Recentemente, no dia 17 de julho, a Faculdade de Arquitetura da UFRGS, com o apoio da Fundação Iberê Camargo, promoveu a Aula Magna “O Projeto do Museu Iberê Camargo” – projeto premiado com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza do ano passado, com o arquiteto português Álvaro Siza. A conferência coincide com o momento de inicio das obras no local programado junto ao Lago Guaíba, em Porto Alegre.
Siza voltou a expor, como já havia feito anteriormente, as razões para a arquitetura proposta, dessa vez com maior documentação das hipóteses de partido arquitetônico examinadas preliminarmente, através de um discurso objetivo e imagens inusitadamente singelas.
Além de algumas curiosidades, como as referências ao Brasil e a naturalidade de seu pai brasileiro, o pensamento exposto, assim como o projeto, continua a despertar a inquietação causada por uma formulação arquitetônica singular. Além da apresentação de um exame surpreendente de hipóteses formais, onde, em uma alternativa, a organização geral do partido se dava a partir de um elemento vertical contendo circulação (elevador), como no elevador Lacerda na Bahia, ou uma metáfora de um rosto humano, sem maiores explicações, ou uma composição de elementos empilhados com uma “tampinha” no coroamento, ou ainda várias alternativas onde o elevador aparece e desaparece alternadamente, é curioso o conceito finalmente adotado. Se não viesse de onde veio, talvez causasse espécie.
A pretexto de uma recomposição da rugosidade perdida pela escavação feita na topografia acidentada em frente ao lago, o passeio pelo futuro museu se dará por um sistema de rampas, que ora integram o espaço interno, ora projetam-se para fora do prédio alternadamente, criando a inquietante sensação que arrancam e acessam os diferentes níveis a partir de um mesmo ponto. Impossível condição de chegada de rampa inferior e saída de rampa superior em um lugar único (?). Reconfortante, no entanto, saber que a complexa subversão do sistema espacial de Frank Lloyd Wright para o Guggenheim de NY, não é facilmente apreendida nem pelo autor, que simpaticamente abandonou a tentativa de explicá-lo (1).
A visão através de um viés excêntrico, como o de Siza, apresentado de forma límpida, dispensa maiores esforços de introjeção como método ou mesmo, por parte dos estudantes, para os quais a conferência foi dedicada, de apropriação, já que constituí o senso particular de um artista.
Permanece a fruição de um dia especial, com pelo menos duas mil pessoas celebrando a arquitetura extraordinária de uma obra de exceção, de um arquiteto singular, cujo canteiro de obras está em marcha com tapume, placa e CREA-RS.
notas1
O mesmo que fizemos ao tentar explicar o projeto à estudantes em exercício realizado no ateliê de Projeto VI, em 99/2 na FA-UFRGS, cujo tema de trabalho foi o programa do Museu Iberê Camargo, no mesmo terreno.
Sergio M.Marques, Porto Alegre RS Brasil