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drops ISSN 2175-6716

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Livro ápice de Roca. É o testemunho do trabalho esforçado, incessante, inesgotável de um criador, que ama a natureza, a cidade, os usuários e jovens estudantes, e demonstra que a beleza do entorno construído só se consegue com talento, paixão e disciplina

how to quote

SEGRE, Roberto. Miguel Ángel Roca. Distâncias corporais, proximidades anímicas. Drops, São Paulo, ano 01, n. 001.04, Vitruvius, set. 2000 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/01.001/1560>.


Neste mundo internáutico e virtualizado a ubiqüidade deixou de ser um dom divino. Por isso, desde às margens da Baía de Guanabara, posso estar presente no Museo de Bellas Artes. Ícone arquitetônico e cultural de Buenos Aires, me traz persistentes recordações da adolescência e juventude: desde os barcos à vela que nunca navegavam no estanque vizinho; a emoção de cantar a Marselhesa na Praça Francia naquele longínquo 44, quando chegou a noticia da entrada dos Aliados em Paris; o acompanhamento aos inexperientes alunos da Faculdade, desenhando o monumento de Bourdelle nos anos de ajudante na cátedra de Carlitos Mendez Mosquera; o projeto dos dois pavilhões adjacentes ao Museu, na exposição do Sesquicentenário.

Daí que é sempre uma emoção recorrer, dentro e fora do âmbito do Museu, mesmo que seja de dentro dos escaninhos da memória. E, mais ainda, tento visualizar a multidão – na qual quem sabe se encontra algum amigo sincero –, que presencie este ato de homenagem a Miguel Ángel Roca, coincidente com a publicação de um enésimo livro sobre sua obra e figura na última década do século, o que poderia desconcertar a muitos. Poucos arquitetos (tanto portenhos como provincianos) possuem semelhante quantia de escritos sobre seus projetos e edificações. Sem dúvida alguma, hoje não deve faltar aqui o insidioso comentário de invejosos e medíocres: outro libro mais de Roca!!!!. É certo, pareceria impossível superar às edições norte-americanas, européias ou asiáticas, com suas espetaculares fotos coloridas em todas as páginas, dedicadas a sua obra.

O que não se produziu no século 20, acontecerá no 21. Este é o livro ápice de Roca. Sem temor a equivocar-me, constitui a melhor edição sobre sua recente trajetória arquitetônica. Em primeiro lugar, a ousadia e a coragem de seus desenhos – obstinadamente criticada pelos pseudo-racionalistas de turno ou, o que é igual dizer, os carentes de alegrias e sentimentos –, justificaria este e outros mais, já que a boa arquitetura nunca se esgota nas visões que permitem as multifacéticas formas e espaços. Porém, em segundo lugar, a sensibilidade e a incessante busca da excelência de Fernando Diez e sua equipe editorial de SUMMA, conseguiram transmitir, não só a qualidade implícita na impecável impressão e na criativa diagramação, mas também o amor e a admiração por um universo plástico, dirigido a configurar a vida cotidiana da comunidade cordobesa e de outras localidades geográficas, ao acentuar os conteúdos humanos e estéticos dos desenhos de Roca. Este livro não constitui um frio recipiente de espetaculares obras "de autor" tão comuns em nossos dias: é o cálido testemunho do trabalho esforçado, incessante, inesgotável de um criador, que ama a natureza, a cidade, os usuários e os jovens estudantes, e demonstra que a beleza de nosso entorno construído só se consegue com o talento, a paixão e a férrea disciplina diária. Leiam o livro e descubram estas verdades essenciais.

Roberto Segre, Rio de Janeiro RJ Brasil

 

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