O artigo tem como propósito estabelecer reflexões sobre o papel do catálogo Arquitetura Contemporânea no Brasil, publicado em dois volumes pela Editora Gertum Carneiro entre 1947 e 1948, num momento de intensa divulgação internacional da arquitetura moderna brasileira (1). Editado em versão trilíngue (português, inglês e espanhol) e organizado pela revista Ante-Projeto, o catálogo ilustrou 86 projetos brasileiros e foi publicado no intervalo entre as publicações dos livros Brazil Builds, de Philip Goodwin (2), e Modern Architecture in Brazil, de Henrique Mindlin (3).
Ao mesmo tempo em que esses livros buscavam reconhecer e divulgar a arquitetura moderna que vinha sendo realizada no Brasil, também contribuíram para consolidar uma narrativa da história da arquitetura brasileira que priorizou determinados aspectos e profissionais, e acabou deixando uma série de outros em segundo plano.
É nesse sentido que o texto proposto traz considerações acerca da publicação Arquitetura Contemporânea no Brasil, localizando suas especificidades em comparação aos célebres catálogos Brazil Builds e Modern Architecture in Brazil, de modo a verificar sua possível contribuição para a construção da narrativa dominante, mas também ressaltando a abordagem para além dos grandes centros do país, a partir da identificação e divulgação dos projetos realizados fora do eixo Rio de Janeiro–São Paulo, e que foram publicadas nos três catálogos.
A Editora Gertum Carneiro e o catálogo Arquitetura Contemporânea no Brasil
Os volumes de Arquitetura Contemporânea no Brasil foram publicados pela Editora Gertum Carneiro, fundada em 1945, no Rio de Janeiro, pelos irmãos gaúchos Jorge e Antônio Gertum Carneiro, filhos da elite porto-alegrense, em parceria com o comerciante refugiado alemão de origem judaica, Fritz Mannheimer. Os irmãos, que haviam iniciado seus estudos em Porto Alegre RS, transferiram-se para o Rio de Janeiro para dar continuidade à graduação em Medicina e Engenharia, respectivamente, e resolveram investir no mercado de livros. As suas atividades foram iniciadas com uma importadora de livros universitários de nome Publicações Pan-Americanas, numa conjuntura de ampliação do consumo de livros no Brasil e de surgimento de empresas voltadas para segmentos editoriais específicos durante os anos 1930. Os irmãos investiram na tradução e transformaram sua empresa em editora (4).
Direcionada a um público limitado, formado por estudantes universitários e profissionais liberais, a Gertum Carneiro publicou, entre outros, alguns livros voltados para o campo da engenharia e da arquitetura. Foi nesse contexto que surgiu o catálogo Arquitetura Contemporânea no Brasil, cujos volumes foram organizados pela revista Ante-Projeto, fundada em meados dos anos 1940 por um grupo de estudantes da Faculdade Nacional de Arquitetura — FNA, anteriormente Escola Nacional de Belas Artes — Enba.
A apresentação do primeiro volume, assinada por Marcos Jaimovich e Edgar Graeff, destacou a colaboração dos diretores da editora, “a cujo espírito progressista” se devia, em grande parte, a “nova experiência editorial no Brasil”, já que até pouco tempo para se conhecer a “nossa própria arquitetura contemporânea precisávamos adquirir revistas estrangeiras”. A revista Ante-Projeto buscava tornar-se um veículo que levava para as pranchetas de estudo “aquilo que muitas escolas ainda teima[va]m repudiar” (5).
Das menções ao catálogo, foram encontradas referências à polêmica travada entre o crítico de arte Geraldo Ferraz e Lúcio Costa, em virtude da dedicatória do primeiro volume do catálogo, que destacava Costa como o “mestre da arquitetura tradicional e pioneiro da arquitetura contemporânea no Brasil” (6). José Tavares Lira comenta que um dos “sinais do ostracismo” de Warchavchik “encontra-se no desagravo lançado por Geraldo Ferraz aos estudantes de arquitetura do Rio, que no catálogo Arquitetura Contemporânea no Brasil, de 1947, haviam conferido precedência a Lucio Costa na luta pela renovação arquitetônica nacional” (7).
