponível, através da Tawani Property Management Hospitality como a única casa projetada por Wright em Chicago disponível como hospedagem privada (com dois quartos e um estúdio) e aluguel para pequenos eventos familiares (internos) ou familiares e comerciais de porte maior (externos com serviços de buffet etc) (8).

Pelos padrões de hoje seria uma habitação relativamente modesta para a classe média, mas o programa não diferia muito de outras casas unifamiliares das cidades afluentes dos Estados Unidos anteriores à Primeira Guerra Mundial. Assim sendo, é similar, em termos de programa e dimensões, a outras prairie houses: trata-se de um sobrado com subsolo, três quartos, varanda e um banheiro no andar superior, térreo com hall, varanda e salão em L em que a tradicional lareira central divide o ambiente em estar e jantar. Há um quarto de empregada também no andar de cima. Um segundo banheiro será acrescentado depois, para servir o quarto da empregada. Um programa bem simples para quem viveu nas casas modernas do boom da classe média brasileira, nas décadas de 1960-1970, o que se espelha também no modesto total de área construída da Casa Emil Bach: 250,84m².

Para Wright cada projeto, por mais modesto que fosse, era uma oportunidade de pesquisa experimental, seja na solução de planta, de estrutura, de materiais e de conforto ambiental. Daí muito de sua obra construída apresentar defeitos construtivos desde sua conclusão. Tais problemas, geralmente de cobertura, impermeabilização, ventilação e temperatura dos interiores, e materiais pré-fabricados em série, eram resultado não de falta de zelo pelo detalhe projetual, mas pelo excesso de criatividade experimental, um prazer entusiasmado e sem limites pela inovação técnica. Para que adotar uma solução padrão, consagrada pela experiência e pela tradição? Qual seria a graça disso? Vivia-se uma era de transformações jamais vista na História: telégrafo, telefone, eletricidade, eletrodomésticos, água encanada e esgoto tratado, trens, automóveis, navios a vapor, aviões, pasteurização na indústria alimentar e na Medicina (vacinas, raio-X, anestesia em cirurgias etc.).

Então, por que a arquitetura e a construção civil deveriam permanecer como eram desde a Idade Média, com as técnicas tradicionais de pedra, tijolo, argamassa, madeira, ferro? O aço já estava sendo utilizado na construção, o concreto armado inventado pelos romanos já tinha voltado a ser utilizado e aperfeiçoado. Uma nova era de materiais disponíveis, que também convidava a uma nova arquitetura que fosse expressão dos materiais novos ou de uma nova abordagem dos materiais existentes, conforme uma “gramática dos materiais”, parte dos princípios de uma nova arquitetura, “orgânica”, em suas palavras, tais como definidas na série de ensaios In the Cause of Architecture, publicada para a revista Architectural Record, entre 1908 e 1952; e no An Autobiography de 1932 (9).

Tais princípios podem ser resumidos em: Princípio da unidade (na relação do projeto com a paisagem, na modulação dos espaços, no sistema construtivo pela ideia de módulo definido pela proporção área ou por dimensões de materiais como blocos, tijolos, tábuas etc.); Princípio da plasticidade (os materiais devem fluir, amoldar-se e crescer dentro do espaço, ao invés de cortados, juntados, montados – estrutura, piso e fechamento podem ser uma única coisa); Princípio da continuidade (fluidez espacial que, pelo sentido de plasticidade, pode-se conformar um espaço livre e aberto, e sem existir um limite claro entre o que é espaço construído e a natureza ao redor); Tal princípio da continuidade se manifesta interiormente no princípio da “destruição da caixa”, ou seja, eliminar a compartimentação das salas em sequência contígua; Princípio da obediência à natureza dos materiais (uso funcional e racionalização de materiais e estruturas aparentes); Princípio da horizontalidade (também parte da ideia de continuidade): um novo sentido de escala humana baseada na horizontalidade, e na integração do edifício com a paisagem da grande planície do Meio-Oeste; e por fim, o partido da planta cruciforme ou catavento, com os espaços sendo organizados ao redor de um ponto central, e voltados para a melhor fruição da paisagem natural ao redor. Ou seja, na “arquitetura orgânica”, uma expressão construtiva inspirada na natureza do sítio na qual está implantada – estabelecendo uma relação com o tempo, o passado e a geografia/ geologia do lugar (10).

