Mais uma vez a festa foi grande e tomou conta de toda a cidade. Os 205.000 metros quadrados do novo pavilhão da feira, de Massimiliano Fuksas, foram ocupados por 2.000 expositores, além de outros 360 pequenos e grandes espaços entre show rooms das grandes firmas, lojas temporárias, ateliês e escritórios, lojas e fábricas, museus e galerias, apartamentos e hall de hotéis, colocados à disposição de outros tantos eventos do FuoriSalone e cadastrados pelo guia day by day da revista Interni (neste ano em sua décima oitava edição), bíblia do povo do design durante os cinco dias do evento.
Mestres inesquecíveis do passado (homenagem a Bruno Munari na Danese; mostra sobre Anna Castelli Ferrieri no Kartellmuseu de Noviglio; galeria de clássicos Sixtyearsofhistory na Arflex) alimentando as saudades – afinal, tudo já foi inventado! – e a incerteza sobre o futuro; estrelas do lifestyle, incluindo os grandes nomes da moda (convocados este ano, entre outras, a “vestir” e interpretar as cadeiras Mademoiselle de Philippe Starck pela Kartell) mostrando a vitalidade e a efervescência de um setor que enfrenta com coragem (ou inconsciência?) novos ritmos, novos e instáveis mercados, aprontando novas “coleções” a cada temporada. Design fútil e design sério (como o do Premio Lissone para jovens desenhistas, que apresentaram este ano encantadores projetos para as crianças). Mostras super clean (Il bagno Alessi. Dot no Emporio 31; Cappellini em sua loja efêmera no ex-supermercado da Upim) e ambientes super kitch (a Personal editions, de Marcel Wanders). Materiais naturais e artificiais, do passado e do futuro; retorno do linoleum – na versão Marmoleum proposta por 12 designers holandeses (ainda manufactured com óleo de linho mesclado com resinas, argila, juta e pigmentos naturais) – e destaque para o Corian (tri-idrato de alumínio e resina acrílica, que pode ser trabalhado como a madeira e também é termomoldável, inventado há 40 anos pelos pesquisadores da Dupont, mas só nos últimos 10 intensamente experimentado na arquitetura e no design), protagonista, entre outros, de Corian Nouvel Lumières, proposta de ambiente habitacional multi-sensorial baseado na interação e integração de corian com luz e tecnologias eletrônicas assinado por Jean Nouvel.
Nas frestas, surpresas e diversões para todos os gostos.
Lugares e instalações para refletir e pensar: bem no meio do burburinho (Red cube) ou em lugares afastados como a ex-Serraria de via Meda 24, que hospedou Oltre il progetto, de Silvio Silvestrin (quatro ambientes dedicados à contemplação, à ação, ao trabalho e ao sonho); músicos virtuosos tocando os novos instrumentos musicais da Yamaha no lindo contexto da ex-fábrica Barattini;.Jaga Internationales revelando para o público um enorme molde em chocolate de seu radiador modular decorativo de parede (heatwave, design Joris Laarman); Vibram apresentando, no contexto singelo de seu próprio escritório, um sapato de borracha de cinco dedos (Vibram just for me); a família Traviganti abrindo as portas da sua oficina a uma multidão de visitantes para mostrar sua recente produção – para os Emirado, mas não só – de ovos gigantes em metal e esmaltes (acabamento em ouro fino, escondendo o bar atrás de quatro portinhas!). No meio do incrível estoque, um automa tamanho natural, roupas de seda, circulava entre os hospedes oferecendo num tabuleiro flores de jasmim.
A maioria dos eventos acima mencionados encontrou sua localização ideal na malha de ruas ocupadas por grandes e pequenos espaços industriais transformados, e não na “Zona Tortona”. Destaque este ano para a Fondazione Arnaldo Pomodoro (esplendidamente instalada – projeto de Pierluigi Cerri – nas oficinas mecânicas da ex-Riva de via Stendhal), onde Saporiti Italia desenvolveu o tema “funções da mesa” com os projetos de oito arquitetos e artistas.
Mas o Fuori Salone deste ano registrou também o retorno dos locais históricos: o Castello Sforzesco, que hospedou no Cortile della Rocchetta e na Corte Ducale Decode Elements, uma série de eventos dedicados à leitura e aos elementos primários, com instalações de 11 arquitetos e designers e lindos espetáculos noturnos ; o Palácio Real (com a mostra Camera con vista, arte e interni in Italia 1900-2000, até dia 1° de julho); a Loggia dei Mercanti.
Também Jacopo Foggini, designer-artista que nos havia acostumado a procurar lugares industriais longínquos para admirar suas esculturas luminosas em metacrilato (o material dos faróis de automóvel), este ano ocupou com suas instalações uma extraordinária igreja do século fechada ao culto: San Paolo Converso.
Enfim, cada um teve sua chance de encontrar sua(s) tribo(s).
Passeando em traje a rigor entre brancos lençóis no topo do palácio de Bang and Olufsen na via Dante (Una giornata particolare); namorando a meia noite na Loggia dei Mercanti iluminada pelos Racconti di luce do light designer Herbert Cybulska; curtindo com a família as vacas da cow parade espalhadas até hoje em todos os cantos da cidade (“Olha vaca bonita mãe!”, “Pois é, filhinho, hoje deve ser a festa do boi”). Ou descobrindo em oficinas escondidas emocionantes objetos sem tempo apresentados por surpreendentes holandeses: como Lonneke Gordjin – formada em 2005 pela Design Accademy de Eindhoven, studio (Drift) aberto com Ralph Nauta no ano passado – que nos Tales from Eindhoven nos presenteou Dandelight, dandelion natural (aquela flor das nossas lembranças de infância, que soprando dissolve-se no ar) aplicado com paciência sem fim sobre um led alimentado por bateria.
sobre o autor
Giovanna Rosso Del Brenna é correspondente internacional do Portal Vitruvius na Itália.
Giovanna Rosso Del Brenna, Milão Itália