Algumas poucas imagens do catálogo foram encontradas em trabalhos acadêmicos ou artigos da área, mas sempre como referência a algum projeto específico, sem estabelecer relações com o catálogo em si. Além disso, buscou-se realizar uma pesquisa sobre o alcance da publicação junto a bibliotecas e à editora, no entanto, as informações obtidas carecem de complementações. A ideia inicial era verificar, dentre os três catálogos em estudo, quais marcaram presença nas escolas de arquitetura e poderiam, em consequência, indicar um alcance maior ou menor dos mesmos, em âmbito acadêmico, durante os anos 1940 a 1960.
Assim, foi realizada uma busca nos acervos online das bibliotecas das primeiras escolas de arquitetura (criadas no país até final dos anos 1960), junto às atuais Universidade Federal do Rio de Janeiro — UFRJ, Universidade Federal do Rio Grande do Sul — UFRGS, Universidade Federal de Pernambuco — UFPE, Universidade Presbiteriana Mackenzie — UPM, Universidade de São Paulo — USP, Universidade Federal de Minas Gerais — UFMG, Universidade Federal da Bahia — UFBA, Universidade Federal do Paraná — UFPR, Universidade Federal do Pará — UFPA, Universidade Federal do Ceará — UFC e Pontifícia Universidade Católica de Goiás — PUC GO. Além destes, foram consultados os acervos online da Biblioteca Mário de Andrade e da Biblioteca Nacional. Entretanto, a identificação da existência ou ausência de exemplares dos três catálogos — Brazil Builds, Arquitetura Contemporânea no Brasil e Modern Architecture in Brazil — junto às bibliotecas não respondeu a outros questionamentos como, por exemplo, a data de aquisição dos mesmos (8).
O acesso a informações junto à Editora Gertum Carneiro (atual Ediouro) também não foi profícuo (9), e mesmo a pesquisa de Labanca (10), realizada no Rio de Janeiro com foco específico sobre a trajetória da editora, não conseguiu acesso aos arquivos da mesma. De todo modo, a existência de exemplares de Arquitetura Contemporânea no Brasil à venda em sebos nacionais e internacionais, a presença nas principais bibliotecas de arquitetura do país e a publicação do catálogo em versão trilíngue, demonstram um alcance e um interesse que merecem ser considerados.
Arquitetura Contemporânea no Brasil: entre Brazil Builds e Modern Architecture in Brazil
A apreciação das três publicações — Brazil Builds, Arquitetura Contemporânea no Brasil e Modern Architecture in Brazil — resultou numa listagem de 230 projetos, de autoria de mais de 60 arquitetos (a autoria de alguns projetos é coletiva). Desse total, oito arquitetos foram mencionados em todas as publicações e, quando somados, seus projetos correspondem a quase metade dos projetos listados. São ressaltados os nomes de Oscar Niemeyer, dos Irmãos Roberto, Affonso Eduardo Reidy, Henrique Mindlin, Gregori Warchavchik, Álvaro Vital Brazil, Firmino Saldanha e Aldary Henriques Toledo.
Os projetos desses arquitetos apresentam variação quanto à tipologia e também quanto à localização, totalizando 71 projetos no Estado do Rio de Janeiro, 22 em São Paulo, dezoito em Minas Gerais e apenas um projeto no Ceará e um no Rio Grande do Sul, o que demonstra uma evidente preponderância de projetos para o Rio de Janeiro. Alguns desses projetos se repetem nas três publicações.
A atenção dada à produção de Oscar Niemeyer fica visível tanto por ser o arquiteto com o maior número de projetos publicados, como também por obras que se repetem nas três publicações. Importante ressaltar a Obra do Berço (1937) que, segundo a própria Instituição Filantrópica, foi o primeiro projeto de autoria de Niemeyer depois de formado, e oferecido gratuitamente pelo arquiteto (11). Além deste, destacam-se os seus projetos para a Pampulha, importantes para a identidade da capital mineira e que contribuíram significativamente para a inserção de Belo Horizonte na narrativa da chamada Arquitetura Moderna Brasileira.