Como projeto arquitetônico, a Emil Bach House se distingue, da maior parte das prairie houses anteriores, por ser um raro exemplo de um período de experimentação final da fase prairie, em que Wright refletia a experiência de sua primeira viagem à Europa em 1910, em particular a Berlim e Viena, tema que foi tratado com distinção por Anthony Alofsin em Frank Lloyd Wright – The Lost Years, 1910-1922: A Study of Influence (1993) e Frank Lloyd Wright: Europe and Beyond (1999) (11).

Entre as casas deste período de experimentação pós-Viena e Berlim, a Emil Bach House de 1915 é contemporânea da Frederick C. Bogk House em Milwaukee, Wisconsin (1916-1917); e da Allen-Lambe House em Wichita, Kansas (1916-1918) – todos considerados ainda como prairie houses pela historiografia wrightiana, mas plasticamente distintas pelo diálogo experimental estilístico-espacial de Wright com a Sezession vienense. Entretanto, os projetos mais característicos desta influência é o grande conjunto do Midway Gardens em Chicago (1914, demolido em 1929), este sim fruto primordial do contato com a Sezession vienense, bem como o primeiro projeto de Frank Lloyd Wright em escala urbana. O Midway Gardens foi um empreendimento de empresários de Chicago, inspirado nos cafés, teatros, music halls cabarets de Viena. Wright foi convidado para o projeto justamente após seu retorno do grand tour europeu tardio. Como Midway Gardens, Frank Lloyd Wright inicia uma fase de transição para a fase “maia” (1923-1929) que se conclui com outro grande projeto de impacto urbano: o Hotel Imperial em Tokyo, cujo longo processo de projeto e construção, coordenada pelo próprio Wright, iniciou-se com os primeiro contato em 1914, a viagem a Tokyo em 1913 (visita ao sítio e estudo preliminar), o projeto básico aprovado em 1916 e a construção em 1919-1923. A própria fase “maia” (iniciada com a Aline Barnsdall “Hollyhock” House em Los Angeles de 1919-1921 e o Armazém AD German em Richland Center, Wisconsin em 1921) também pode ser considerada um breve período transicional entre as fases prairie e usoniana.

Dentro desta experimentação estilística, a Bogk House se destaca tanto quanto a Bach House. Entretanto, a Bogk House tem uma volumetria estranhamente muito pesada e pouco dinâmica, particularmente para uma obra de Wright. Aqui a inspiração arquitetônica vienense parece ser maior, lembrando um pouco o Pavilhão da Sezession (1898) de Joseph Maria Olbrich na volumetria, senso de simetria, beirais e frisos. Na Bogk House, destacam-se os magníficos frisos de modulação cúbica. De tema angelical, produzidos pelo mestre Richard Bock (1865-1949), um dos legendários colaboradores de Wright de origem germânica, menos floreais e mais abstratos, geométricos do que os de Olbrich.

Já na Emil Bach House não há volumetria maciça e simétrica, ou frisos e outros ornamentos, sendo uma casa de programa mais simples e escala mais aconchegante, mas com uma solução de projeto mais rica e ousada. Há um dinâmico jogo volumétrico, derivada da organização funcional dos ambientes em planta catavento sob uma matriz quadriculada modular, que posiciona as paredes, pilastras e aberturas; dimensionando cada cômodo.

O resultado é uma movimentação variada de fachadas, pilastras, aberturas e beirais, evidenciando-se aqui a persistência de Wright em promover a destruição da caixa, a horizontalidade e a continuidade espacial; e também procurando liberar a estrutura das paredes externas e internas – talvez desde o projeto da Arthur M. Heurtley House em Oak Park (1902). Tal esforço está expresso internamente nos nichos, criados ao soltar as paredes das pilastras e, externamente, nas seteiras, vitrais, jardineiras, nichos e janelas de canto, criados para demonstrar que existe uma estrutura independente das paredes externas de tijolo. Tais estruturas eram geralmente mistas, compostas de pilares, pilastras ou cortinas de aço, tijolo e concreto sustentando pisos de concreto, madeira e perfis de aço, e com cobertura de telhado sob terças e tesouras de madeira, com vigas de aço de reforço que permitiram os grandes beirais em balanço. Os melhores exemplos seriam a Darwin D. Martin House em Buffalo, Nova York (1902-1904, talvez a mais espetacular de todas as prairie houses) e a célebre Robie House em Chicago (1908-1910).

