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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
O autor cubano, Sérgio Valdés Bernal discorre sobre a história dos possíveis significados da denominação geográfica de Cuba. O artigo foi publicado originalmente em Cubarte

english
The Cuban author Sergio Valdes Bernal talks about the history of the possible meanings of the geographical name of Cuba. The article was originally published in Cubarte

español
El autor cubano Sérgio Valdés Bernal discurre sobre la historia de los posibles significados de la denominación geográfica de Cuba. El artículo fue publicado originalmente en Cubarte.

how to quote

VALDÉS BERNAL, Sérgio. O nome de Cuba. Drops, São Paulo, ano 08, n. 021.06, Vitruvius, mar. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/08.021/1742>.


Mapa de Juan de la Cosa, de 1500 [www.novomilenio.inf.br]


Cuba é o nome da “terra mais formosa que olhos humanos viram”, como a qualificou Cristóvão Colombo. Nós cubanos nos sentimos orgulhosos de que o nome de nossa Pátria seja tão atrativo como definitivo. De fato, é atrativo por sua sonoridade, e definitivo por sua procedência. Mas nem todos os que o utilizam conhecem sua origem e significado, nem sabem que muito antes que Colombo o documentara por escrito em seu Diário de navegação, era conhecido pelas comunidades aborígines que habitavam as Bahamas ou Lucayas e as Antilhas Maiores, ou seja, desde épocas anteriores à chegada dos europeus a estas regiões da América.

O Almirante do Mar-Oceano, sem se propor, tinha descoberto para a Europa renascentista um novo e desconhecido mundo, já que suas intenções tinham sido encontrar uma via marítima que tornasse mais seguro e rápido o acesso às exóticas e longínquas terras de Catay (China) e Cipango (Japão), tão exaltadas nessa espécie de enciclopédia geográfica sobre a Ásia Oriental que é o Livro de Marco Polo, por certo, uma das obras preferidas de Colombo.

A primeira terra avistada pelo Almirante e seus companheiros de aventuras foi Guanahaní, como a chamavam seus habitantes. Colombo lhe pôs o nome de São Salvador, clara alusão ao que significou esta ilha para o arriscado marinho genovês (hoje se conhece por Watling). Ali soube, da boca de seus moradores, os chamados índios lucayos (de luku- ‘ser humano, gente’ + cayo ‘ilha’: ‘habitantes dos cayos’), que mais ao sul existia Outra ilha grande muito, que acredito que deve ser Cipango, segundo as informações que me dão estes índios que eu trago (anotação de 21 de outubro de 1492).

Devemos esclarecer que, num princípio, a comunicação entre os peninsulares e os aborígines lucayos e antilhanos se realizou mediante a linguagem gestual e alguma ou outra palavra, como se deduz do reunido por Colombo e outros cronistas, como Las Casas y Oviedo. Para o ouvido europeu foi realmente difícil adaptar-se aos vocábulos de uma língua tão diferente da espanhola. Por isso não deve nos surpreender que na primeira alusão a nosso país, o Almirante escrevesse Colba. No entanto, em registros posteriores, com seu ouvido já mais familiarizado com a linguagem dos por ele chamados “índios”, se referiu de forma correta à denominação de nossa Pátria: Quisera hoje partir para a ilha de Cuba, que acredito deve ser Cipango (anotação de 23 de outubro de 1492).

Na chuvosa noite de 27 de outubro de 1492, finalmente, as caravelas aportaram nas costas cubanas, por isso se pospôs o desembarque para o dia seguinte. Ainda que Cuba nunca foi o tão ansiado Cipango ou Japão das crônicas de Marco Polo, ao menos causou em Colombo tal impressão por sua rica e variada natureza, que não pode menos que nos legar estas elogiosas palavras que nos orgulham ainda no presente: A terra mais formosa que olhos humanos viram.