Além do destaque à obra de Niemeyer, outros três projetos marcam presença nos três catálogos: o Edifício Barão de Limeira (1939), o Instituto Vital Brazil (1943) e o Aeroporto Santos Dumont (1944). Sobre o primeiro, Lira afirma ser “talvez um dos projetos mais conhecidos e publicados de Warchavchik”, tendo recebido “o prêmio de melhor edifício de apartamentos construído na cidade para o biênio 1939-1940, na primeira edição do concurso de fachadas organizado pelo prefeito Prestes Maia” em São Paulo (12).
O prédio sede do Instituto Vital Brazil foi projetado pelo arquiteto Álvaro Vital Brazil, a quem Conduru fez referência como “um dos pioneiros na história da arquitetura moderna no Brasil” (13). Já o terminal de passageiros do aeroporto Santos Dumont, arremate do aterro do Flamengo e projetado pelos Irmãos Roberto, foi o primeiro aeroporto público a ser construído no país (14).
A apreciação isolada dos volumes de Arquitetura Contemporânea no Brasil resultou numa listagem de 86 projetos, de autoria de 33 arquitetos (15). Do total, 51 projetos são localizados no Estado do Rio de Janeiro, dezoito em São Paulo, catorze em Minas Gerais, dois no Rio Grande do Sul e um no Pará. Além dos seis projetos que se repetem nos livros de Goodwin e Mindlin, outros oito projetos publicados no catálogo aparecem também em Brazil Builds ou em Modern Architecture in Brazil. Vale mencionar que estes oito projetos também são de autoria dos arquitetos que comparecem com maior frequência nas três publicações.
Por outro lado, os dois volumes de Arquitetura Contemporânea no Brasil divulgaram 72 projetos que não aparecem nas outras duas publicações, aspecto significativo do ponto de vista quantitativo, mas que também aponta para a hegemonia da produção realizada no Rio de Janeiro. Dentre os projetos que se inserem no eixo Rio de Janeiro–São Paulo, para citar apenas dois exemplos, vale ressaltar a presença do anteprojeto e projeto definitivo do Residencial Pedregulho, de Affonso Reidy, e a publicação de dois projetos que disputaram o concurso para o Centro Técnico da Aeronáutica de São José dos Campos (16) — no primeiro volume, a apresentação do projeto de Affonso Reidy, terceiro colocado no concurso e, no segundo volume, o projeto vencedor, de autoria de Oscar Niemeyer. Segundo Mori, o concurso do Centro Técnico da Aeronáutica foi complexo e extenso, com uma seleção cuidadosa de um grupo de arquitetos que produziam o que havia de mais moderno no Brasil. No entanto, a autora aponta a escassez de informações sobre o concurso, cujos projetos foram pouco publicados, e o fato do CTA poder ser considerado um dos marcos da arquitetura moderna, apesar de Niemeyer não reconhecer textualmente a importância do mesmo em sua carreira (17).
Ademais dos vários projetos publicados, os dois volumes contribuíram para a divulgação de determinados arquitetos que não estão presentes nos catálogos organizados por Goodwin e Mindlin, ainda que a partir de projetos desenvolvidos sobretudo no Rio de Janeiro e em São Paulo: Leônidas Cheferrino, Giuseppina Pirro, Israel Correa, Edgard do Valle, Gilberto Lyra de Lemos, Estefânia Paixão, Jofre Maia, Antônio Dias, Oscar Valdetaro e Vasco Venchiarutti (18).
A tabela 4 apresenta estes arquitetos e seus respectivos projetos publicados no catálogo, os quais mereceriam uma avaliação específica. Alguns deles realizaram projetos em parceria com arquitetos que comparecem nas outras publicações com outros projetos, a exemplo de Francisco Bolonha, Lygia Fernandes e José Souza Reis (19).
As contribuições fora do eixo Rio de Janeiro–São Paulo
A comparação entre os catálogos também levou a uma abordagem para além da geografia dos grandes centros. Considerando os 230 projetos modernos divulgados nos três catálogos, e realizando um recorte que exclui o projeto para o Pavilhão do Brasil na Feira de Nova York (1939) — que é destacado por Goodwin e Mindlin — e os projetos para o Conjunto da Pampulha —, episódios que tiveram sua importância amplamente demarcada pela historiografia —, além dos projetos realizados para os estados do Rio de Janeiro (124 projetos) e São Paulo (62 projetos), é possível demarcar um número reduzido de 31 projetos restantes. Destes, praticamente metade (quinze projetos) (20) está localizada no Estado de Minas Gerais, e apenas dezesseis dos projetos têm localização nos demais estados brasileiros, representando somente 7% do total de contribuições das publicações.