Na relação com o exterior, evidencia-se a integração, entre os jardins e a edificação, através das patamares de degrau que organizam os jardins e que conduzem às varandas e ao acesso principal lateral como na maioria das casas de Wright (só algumas pouca obras públicas, como o caso do Solomon Guggenheim Museum, de 1959, tem acesso principal frontal).

Não há frisos esculpidos, pináculos ou outros detalhes ornamentais, mas uma forte ênfase nas linhas horizontais, como no uso de tijolos aparentes do tipo roman brick (tijolos modernos que remetiam aos tijolos do tempo do Império Romano, mais cumpridos e achatados, dimensões 4 x 2 x 12 polegadas), e nos frisos lisos que atuam como elementos unificadores de janelas, terraços, peitoris, portas, nichos, jardineiras, varandas – ao definir uma altura em comum para todos (princípios de unidade e horizontalidade).

Emil Bach House, canteiro de restauro, Chicago, Illinois, Estados Unidos, 1915. Arquiteto Frank Lloyd Wright
Foto Paulo Fujioka, 2013

Tais frisos também estão presentes no interior das obras da fase prairie, atuando como rodaparedes, e enfatizando a horizontalidade ou verticalidade dos espaços, e igualmente inscrevendo janelas, terraços, peitoris, portas, nichos, jardineiras, varandas, closets (de novo, princípios de unidade e horizontalidade).

Nas fachadas, tais frisos se destacam desde a Susan Lawrence Dana House em Springfield, Illinois (1900-1904, atual Dana-Thomas House, também com tijolos tipo roman brick), passando pela Ward W. Willits House em Highland Park, Chicago (1900-1902, ao norte de Rogers Park, uma das melhores prairie houses), na Unity Temple em Oak Park (1905, aqui, apenas internamente), na Darwin D. Martin House em Buffalo, Nova York (1902-1904, mencionado acima), na Robie House (1908-1910), e na Mrs. Thomas Gale House em Oak Park (1904-1909). Esta última constitui um prenúncio da arquitetura moderna, com suas fachadas de linhas e janelas corridas e sem ornamentação, a expressão estrutural e o grande balcão em balanço que o próprio Wright considerava como o primeiro passo em direção aos balcões da Fallingwater (Bear Run, Pensilvânia, 1934-1937). De fato, faria boa figura em qualquer revista de arquitetura moderna dos anos 1940-1960.

É possível concluir que tanto a Emil Bach House como a Mrs. Thomas Gale House são exemplos de arquitetura residencial de vanguarda, do início do século 20, que já escapam das referências das vanguardas europeias contemporâneas (como Art Nouveau, Sezession, Deutsche Werkbund etc.) para apontar ou prenunciar o Movimento Moderno, pela destruição da caixa, a busca de uma planta de espaços fluidos e desimpedidos, a integração com os jardins, a estrutura se tornando independente, a ausência de ornamentação, a modulação estrutural e racionalidade construtiva.

Um último pormenor curioso: a West Jarvis Avenue, transversal da North Sheridan Road que define a quadra onde está a Emil Bach House, parece mais uma simpática alameda, pela escala, arborização e apartamentos ajardinados de dois a três andares (de vários períodos históricos), provavelmente de estudantes e professores universitários pela proximidade de campi nas imediações. A via termina surpreendentemente no Lago Michigan, na orla de uma praia. Ao lado, um pequeno parque junto à praia, bem cuidada e preservada, recebeu o nome de Marion Mahoney Griffin Beach Park em 2015, pela Prefeitura de Chicago, em homenagem à grande colaboradora de Wright na fase prairie, de fato seu braço direito nos projetos. Marion Mahoney (1871-1961) se casou, em 1911, com outro colaborador destacado de Frank Lloyd Wright, Walter Burley Griffin (1876-1937). Os dois passaram muitos anos na Austrália, após vencer o concurso internacional do plano diretor da nova capital do país, Canberra, além de desenvolver outros projetos na Austrália e na Índia. Após o falecimento de Griffin, Marion Mahoney voltou a Chicago, onde morou nas imediações da praia em Rogers Park desde 1939, daí a homenagem prestada a um dos maiores arquitetos americanos do século 20, e cuja obra só recentemente foi reconhecida e pesquisada.