Lamentavelmente, o próprio “Descobridor” foi o primeiro a querer substituir o nome aborígine por um castelhano, Juana, em homenagem ao príncipe Don Juan, filho e herdeiro dos Reis Católicos. Em 5 de dezembro, quando culminavam seus preparativos para o regresso à Espanha, Colombo escreveu em seu Diário: Desta gente diz que os de Cuba ou Juana... Felizmente, a denominação de Colombo não se popularizou entre os posteriores conquistadores e colonizadores peninsulares das Antilhas Maiores, que preferiram a voz indígena. Por outra lado, como aponta J. J. Arrom (2), em diversos mapas de princípios do século XVI aparece nossa ilha com o nome de Isabela devido a um lamentável erro cartográfico. Não obstante isto, vale a pena esclarecer que nos dois mapas mais importantes deste período, o do destacado cartógrafo Juan de la Cosa, de 1500, e o do cronista da corte, Pedro Mártir de Anglería, de 1511, se manteve invicto o nome de Cuba.

As tentativas de dar a nosso país um nome hispânico, culminaram com a real cédula de 28 de fevereiro de 1515, na qual se estabeleceu que, a partir dessa data, Essa ilha que se chamava Cuba se chama Fernandina. O mandato oficial foi em parte acatado, pois se tratava de uma denominação em honra do rei (observe o leitor que os nomes hispânicos que se trataram de impor, sempre foram em honra dos reis ou seus descendentes, o que evidencia a importância que se outorgava a Cuba como posse ultramarina da Espanha).

Durante muito tempo a maior ilha do arquipélago cubano foi chamada indistintamente Cuba ou Fernandina, como o demonstra a documentação colonial que se preservou até o presente (3). Inclusive em nossa primeira obra literária, Espejo de paciencia (1608), de Silvestre de Balboa, na qual se exalta a beleza de nosso solo, seu autor nos fala da Dourada ilha de Cuba ou Fernandina. Ademais, em obras cubanas de finais do século XVIII se registra ainda o uso de ambas denominações, como é o caso do Teatro histórico, jurídico y político militar de la Isla Fernandina de Cuba y principalmente su capital La Habana, de J. Urrutia y Montoya, publicada em 1791.

Mas nesta última e longa batalha se impôs, triunfalmente, o nome de Cuba. Indiscutivelmente, este fato guarda relação com o processo gestor da nacionalidade cubana, quando os crioulos começaram a tomar consciência de que representavam uma comunidade diferente da espanhola, com aspirações próprias. E ainda que nessa data o aborígine cubano já quase tinha desaparecido totalmente devido à exploração de que tinha sido objeto e, sobre tudo, à mestiçagem biológica e cultural, as correntes literárias conhecidas por siboneyismo e crioulismo ressaltaram o legado lingüístico-cultural aborígine em seus poemas, ao extremo de que o bardo do século XIX J. Fornaris expressasse o seguinte: Como negar que por natureza somos irmãos dos antigos habitantes de Cuba? Nessa luta pelo autóctone, por nossas raízes, numa sociedade mestiça onde cubano já significava mais que ser branco, mais que ser negro, ao dizer de José Martí, somente tinha cabimento o nome nativo da ilha.

Não poucos estudiosos cubanos e estrangeiros trataram de desentranhar o significado do exótico nome de Cuba, como é o caso do peruano D. A. Rocha (4), do cubano J. M. Macías (5), do francês L. Douay (6), do porto-riquenho C. Coll y Toste (7), do austríaco Leo Weiner (8) e do também cubano Fernando Ortiz (9). Ainda que as explicações de Coll y Toste e de Ortiz estão melhor encaminhadas que as do restante dos autores mencionados, a Arrom devemos o verdadeiro desciframento do significado do nome aborígine de nosso país:

Pois bem, ao manejar esse material lingüístico, encontro que C. H. de Goeje (10) registra no Suriname a voz dakuban “my field” (meu campo, meu terreno), e de pesquisas anteriores reúne as grafias a-kuba, a-kúba e u-kuba, todas com o sentido de “field”, “ground” (solo, campo, terreno). Nestas transcrições, explica o próprio Goeje, a vocal inicial a-, u- não é parte da raiz, mas um prefixo que denota ou anuncia o caráter geral da palavra, por isso separa com um hífen o prefixo da raiz. Kuba ou Kúba deve ter sido, por conseguinte, a voz que Colombo ouviria. E isso viria a explicar a vacilação do almirante ao registrá-la, abrindo ou cortando a vocal da primeira sílaba, como Colba, e depois como Cuba.