A tabela apresentada sugere algumas constatações. Ainda que estes projetos tenham sido realizados para localidades que poderiam ser categorizadas como “fora dos grandes eixos”, é marcante a presença dos arquitetos formados pela Enba. As exceções se referem a Alexander Buddeüs, de origem alemã, mas que lecionou na Enba; José Norberto, engenheiro de formação, que atuou na equipe de Luiz Nunes em Recife (21); Diógenes Rebouças, engenheiro agrônomo, pintor e arquiteto autodidata (22); e João Batista Vilanova Artigas, engenheiro-arquiteto pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo — Poli USP (23).
Por outro lado, revela uma produção que extrapolou os limites de Rio de Janeiro e São Paulo e que é, também, pioneira. Um dos casos já recuperados pela historiografia mais recente diz respeito ao papel precursor de Luiz Nunes em Recife, ocasião em que o mesmo estabeleceu contatos com outros profissionais de renome, entre os quais estavam Roberto Burle Marx e Joaquim Cardozo. Os primeiros projetos de Burle Marx em Recife não aparecem nos três catálogos, mas a sua presença na Paraíba foi sinalizada, incluindo um desenho de jardim para Arthur Oscar, de 1936.
Andrade Junior recentemente reivindicou o lugar da Bahia na historiografia da arquitetura moderna brasileira, levantando uma série de projetos e contatos que perpassam figuras mais conhecidas como Hélio Duarte, Paulo Antunes Ribeiro, Lina Bo Bardi e José Bina Fonyat Filho. Sobre o caso da Bahia, dois projetos são divulgados em Brazil Builds e dois em Modern Architecture in Brazil, e revelam um trânsito de determinados profissionais no país que merece ser explorado pelos estudos da área.
Evidentemente, dado que até o final dos anos 1950 existiam apenas sete cursos de arquitetura no país, as pesquisas que têm tratado sobre a recepção e/ou difusão da arquitetura moderna em situações específicas, têm verificado, com certa frequência, a presença de arquitetos migrantes, em alguns casos de renome, atuando em obras de maior destaque, além da participação de engenheiros, arquitetos-licenciados e outros profissionais sem o domínio de ofício, mas que em muitos casos foram essenciais para a realização de um número significativo de projetos, num momento de intensa urbanização do país, a exemplo de Diógenes Rebouças em Salvador. É também nesse período que se desenvolveram as cidades novas do norte do Paraná, e que contribuíram para ampliar a produção de importantes arquitetos, como João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi em Londrina.
Outros casos sobre a região Nordeste que merecem ênfase são os projetos de Oscar Niemeyer (em Fortaleza) e de Lygia Fernandes (em Maceió). O projeto de Niemeyer para a residência da Companhia Johnson na praia de Meireles (Fortaleza CE), do início dos anos 1940, constitui evento curioso em relação ao protagonismo exercido por Niemeyer. Apesar de ter sido publicado em Brazil Builds (1943), é “fato desconhecido do grande público” (24).
A presença de Lygia Fernandes em Alagoas foi ressaltada no livro pioneiro Arquitetura moderna: a atitude alagoana, quando afirmou que “a arquiteta comparece no cenário alagoano com obras que, pela importância, extrapolam o contexto regional” (25). Os projetos para Maceió foram realizados no final dos anos 1950, em razão dos vínculos familiares que mantinha nesta cidade. A arquiteta dedicou-se principalmente ao serviço público, depois de ter trabalhado com Henrique Mindlin, Affonso Reidy, Francisco Bolonha, Giuseppina Pirro e Israel Correia (26).
Apesar dessas referências “fora do eixo” aparecerem nos catálogos aqui investigados, e sinalizarem uma maior abrangência da produção moderna brasileira, que não deve estar circunscrita a um núcleo de arquitetos ditos “cariocas”, a discussão mais ampla dessa produção só acontecerá a partir do final dos anos 1980 e início dos anos 1990, sobretudo a partir das realizações dos seminários Docomomo Brasil e da ampliação dos programas de pós-graduação em arquitetura e urbanismo (27).