Tema e programa do workshop charrete

8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico, maquete-base montada pelo professor Maurício Azuma, com croquis e maquete de proposta de equipe
Foto Paulo Fujioka

No workshop, os participantes foram orientados a elaborar um estudo preliminar de intervenção em pré-existência de interesse para o patrimônio histórico arquitetônico, neste caso, a Emil Bach House. Material de suporte foi fornecido na forma de arquivos .pdfs de referências para pesquisa, apresentação PowerPoint da casa e maquete digital em SketchUp. O estudo foi desenvolvido a lápis sobre papel manteiga e maquetes de papel.

Como vimos acima, a Emil Bach House passou por um processo de restauro e revitalização, com projeto e obra aprovados pelas autoridades de preservação municipais, estaduais e federais. Neste processo, a casa foi convertida em hospedagem privada do tipo charme pela Tawani Enterprises, Inc., passando a ser uma unidade da Tawani Property Management Hospitality. Pode ser alugada para hospedagem privada e para pequenos eventos familiares (internos) ou familiares e comerciais de porte maior (externos com serviços de buffet etc.). Como apoio para tais eventos externos, foi construído um anexo no quintal dos fundos da casa, com aprovação dos órgãos pertinentes de preservação acima, denominado Japanese Tea House. A arquitetura deste pequeno anexo é discreta e se harmoniza, na medida do possível, com a pré-existência desenhada por Frank Lloyd Wright.

8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico
Foto Aníbal Verri, Tânia Verri e Júlia Galvão Verri

A proposta do workshop consistiu em sugerir hipoteticamente uma alternativa programática para a Emil Bach House, inspirado em dois exemplos: a Glessner House em Chicago e o Darwin D. Martin House Complex em Buffalo, Nova York.

A Glessner House é o célebre casarão de pedra projetado por H.H. Richardson (1887), bem histórico protegido como National Historic Landmark e em instâncias estaduais e municipais. Desde 1966 o espaço é preservado pela ONG Glessner House Museum como um centro cultural dedicado à história da arquitetura, dos arquitetos e da cidade de Chicago, em pareceria com a Society of Architectural Historians e a Chicago Architectural Biennial. A Glessner House é uma casa-museu e biblioteca sobre preservação do patrimônio histórico arquitetônico, e também oganiza palestras, cursos, exposições, walking tours, concertos, seminários. Tornou-se um dos principais centros culturais do centro-sul da cidade (12).

Já o complexo da Darwin D. Martin House, que inclui a Barton House (também projeto de Frank Lloyd Wright, 1903-1904) é mantido pela Martin House Restoration Corporation, instituição criada para o restauro e preservação da Darwin D. Martin House e as outras casas históricas do complexo. Os trabalhos de restauração levaram vinte anos até sua conclusão, e de fato nunca serão encerrados, pois as construções do complexo demandam trabalhos contínuos de preservação, por força das intempéries a cada estação do ano. Funciona também como uma casa-museu e centro de estudos sobre preservação do patrimônio histórico arquitetônico, e também organiza palestras, cursos, exposições, walking tours, seminários. Uma característica notável do conjunto é o anexo, inaugurado em 2009, que abriga o Visitors Center, fruto de concurso nacional de projetos vencido por Toshiko Mori. Este centro de visitação abriga espaço de exposições, auditório, e espaços de curadoria (13). O primeiro autor visitou os edifícios do complexo, incluindo o anexo projetado por Toshiko Mori, nas viagens de pesquisa de 2013 e 2014 com Bolsa Auxílio Regular a Docente da Fapesp.

8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico
Foto Aníbal Verri, Tânia Verri e Júlia Galvão Verri

Neste sentido, a Emil Bach House poderia se tornar, hipoteticamente, uma instituição nos moldes dos casos acima. Pode-se argumentar que Chicago já teria a Glessner House, mas como esta se localiza no Centro-Sul da cidade, a Bach House poderia ter funções similares ao norte da cidade. Assim, poderia se tornar uma casa-museu e centro de estudos sobre preservação. Como as dimensões da casa são pequenas, seria necessário um anexo (que estaria implantada onde atualmente está a casa de chá). O anexo proposto teria funções similares ao Darwin D. Martin House Visitors Center, com recepção/ lojinha, espaço de exposições e museu, auditório, toaletes, cozinha de apoio a eventos, depósito, sala de curadoria, apoio administrativo. Além destes ambientes, também seria necessário uma sala de aula e laboratório de restauro (que, no caso da Martin House, se encontram no porão do casarão).