Para completar a idéia exposta por Arrom no que se refere ao significado de Cuba, recorremos a uma obra não consultada por este autor. Nos referimos a Filología comparada de las lenguas y dialectos arawak de Sixto Perea, publicada em Montevidéu em 1942. Na página 590 deste livro aparece a palavra cuba (na forma de ccuba, respeitando a grafia do autor) com o significado de ‘horto’, ‘jardim’. a-ccuba-ni-hú ‘jardim’, ‘horto’; a-ccuba-n-ni-hu ‘prédio’; dá-ccuba-n ‘meu jardim’; ba-ccuba-n, bu-ccuba-n ‘teu jardim’; etc. (a partícula –n- indica ‘posse’). A análise de Perea se baseia na tradução ao aruaco do Suriname ou lokono (de loko- ‘ser humano’, ‘gente’ + -no ‘sufixo pluralizador que equivale ao espanhol “nosotros”‘ > ‘nós somos gente ou seres humanos’) de um catecismo. Como os lokonos e demais índios amazônicos e antilhanos não tinham o conceito de “paraíso”, “éden”, nem tampouco o de “jardim” ou “horto”, pois somente conheciam o conuco ou konoco (‘bosque’) como zona preparada para a semear mediante o corte e a queima, podemos deduzir que os jesuítas recorreram ao vocábulo cuba (‘terra lavrada’, ‘terra cultivada’), para utilizá-la na tradução como equivalente do “paraíso”, do “jardim do Éden”, dos textos religiosos. Por outro lado, pode ser que nas Antilhas este vocábulo também pudesse significar ‘terra habitada’.

Resumindo, estes são os possíveis significados do nome de nossa Pátria. O que é certo, é que esta denominação geográfica se deve aos aborígines antilhanos, que falavam línguas muito semelhantes, pertencentes à família lingüística aruaca, a de maior extensão territorial na América do Sul antes da chegada dos europeus. (11)

notas

1
Artigo Publicado em CUBARTE <http://www.cubarte.cult.cu> em 31 de Outubre, 2006.

2
ARROM, José Juan. “El nombre de Cuba, vicisitudes y su primitivo significado”. In Estudios de lexicografía antillana. La Habana, Casa de las Américas, 1980, p. 11-30.

3
Ver: Colección de documentos inéditos relativos al decubrimiento, conquista y organización de las antiguas posesiones españolas de Ultramar. Segunda Serie. Isla de Cuba. Mardid, Real Instituto de Historia, 1885, 3 tomos.

4
ROCHA, Diego Andrés. Tratado único y singular del origen de los indios. Lima, 1681.

5
MACÍAS, José Miguel. Diccionario cubano etimológico, crítico, razonado y comprensivo. Veracruz, Tipografía de A. M. Rebolledo, 1885.

6
DOUAY, León. Études etymologiques sur l’antiquité américaine. París, 1891, p. 26.

7
COLL Y TOSTE, Cayetano. Prehistoria de Puerto Rico. San Juan, Tipografía Boletín Mercantil, 1907, p. 235.

8
WEINER, Leo. Africa and the Discovery of America. Filadelfia, 1920, vol. 1, p. 12-13.

9
ORTIZ FERNÁNDEZ, Fernando. “Cuba primitiva. Las razas indias”. In Cuadernos de Historia Habanera. La Habana, Municipio de La Habana, 1937, nº 10, p. 36.

10
GOEJE, Claudio Henricus de. The Arawak Language of Guiana. Amsterdam, VAW, 1928.

11
Para os interessados na temática do legado lingüístico indo-americano no espanhol falado em Cuba, lhes recomendamos a leitura das seguintes obras do autor deste trabalho: “En torno a los remanentes del aruaco insular en el español de Cuba” (Islas. Santa Clara. 1984, nº.77, p. 5-22); Los indoamericanismos en la poesía cubana de los siglos XVII, XVIII y XIX (La Habana, Editorial Ciencias Sociales, 1984); La evolución de los indoamericanismos en el español de Cuba (La Habana, Editorial de Ciencias Sociales, 1986); Las lenguas indígenas de América y el español de Cuba (La Habana, Editorial Academia, t. 1, 1991, t. 2. 1993).

sobre o autor

Sergio Valdés Bernal, membro da Academia Cubana da Língua, da Real Academia Espanhola e da Norte-americana.

Sergio Valdés Bernal, Havana Cuba

 

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