O aeroporto de Schiphol (Amsterdam), a Biblioteca Pública de Vancouver, o Centro de Dança Laban (Londres), o Hospital de Reabilitação Schwab (Chicago) ou o Palais Omni Sports em París-Bercy (França) são edifícios com ‘coberturas verdes’. Green roofs, eco-roofs ou roof gardens é a denominação com a qual referir-se às coberturas de construções urbanas que estão total ou parcialmente cobertos de vegetação. Não se deve considerá-las jardins ou parques, nem tampouco paisagens construídas sobre a parte alta de um edifício com uma intenção decorativa, e sim o contrário, como um fragmento de natureza silvestre transplantada à arquitetura mediante um sistema de engenharia com um fim muito concreto: contribuir à sustentabilidade ecológica do ambiente urbano.
Os telhados recobertos de grama tradicionais nas moradias populares da Irlanda e dos paises escandinavos são apontados como antecedentes diretos destes novos jardins urbanos, que transformam a qualquer edifício em uma pequena defesa do meio ambiente sem interferir absolutamente em sua funcionalidade. Cada ‘cobertura verde’ está constituída por um sistema de engenharia ligeiro que permite a plantação e crescimento de plantas e flores sobre uma laje convencional. Este sistema está integrado por seis camadas que se superpõem ao telhado do edifício para assegurar tanto o correto isolamento necessário para a integridade dos materiais arquitetônicos como para a vida do reino botânico que acolhe em suas alturas. A vegetação adequada para as coberturas verdes é escolhida em função das condições climáticas próprias de cada cidade e das características físicas do edifício. Em geral, ainda que se concebam ‘coberturas verdes’ com população caduca ou perene, se consideram ideais aquelas espécies cuja altura é baixa, que crescem e se expandem com rapidez, com alta resistência à seca e carentes de necessidades especiais de irrigação ou nutrição.
A Alemanha conta com mais de treze milhões de metros quadrados de coberturas verdes e segundo uma normativa do governo municipal de Tókio, todos os edifícios construídos depois de 2001 cuja cobertura tenha extensão superior aos 1000 m2 deverão converter em ‘verde’ pelo menos um 20 % de sua superfície. Suíça, Áustria, Grã-bretanha, Hungria, Holanda, Suécia (www.efb-bauwerksbegruenung.com) e Estados Unidos (www.greenroofs.net, www.greeninggotham.com , www.artic.edu/webspaces/greeninitiatives/greenroofs ) são alguns dos países onde já se promove e se regula a instalação de ‘coberturas verdes’ mediante iniciativas locais oficiais, muitas vezes em cooperação com entidades privadas, a fim de integrar nas construções urbanas as propriedades vegetais que contribuem para combater o efeito albedo ou efeito ilha de calor urbano, fenômeno responsável pelo incremento de temperatura dentro do perímetro de uma cidade devido ao aquecimento que produzem os gases de veículos e aparatos de ar-condicionado, assim como pela energia solar absorvida pela superfícies urbanas re-radiada à atmosfera como calor. A capacidade de plantas e árvores para absorver as emissões de CO2, esfriar a atmosfera, filtrar o ar e reter a água ajudam a minimizar as conseqüências negativas deste efeito além de colaborar com a economia energética e com a melhora do funcionamento de estruturas de serviços da cidade, como por exemplo reduzindo a pressão no sistema de esgoto. A central industrial de montagem de automóveis Ford em Michigan (www.hfmgv.org) desenhada por William McConough é uma referência paradigmática da efetividade dessas funções de reparação meio-ambiental proporcionadas por uma ‘cobertura verde’ num entorno altamente em risco pelos efeitos da poluição.
A Alemanha foi um país pioneiro há uns cinqüenta anos e continua liderando a pesquisa e desenvolvimento destes sistemas que permitem a criação de dois tipos de ‘cobertura verde’: intensivas e extensivas. As coberturas verdes intensivas são aquelas que dispõem de uma camada de crescimento de profundidade média que permite plantar arvores e arbustos enquanto que as extensivas são aquelas com uma camada de crescimento fina adequada para flores e ervas.
Diferentes projetos recentes de ‘coberturas verdes’ convertem estas superfícies em acessíveis ao público, oferecendo-as como espaço de descanso e ócio ao ar livre para os vizinhos de um imóvel (www.balmori.com) ou como parque urbano sem que diminuam seu potencial de ferramenta ecológica. Dois bons exemplos de incorporação ativa de uma cobertura verde à dinâmica cultural da cidade proporcionam o Jardim Botânico Augustenborg (www.greenroof.se), que distribui um jardim de 9500 m2 sobre a superfície da cobertura de diferentes edifícios municipais da cidade sueca de Malmö e o Millenium Park de Chicago, uma ‘cobertura verde’ intensiva que reabilitou uma importante área da cidade e atualmente constitui um de seus principais centros lúdicos.
Característica da arquitetura atual, como reflexo de ter voltado o olhar à natureza que constitui um traço do espírito contemporâneo, é o crescente reconhecimento da necessidade de compatibilizar as capacidades do natural com a arquitetura, quebrando assim a atitude tecnocêntrica que definia essencialmente à arquitetura moderna. As coberturas verdes surgem como uma solução possível entre a cidade-jardim pensada pelos higienistas de finais do século XIX, que hoje se vêem frustradas em muitos casos pela perda desses espaços verdes que caíram em mãos da especulação tendente a fazer o tecido urbano cada vez mais compacto provocado pelo encarecimento do solo, e o questionamento do modelo de cidade dispersa da modernidade que se torna contagiante devido à indispensabilidade do automóvel para deslocar-se por ela. A instalação destes pulmões verdes nas lajes constituem intervenções pontuais que não afetam à estrutura física nem à dinâmica própria da cidade e são ante tudo uma opção livre de seus habitantes para melhorar ativamente a qualidade de vida nela, trazendo e incorporando a natureza a sua essência e expectativas positivas de progresso ao outorgar aos edifícios estas fachadas que olham ao céu.
notas[artigo publicado em 31 de maio de 2006 no caderno Cultura/s, suplemento do jornal La Vanguardia (Barcelona)]
[tradução ivana barossi garcia]
sobre o autor
Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste, titulares do escritório ¿btbW, são autores do livro “Enric Miralles: Metamorfosi do paesaggio”, editora Testo & Immagine, 2004.Fredy Massad e Alicia Guerrero, Barcelona Espanha