Memorial de atividades do workshop charette

As atividades didáticas foram divididas em três partes: palestras (16 e 17 de maio), workshop (18 e 19 de maio) e avaliação (19 de maio à tarde).

A primeira atividade ocorreu no fim de tarde da terça, 16 de maio, com a palestra “Introdução à arquitetura organicista de Frank Lloyd Wright”, de Paulo Fujioka. A palestra enfocou os seguintes aspectos: o sesquicentenário do nascimento de Wright e suas atividades de comemoração nos Estados Unidos; o arquiteto como construtor, designer, urbanista, paisagista, pesquisador, educador; características da vida e obra de Frank Lloyd Wright; princípios da arquitetura organicista de Wright; fases prairie, “maia” e usoniana; e os principais edifícios e propostas urbanísticas.

A segunda atividade ocorreu na quarta 17 de maio, também fim de tarde, com a palestra “Casos de estudo brasileiros em intervenção de arquitetura nova em sítio de interesse histórico / patrimônio cultural”, de Marcelo Suzuki, com ênfase em obras e ideias de Lucio Costa e Lina Bo Bardi.

8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico
Foto Aníbal Verri, Tânia Verri e Júlia Galvão Verri

Na quinta, 18 de maio, pela manhã, palestra sobre casos de estudo internacionais em intervenção de arquitetura nova em sítio de interesse histórico/ patrimônio cultural, de Paulo Fujioka e Marcelo Suzuki: uma breve introdução crítica às definições do patrimônio histórico arquitetônico, com apresentação de exemplos nacionais e internacionais, de casos de projetos em que arquitetos tiveram que lidar com a pré-existência de arquitetura histórica a ser preservada, bem como seus casos mais peculiares de projeto: Erik Gunnar Asplund, Giancarlo de Carlo, Carlo Scarpa, Renzo Piano, Tadao Ando, Sverre Fehn, entre outros. Seguiu-se uma apresentação da Emil Bach House e do exercício de projeto (Paulo Fujioka/ Marcelo Suzuki). À tarde iniciou-se o workshop de projeto de intervenção, com os professores Fujioka, Suzuki, Eduardo Verri, Tania Nunes Galvão Verri, com a colaboração dos professores Maurício Azuma (UEL) e Aníbal Verri.

Logo no início, verificou-se que a maquete digital era insuficiente. Seria necessária uma maquete-base física da casa e do sítio. A modelo de papel de cada proposta de equipe, na mesma escala, poderia ser posicionada no sítio da maquete-base. O docente convidado Maurício Azuma rapidamente produziu a esta maquete-base.

Na manhã da sexta, 19de maio, continuou-se o workshop de projeto de intervenção. De tarde, concluiu-se o workshop com seminário de avaliação, que contou com a participação de Fujioka, Suzuki, Eduardo, Tania, Azuma e Aníbal.

8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico
Foto Aníbal Verri, Tânia Verri e Júlia Galvão Verri

8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico
Foto Aníbal Verri, Tânia Verri e Júlia Galvão Verri

8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico
Foto Aníbal Verri, Tânia Verri e Júlia Galvão Verri

Avaliação do workshop charrete

8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico
Foto Aníbal Verri, Tânia Verri e Júlia Galvão Verri

A experiência do workshop foi extremamente estimulante e gratificante. Fomos acolhidos com uma recepção calorosa por parte dos alunos e professores da UEM. Durante todo o 8º Ciclo de Estudos, cada palestra foi acompanhada por uma plateia atenta e interessada, que lotou o auditório do campus e não se retirou até o término de cada evento, apesar das palestras serem realizadas à noite e levando-se em conta o cansaço do dia inteiro das diversas atividades do ciclo de estudos. O entusiasmo dos alunos com cada palestra era confirmado no dia seguinte pelas repercussões nos corredores e nas redes sociais.