O prefácio de Xavier ao livro de Silva, apesar de se referir ao caso específico de Maceió, é sintomático da lacuna acerca da produção de outros estados brasileiros na historiografia da arquitetura moderna brasileira até os anos 1980:
“Entre a referência remota feita por Henrique Mindlin em seu livro Modern Architecture in Brazil àquela residência de Lygia Fernandes, construída em Maceió no início da década de 1950 e a publicação, em revista especializada, do Terminal Rodoviário da capital alagoana, obra do início da década de 1980, transcorre um silêncio de trinta anos. São três décadas sem nenhuma notícia sobre a arquitetura desse estado” (28).
Considerações finais
A aproximação ao catálogo Arquitetura Contemporânea no Brasil e a comparação entre os seus projetos e aqueles publicados nos livros organizados por Goodwin e Mindlin sugerem algumas considerações mais gerais. Primeiramente, alguns projetos incluídos como episódios marcantes da arquitetura moderna no Brasil estão ausentes dos volumes da Editora Gertum Carneiro: o edifício do Ministério da Educação e Saúde Pública — Mesp, o prédio da Associação Brasileira de Imprensa — ABI, o Pavilhão do Brasil na Feira de Nova York, a Estação de Hidroaviões do arquiteto Attílio Corrêa Lima, o Edifício Esther de Álvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho, e o Grande Hotel de Ouro Preto.
Aparentemente, não era uma questão importante para os editores de Arquitetura Contemporânea no Brasil situar, historicamente, ou mesmo teoricamente, a construção de uma narrativa sobre a arquitetura moderna no Brasil, mas sim contribuir para a publicação e divulgação interna e externa de arquitetos brasileiros e seus projetos. Nesse sentido, seu papel é relevante na medida em que publicou mais de setenta projetos que não foram contemplados em Brazil Builds e Modern Architecture in Brazil.
Do ponto de vista da abordagem geográfica, Arquitetura Contemporânea no Brasil ressaltou as obras dos grandes centros do país (Rio de Janeiro e São Paulo), com algumas referências de obras realizadas em Minas Gerais e outras três exceções, que se referem a dois projetos para o Rio Grande do Sul — um de autoria de Affonso Reidy e outro de Oscar Valdetaro —, e um para o Pará, de Francisco Bolonha.
A pesquisa se debruçou na investigação dos dois volumes publicados pela Editora Gertum Carneiro e, em sequência, na sistematização de dados referentes a projetos, autores e suas localizações, a partir do cruzamento de informações com os outros dois catálogos publicados num momento de intensa difusão e/ou recepção da arquitetura moderna no Brasil. Acredita-se que há, ainda, uma série de outras pesquisas que podem se amparar das informações coletadas, como o estudo da trajetória de profissionais apresentados e pouco (ou quase nada) conhecidos, e a ampliação do conhecimento acerca de determinados projetos. Por fim, a pesquisa sugere a possibilidade de retomar o catálogo Arquitetura Contemporânea no Brasil como uma fonte ilustrativa de um ideário arquitetônico e daquilo que se convencionou chamar Arquitetura Moderna Brasileira.
notas
NE — Este artigo foi originalmente publicado nos anais do 12º Seminário Docomomo Brasil, realizado em novembro de 2017, em Uberlândia MG. Buscou divulgar os resultados da pesquisa de iniciação científica realizada pela então aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo do Unicep, Luana Arêas, sob orientação da professora doutora Adriana Almeida, e cuja temática constituíu-se a partir de um dos desdobramentos da pesquisa de doutorado da docente, defendida em 2015 no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos. ALMEIDA, Adriana Leal de; ARÊAS, Luana Canal. Considerações acerca do catálogo Arquitetura Contemporânea no Brasil (1947 e 1948). Caderno de Resumos do 12º Seminário Docomomo Brasil: Arquitetura e urbanismo do movimento moderno. Patrimônio cultural brasileiro: difusão, preservação e sociedade. Uberlândia, PPGAU Faued UFU, 21-24 nov. 2017
1
A respeito da divulgação internacional consultar CAPPELLO, Maria Beatriz C. Arquitetura em revista: arquitetura moderna no Brasil e sua recepção nas revistas francesas, inglesas e italianas (1945-1960). Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2005.
