A exposição antológica de Richard Rogers + Architectes no Centro Pompidou de Paris (até 3 março de 2008), apresenta o trabalho do arquiteto e seus colaboradores das primeiras obras, como Norman e Wendy Foster e Su Rogers, reunidos no Team 4 nos anos de 1960, até os projetos mais recentes do seu escritório, RSHP - Rogers Stirk Harbour + Partners.
O curador do Centro, Olivier Cinqualbre, admite que a mostra nasceu como celebração dos trinta anos da abertura do Centro, cujas pranchas e maquetes originais do concurso, raramente expostas ao público, são apresentadas, mas também como uma forma de reconciliação entre o Centro Pompidou e Rogers depois das polêmicas com sua não participação na elaboração dos trabalhos de renovação do mesmo, que por sua vez, foi muito criticado por Rogers que denunciava que o projeto afetava a integridade original do programa cultural e social do Centro.
O espaço expositivo é a Galeria Sul, completamente visível do exterior e diretamente em contato com o público. A retrospectiva proposta, acompanhada dos comentários de Rogers, de um lado é uma ocasião para ver todos os projetos mais importantes de sua história profissional: do projeto do Centre Pompidou, nos anos de 1970, à realização da sede dos Lloyd's em Londres, nos anos de 1980 e do recente Terminal 4 do aeroporto de Madrid; das primeiras experimentações de residências, realizadas como a Zip-Up House de 1968, aos projetos de Lu Jia Zui em Shanghai dos anos de 1990.
A exposição, que apresenta uma dupla leitura do trabalho do escritório, foi projetada por Rogers e os curadores do Centre Pompidou, e estrutura-se com percursos e conteúdos sugeridos pelo próprio arquiteto e elaborados pelo seu filho Ab Rogers. A primeira leitura é apresentada através de uma linha temporal, que de maneira crítica, ocupa a única parede opaca que recolhe todos os projetos realizados e não realizados em uma seqüência cronológica de 1961 aos dias atuais, dando, de maneira sintética a dimensão da pesquisa projetual, profissional e da experimentação do arquiteto. A segunda, que representa o cerne da exposição, apresenta aproximadamente 50 projetos, recolhidos segundo oitos categorias principais, organizados espacialmente como se cada projeto constituísse um organismo urbano, agrupados em pequenas ilhas, que singularmente evocam uma palavra chave do vocabulário arquitetônico do arquiteto: Transparência, Legibilidade, Ambiente, Público, Urbano, Leveza, Sistema. A última ilha temática apresenta os trabalhos em andamento.
Rogers introduz pessoalmente a exposição, através de um vídeo, contando sua trajetória profissional e sua biografia, e apresentando os companheiros de percurso - Foster, Piano, Rice, etc - dos quais reconhece ter aprendido mais do que de seus mestres. Relata passagens da sua carreira e da investigação projetual como a paixão pelos materiais, pela complexidade/legibilidade das estruturas, a importância da cor e a abordagem de temas ambientais e sociais nas suas obras. Faz considerações sobre a relação de sua obra com a “escola inglesa” dos anos 50-70, com o trabalho de James Stirling, dentre outros, e a sua ligação com a cultura do racionalismo italiano. Ao remontar seus anos da formação em Yale, explora o contato com a cultura arquitetônica americana, principalmente com a obra de Wright, Kahn e Rudolph. Ao final, reivindica a ligação indissolúvel entre a cidade e o projeto dos seus espaços, definidos como receptores dos edifícios construídos, mas sempre elucidando tal relação (ambiente urbano e a integração social) mediada puramente pela arquitetura.
Dentro as oito ilhas temáticas, é delineado um espaço central ocupado por grandes sofás para leitura e repouso dos visitantes. A cor, uma das protagonistas da mostra, aparece na definição e diferenciação das ilhas, permitindo uma fácil orientação e legibilidade do percurso.
A definição do detalhe, muito perseguida na sua investigação projetual, assume papel fundamental na mostra, com reproduções em escala 1:2 de nós (???) da cobertura do aeroporto de Barajas, na cor ciclame como todos os outros objetos.
A exposição acaba com a sessão dos projetos em curso como a Estação de Pusan, em Seul e o Terminal 2 do Aeroporto de Pudong, o novo projeto para a Arena, em Barcelona, as nove torres para Londres e Nova Iorque.
A declaração de Richard Rogers demonstra claramente a importância da exposição: “Estou feliz que uma exposição apresente os trabalhos que realizamos, os meus sócios e eu, nos últimos quarenta anos. Estou particularmente emocionado que ela aconteça no Centro Pompidou, na celebração do seu trigésimo aniversário. Conceber e construir o Centro Pompidou foram uma das melhores experiências da minha carreira”.
notas
Site official da exposição: www.richardrogers.co.uk/render.aspx?siteID=1&navIDs=1,6,12,1411
Catálogo oficial da exposição: Richard Rogers + Architectes. Olivier Cinqualbre (org. de), Dezembro 2007, 240 páginas, 340 ill. coloridas, formato 23,5 x 28 cm. ISBN 978-2-84426-342-1
sobre o autor
Adalberto da Silva Retto Junior é Arquiteto e Urbanista (1991) e Engenheiro Agronomo (1986). Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unesp - Campus de Bauru, Professor Assistente do curso Cidades Cosmopolitas, Professor Colaborador do Doutorado de Urbanismo no Istituto Universitario di Architettura di Venezia.
Adalberto da Silva Retto Junior, Paris França