O workshop foi programado para os últimos dias da semana do Ciclo de Estudos, mas mesmo assim a presença dos alunos foi maciça e animada, e todos os professores presentes notaram o imenso entusiasmo dos alunos que, divididos em equipes, desenharam as propostas de preservação e intervenção na Emil Bach House com muita energia e animação. Entusiasmo que o cansaço não venceu, ao longo de dois dias, incluindo uma épica virada de noite com chuva torrencial intermitente e tempestade de raios.

Inigo Jones escreveu Altro diletto che imparar non trovo (“não encontro outro prazer que não o de aprender”), em página do seu exemplar do tratado I quatro libri dell’architettura, de Andrea Palladio, enquanto percorria as villas palladianas do Veneto. Sim, um estudante de arquitetura sempre deveria estar imbuído deste prazer de aprender, desta alegria em descobrir algo novo, seja nas disciplinas teóricas de Tecnologia ou Fundamentos, ou na prática de projeto em atelier. Aprender a projetar não deveria ser (apenas) motivo de ansiedade e angústia. Neste workshop, os professores convidados do IAU notaram, com surpresa e felicidade, como os alunos, apesar do cansaço, estavam imbuídos de uma garra projetual, de uma alegria no desenhar.

8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico
Foto Aníbal Verri, Tânia Verri e Júlia Galvão Verri

Este entusiasmo e espírito aguerrido dos alunos da UEM não nasce de forma espontânea. É resultado concreto da energia e dedicação contagiante dos professores de Projeto do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro de Tecnologia da UEM – demonstrado no empenho de Eduardo, Tânia e Aníbal durante o workshop.

Tal devoção pela arquitetura, pelo projeto e pela prática profissional fez com que os professores da UEM nos brindassem com walking tours arquitetônicos pela cidade durante as manhãs livres do Ciclo de Estudos – permitindo que conhecêssemos melhor a notável qualidade ambiental de vida de Maringá, uma cidade-jardim planejada, relativamente recente, fruto da colonização do noroeste do Paraná (fundação oficial em 1947), o plano diretor de Jorge de Macedo Vieira (1894-1978), de 1943; a obra do arquiteto maior da cidade, José Augusto Bellucci; os projetos na cidade de mestres brasileiros como Paulo Mendes da Rocha, os vários parques e praças; além de questões interessantes de projeto como o distrito industrial e o aeroporto desativado da cidade, este último espaço urbano e arquitetônico com grande potencial de intervenção futura (14).

Até onde é possível saber, este workshop foi a única atividade de comemoração dos 150 anos do nascimento de Wright no Brasil. O workshop foi incluído em breve nota em boletim online da Wright Society, intitulada “Wright’s 150th Birthday Celebrated in Brazil” (15).

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Foto Aníbal Verri, Tânia Verri e Júlia Galvão Verri

Este ano, a professora Tania escreveu relembrando a ampla repercussão das palestras e do workshop. Em suas palavras, o evento foi completamente transformador, há reverberações entre os alunos e colegas da UEM até hoje. Ela contou que um dos alunos da equipe vencedora do concurso charrete, Felipe Nakamura Bassani, atualmente no 5º ano da Graduação, passou um ano vivendo nos Estados Unidos onde, a partir da experiência das palestras e do workshop, percorreu Buffalo, Oak Park e Chicago. Lá, visitou a Chicago Architectural Biennial, onde foram montadas homenagens aos 150 anos do Wright, com uma nota mencionando que o sesquicentenário foi lembrado, no Brasil, com a experiência do workshop de Maringá.

Michelangelo disse a seu pupilo Antonio Mini: “Desenha, Antonio, desenha e não perca tempo”. Os alunos da UEM desenharam muito e sem perder tempo. E o resultado foi rico, recompensador, inclusive como troca de ideias entre professores e alunos. Uma grande experiência para nós do IAU USP. Para este primeiro autor, mais jovem, constituiu a melhor e mais gratificante experiência docente de sua carreira, e que trouxe dela não somente grandes alegrias como professor, mas também as mais calorosas lembranças.

8º Ciclo de Estudos da UEM: Workshop Charette de Intervenção de Arquitetura Nova em sítio arquitetônico de interesse histórico
Foto Aníbal Verri, Tânia Verri e Júlia Galvão Verri

notas

NE - Agradecimento dos autores a Aníbal e Tania Galvão Verri, Eduardo Verri e Amanda Mitre.