2
GOODWIN Philip L. Brazil Builds: Architecture new and old 1652-1942. New York, The Museum of Modern Art, 1943.
3
MINDLIN, Henrique. Modern architecture in Brazil. Rio de Janeiro/Amsterdam, Colibris, 1956.
4
LABANCA Gabriel Costa. Dos anos dourados às Edições de Ouro: a Tecnoprint e o livro de bolso no Brasil (1939-1970). Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro, FAU UERJ, 2009.
5
JAIMOVICH, Marcos et. al. Arquitetura Contemporânea no Brasil. Volume 1. Rio de Janeiro, Gertum Carneiro, 1947, p. 5.
6
Ver, por exemplo, XAVIER, Alberto. Lúcio Costa: sôbre arquitetura. Porto Alegre, Centro dos Estudantes Universitários de Arquitetura, 1962; LEONÍDIO, Otavio. Carradas de razões: Lucio Costa e a arquitetura moderna brasileira (1924-1951). Rio de Janeiro/São Paulo, Editora PUC Rio/Loyola, 2007; e LIRA, José Tavares Correia de. Warchavchik: fraturas da vanguarda. São Paulo, Cosac Naify, 2011.
7
LIRA, José Tavares Correia de. Op. cit., p. 394.
8
Foram realizadas outras formas de contato com as bibliotecas, mas muitas não possuem as informações completas. Apenas a FAU USP, a UFPE e a Biblioteca Mário de Andrade responderam com as datas de aquisição dos exemplares. Outros contatos com as bibliotecas resultaram apenas nas datas de registro das obras no sistema. A pesquisa utilizou como fontes primárias os exemplares presentes no acervo da biblioteca do IAU USP, adquiridos em 2015, através de compra em sebo norte-americano com reserva técnica de bolsa de doutorado.
9
Os contatos realizados por e-mail e telefone não foram retornados.
10
LABANCA Gabriel Costa. Op. cit.
11
Histórico. Obra do Berço. <https://bit.ly/3IDngxx>.
12
LIRA, José Tavares Correia de. Op. cit., p. 386.
13
CONDURU, Roberto. Vital Brazil. São Paulo, Cosac & Naify, 2000, p. 7.
14
MOTA, Lila Ribeiro. O aeroporto Santos Dumont como símbolo de modernidade no Brasil nos anos 1950. 1º Colóquio Internacional de História Cultural da Cidade. Porto Alegre, 2015, p.485-494 <https://bit.ly/3ADvBhR>. Em artigo apresentado ao V Seminário Docomomo São Paulo, realizado em outubro de 2017, quando se buscou refletir sobre a presença de São Paulo nos três catálogos, foram elencadas maiores informações sobre a inserção dos Irmãos Roberto na historiografia da arquitetura brasileira.
15
Alguns projetos possuem autoria coletiva, e alguns arquitetos comparecem com um número maior de projetos.
16
O concurso foi vencido por Niemeyer, enquanto o projeto de Marcelo Roberto obteve o segundo lugar, e os projetos da Cia. Brasileira de Engenharia, do arquiteto Benedicto de Barros e de Affonso Eduardo Reidy compartilharam o terceiro lugar. Ver SANTOS, Ademir Pereira dos. Arquitetura industrial: São José dos Campos, A. P. Santos, 2006, p. 123.
17
Mori Renata Bacheschi. Centro Técnico da Aeronáutica: do concurso de anteprojetos aos edifícios esquecidos de Niemeyer. Trabalho Final de Graduação. São Paulo, FAU USP, 2013, p. 224-225 <https://bit.ly/33WV8GR>.
18
Também para o artigo apresentado no V Seminário Docomomo São Paulo foram pesquisadas referências sobre os arquitetos Edgard Guimarães do Valle e Vasco Venchiarutti. Os volumes de Arquitetura Contemporânea no Brasil apresentam poucos textos e, em muitos casos, os projetos não apresentam data. Seria necessária uma pesquisa aprofundada para avaliar a contribuição específica de cada um destes profissionais.
