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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Célio Pimenta discorre sobre a atividade do desenho e sobre a capacidade de Celso Minozzi de olhar o mundo, vê-lo e constituí-lo em seus desenhos de uma maneira que o papel atinge uma situação de filtro que recebe o filtro de seu olhar sobre o mundo

english
Celio Pepper talks about the draeings by Celso Minozzi and his ability to see the world, and reconstitute it in his drawings in a way that the paper rbecomes a filter that receives the filter of your look of the world

español
Célio Pimenta discurre sobre la actividad del dibujo y sobre la capacidad de Celso Minozzi de mirar el mundo, verlo y construirlo en sus dibujos de una manera que el papel alberga una situación de filtro que recibe el filtro de su mirar sobre el mundo

how to quote

PIMENTA, Celio. Traçares. O olhar de Celso Minozzi sobre o mundo. Drops, São Paulo, ano 08, n. 021.03, Vitruvius, fev. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/08.021/1739>.



Num mundo que olha e não vê, o desenho é um alento.  Desenhar é um modo de dizer que o que se viu, foi visto. Não passou de raspão, não fugiu.

Ou antes, é um dizer, quase sempre sussurrando, que se está vendo, vai sendo visto. Ao mesmo tempo em que  documenta, porque registra uma permanência  pelo olhar, o desenho é instrumento de descobrir e muito especialmente, de suportar o constituído. Por esse motivo desenhos possuem Autoria.

Captar o que se passa no ar é desafio permanente , porque é ver o que nunca esteve lá, mas no entanto está, implica necessariamente em organizara superfície do papel usando linhas que parecem recobrir outras, então previamente existentes. Mas como estas não existem, porque precisam ser desenhadas e ainda não foram, o próprio papel pode ser dispensado. E o traçar torna-se traç ar.

Já em 1607, Federico Zuccaro, desenvolvendo o conceito de desenho como Idéia, anota que o termo disegno trás consigo o signo envolvido pela divindade, e assim desenhar é compartilhar, ainda que na escala reduzida do ser-humano, o sopro que é o elo (divino) que liga as coisas.

É claro que usualmente o desenho é o resultado da ação da mão do artista sobre o papel, aliviada de sua limitação de não poder riscar, marcando.

Sob o comando do sentir, o olhar  conduz a mão.

Mas aqui, não.

O olhar de Celso Minozzi desenha no ar o que ele vê, mas nós (ainda) não vemos.

O resultado é confortante. As intervenções resultantes, sobre o papel, que é necessário para nós, são como imagens de imagens do que foi sendo traçado no ar e reduzido ao plano de representação.

No geral o papel sobre o qual se desenha é opaco, mas o mundo não é. Quanto mais o artista se estabelece como artista, mais o real fica etéreo e vai perdendo materialidade e como conseqüência sua representação também. Essa desmaterialização crescente é inevitável e conduz a um estado de encantamento, inicialmente para o Artista e à medida em que este com-partilha o real com o Observador, ambos se encantam, obviamente não um pelo outro, mas ambos com o mundo que cintila e cintila.

Assim existir converte-se em participar desse real que não brilha por si mesmo, mas antes até ofusca pela ação do Artista que convoca o Observador a configurar o espetáculo de ser-no-mundo.

O desenho parece ser  sempre um desenho sobre. Sobre um suporte, o papel, e sobre um tema, a organização plástica da superfície do papel pelos traços providenciados pelo Artista.

Neste caso, não.

Aqui o papel apresenta-se como suporte desmaterializado de um véu que encerra o que se pode e deve imaginar, e que até então não se imaginara.

Então o papel perde sua condição até então primordial de suporte  do sobre, e atinge uma nova situação de filtro que recebe o filtro  através do qual Celso Minozzi olha, e olhando vê o mundo, isto é, constitui esse mundo.

Nesse sentido a obra dele insere-se ao mesmo numa absoluta abstração, calcada numa enganosa figuração e na mais pura e radical tradição paisagística.

É que o desenho da paisagem é sempre um  aprender a ver.

O paisagista olha, mas todo mundo olha.

O olho dele a-ponta, d-escreve o que há para ser visto, porque no geral mais se olha que se vê. E no mais das vezes não se vê nada, com os nosso processos mentais, simplificações do tipo o que é isto, o que isto quer dizer. Ou o que é pior, isto não quer dizer nada, isto não é nada. Comose o artista fosse um tipo de artista,e a obra de arte um tipo de dicionário.

O que se vê não está pronto lá, para-ser-visto.

Não é um objeto, é um constructo.

E a visão do paisagista vai deline(ando)do vai percorrendo o que não há, para que seja.

Celso Minozzi  grava esse per-curso  visível  nas tênues tessituras da ambigüidade entre a simples verificação  atmosférica e o sonho.

Mas que sonho!

Linhas verticais próximas, para nós podem ser apenas textura, mas para ele são retículas de um imaginar que não se completa nunca.

Determina e não determina, leva a ver e oculta.

Uma árvore é uma árvore, e não é.

É imagem e não é. É traço que não traça.

É como chuva que não molha, mas que depois  dela o ar  fica límpido.

Isso fica explícito no tratamento das superfícies das paredes dos edifícios, que são densas  porque mostras de mera  arquitetonicidade. São esgarçadas porque trazem vestígios de suportes, de olhares que acariciam argamassas rugosas, de irregularidades das telhas.

O olho do Observador  – o nosso – fica  exausto porque não  encontra ponto de parada um reduto a partir do qual  seja possível chegar, um eis aí... um suporte para tomar fôlego. Nada.

Os brilhos das luzes ficam sempre  dispersos, espalhados  pelas  fímbrias da determinação do ver-e-ver.

E sempre  o que se vê é novo. Mas ao mesmo tempo tudo o qie é possível  ver está num só desenho, está em todos e não está em nenhum.

Quem está frente a uma paisagem fica ele próprio instável querendo olhar para tudo e olhando, vendo e querendo ao mesmo tempo olhar “um pouco mais para lá”. Esse mais para lá não é atingido nunca e a observação torna-se ação de refazer.

Os desenhos aqui mostrados  refletem isso diretamente, porque  como nada há de interessante no mundo, nada há para ser visto e ao mesmo tempo, tudo é maravilhoso e extremamente interessante, o que traçar?

Celso Minozzi responde com sua obra, marcando a constituição da transparência, não usando temas porque esse é seu tema.

Seus desenhos mostram pre-textos  para experienciar o trans da aparência.

Vez por outra escapa uma cor ou outra. Acontece que essas cores são sempre cores  de coisas, cores de matéria, e nada aqui é matéria. É tudo abstração mascarada de figuração.

Muitas vezes apenas para descrever a superfície da matéria, é suficiente um desenho povero : isto é vermelho, aquilo é  água, aquilo é vegetação... um desenho para ágrafos.

Porém para se mostrar o que se vê é preciso traçar na mente. E com a mente.

sobre o autor

Célio Pimenta é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Célio Pimenta, São Paulo SP Brasil

 

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