1
FUJIOKA, Paulo Yassuhide. Princípios da arquitetura organicista de Frank Lloyd Wright e suas influencias na arquitetura moderna paulistana. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2004.

2
IRIGOYEN DE TOUCEDA, Adriana. Wright e Artigas: duas viagens. Cotia, Ateliê Editorial/Fapesp, 2002.

3
FUJIOKA, Paulo Yassuhide. Op. cit.

4
PFEIFFER, Bruce Brooks; FUTAGAWA, Yukio (Org). Frank Lloyd Wright – Monographs and Preliminary Studies. Vol. 1-12. Tóquio, A.D.A. Edita Tokyo, 1988-1990, vol. 4 Monograph 1914-1923, p. 62-64.

5
HARTNETT, Robert J. Frank Lloyd Wtight’s $10,000 Home – History, Design, and Restoration of the Bach House. Tawani Enterprises, Inc. – Master Wings A Publishing Imprint <https://bit.ly/3ciMUZd>. Hartnett é autor de Frank Lloyd Wright’s $10,000 home – History, Design, and Restoration of the Bach House, publicado pela Master Wings em associação com Hilton Publishing, considerada a primeira monografia de porte sobre a história da casa, com fotografias históricas e atuais, desenhos técnicos, mapas, a história das famílias que habitaram a casa, e o processo de preservação.

6
National Register of Historic Places, NRHP #79000821; Emil Bach House. Frank Lloyd Wright Foundation, Scottsdale, 2019 <https://franklloydwright.org/site/emil-bach-house/>; Our History. The Emil Bach House, Chicago, 2019 <https://www.emilbachhouse.com/the-house/history/>.

7
Emil Bach House. The Frank Lloyd Wright Trust, 2019 <https://flwright.org/visit/bachhouse>.

8
The Emil Bach House a Frank Lloyd Wright Home. The Emil Bach House, Chicago, 2019 <https://www.emilbachhouse.com/>.

9
FUJIOKA, Paulo Yassuhide. Op. cit.

10
Idem, ibidem, p. 11-37; 39-67; 69-93.

11
ALOFSIN, Anthony. Frank Lloyd Wright-The Lost Years, 1910-1922: A Study of Influence. Chicago, University of Chicago Press, 1993; ALOFSIN, Anthony (Org.). Frank Lloyd Wright: Europe and Beyond. Berkeley, University of California Press, 1999.

12
Glessner House <https://www.glessnerhouse.org/>.

13
Martin House, the story. Frank Lloyd Wright’s Darwin Martin House <http://www.martinhouse.org/learn.cfm>.

14
Ver VERRI, Tânia Nunes Galvão. Arquitetura e cidade: a modernidade em Maringá. Tese de doutorado. São Carlos, IAU USP, 2015.

15
Wright’s 150th Birthday Celebrated in Brazi. In Weekly Frank Lloyd Wright, Wheaton, Illinois, issue 56, Wright Society, August 2nd, 2017. Disponível em: < wrightsociety.com/issues/56>.

sobre os autores

Paulo Yassuhide Fujioka é arquiteto e urbanista (FAU USP) e professor doutor (IAU USP) desde 2005. É autor da dissertação de mestrado O Edifício Itália e a arquitetura dos edifícios de escritórios em S. Paulo (FAU USP, 1996). Também é autor da tese de doutorado Princípios da arquitetura organicista de Frank Lloyd Wright e suas Influências na arquitetura moderna paulistana (FAU USP, 2004). De 1997 a 2000 foi Assistente de Curadoria da 3ª e da 4ª Bienal Internacional de Arquitetura em São Paulo, eventos organizados pela Fundação Bienal e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil. Como arquiteto foi colaborador dos arquitetos Hector Vigliecca (1986-1989), Affonso Risi, Jr. e Leo Tomchinsky (1989-1991).

Marcelo Suzuki é arquiteto formado pela FAU USP e professor associado do IAU USP desde 1990. É autor da tese de doutorado Lina e Lucio (IAU USP, 2010), trabalho vencedor do Prêmio de Melhor Tese da Anparq (2010). Desde 1980 exerce atividade profissional como arquiteto, tendo sido colaborador da arquiteta Lina Bo Bardi (1980-1993) e autor do projeto do Fórum de Cuiabá, obra vencedora do Prêmio Rino Levi do Instituto de Arquitetos do Brasil em 2006.

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