19
Além do Jóquei Clube, Francisco Bolonha é citado a partir de mais oito projetos, três publicados em Arquitetura Contemporânea no Brasil e cinco em Modern Architecture in Brazil. Ademais, é interessante mencionar que ele é autor do único projeto para Vitória ES e também em Belém PA. Lygia Fernandes, além do projeto realizado em conjunto com Francisco Bolonha, aparece na publicação Modern Architecture in Brazil, com um projeto residencial. Já José Souza Reis, além da Colônia de Readaptação, aparece com mais quatro projetos, sendo três publicados em Arquitetura Contemporânea no Brasil e um em Modern Architecture in Brazil.
20
Os valores totais foram obtidos pela contagem individual dos catálogos, não considerando os cruzamentos entre os projetos de cada publicação. Dentre os projetos listados “fora do eixo”, a Residência José de Medeiros, do arquiteto Aldary Toledo, se repete em Arquitetura Contemporânea no Brasil e em Modern Architecture in Brazil. O Grande Hotel de Ouro Preto está presente nos catálogos organizados por Goodwin e Mindlin.
21
MAIA, Tota. O novo uso ajuda a preservar um bem? Modulação <https://bit.ly/3rZS2tY>.
22
ANDRADE JUNIOR, Nivaldo V. de. Arquitetura moderna na Bahia, 1947-1951: uma história a contrapelo. Tese de doutorado. Salvador, FAU UFBA, 2012, p. 15.
23
Não foram encontradas informações sobre a origem de Gilberto Lyra de Lemos. O Guia da Arquitetura Modernista de Cataguases, publicado em 2012, ilustra o projeto do Hotel de Cataguases, de autoria do arquiteto em parceria com Aldary Henrique Toledo, mas apesar de fornecer uma breve biografia dos profissionais apresentados no guia, não traz informações sobre Gilberto Lemos.
24
SAMPAIO NETO, Paulo Costa. Residências em Fortaleza, 1950-1979: contribuições dos arquitetos Liberal de Castro, Neudson Braga e Gerhard Bormann. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU USP, 2005, p. 82.
25
SILVA, Maria Angélica. Arquitetura moderna: a atitude alagoana. Maceió, Sergasa, 1991, p. 86.
26
Lygia Fernandes nasceu em 1919, em São Luiz do Maranhão, e se formou em 1945 pela FNA. Sua trajetória mereceria ser melhor investigada, assim como as das outras arquitetas divulgadas nos três catálogos. Com exceção de Lina Bo Bardi, que foi intensamente estudada nos últimos anos, foram encontradas poucas informações sobre as obras de Estefânia Paixão, Giuseppina Pirro e Lygia Fernandes. As duas últimas aparecem como autoras, juntamente com Francisco Bolonha, do projeto que recebeu o terceiro lugar no concurso para a sede do Jóquei Clube do Rio de Janeiro. Além desse, Lygia Fernandes aparece no projeto da Casa para João Paulo Miranda Neto, em Alagoas, documentado por Mindlin (1956). Por fim, Estefânia Paixão é citada como autora do Residencial Neves, juntamente com os arquitetos Jofre Maia e Antônio Dias em Arquitetura Contemporânea no Brasil.
27
ALMEIDA, Adriana L de. Recepção e difusão da arquitetura moderna brasileira: uma abordagem historiográfica. Tese de doutorado. São Carlos, IAU USP, 2015.
28
XAVIER, Alberto (1988). Prefácio. In SILVA, Maria Angélica. Op. cit., p. 9-10.
sobre as autoras
Adriana Leal de Almeida é arquiteta e urbanista (UFPB, 2007), mestre (EESC USP, 2010) e doutora em Ciências (IAU USP, 2015). É professora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Central Paulista e autora da tese de doutorado Recepção e Difusão da Arquitetura Moderna Brasileira: uma Abordagem Historiográfica, pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Luana Canal é arquiteta e urbanista (Multivix, 2018), cursou parte da graduação no Centro Universitário Central Paulista, onde realizou pesquisa de iniciação científica sobre os volumes do catálogo Arquitetura Contemporânea no Brasil. É sócia-proprietária da Canal Arquitetura, com atuação em projetos comerciais, residenciais e interiores, e com destaque para os projetos de espaços colaborativos.