Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Ana Rosa de Oliveira sobre a obra de André Le Nôtre, paisagista francês do século XVII cujo auge da produção está nos jardins dos castelos Vaux-le-Vicompte e Versalhes. É responsável também por vários jardins nos arredores de Paris

english
Ana Rosa de Oliveira on the work of André Le Nôtre, French landscape of the seventeenth century whose peak production is in the gardens of Vaux-le-Vicompte and Versailles. He is also responsible for several gardens on the outskirts of Paris

español
Ana Rosa de Oliveira sobre la obra de André Le Nôtre, paisajista francés del siglo XVII cuyo auge de producción está en los jardines de los castillos Vaux-le-Vicompte y Versalles. Es responsable también por varios jardines en los alrededores de París

how to quote

OLIVEIRA, Ana Rosa de. Jardim, natureza e poder. A obra de André Le Nôtre. Drops, São Paulo, ano 08, n. 022.07, Vitruvius, maio 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/08.022/1752>.


Vista da entrada de Vaux le Vicompte [www.lesplusbeauxjardinsdefrance.com/vaux_le_vicomte.html]


O jardim clássico francês é um produto direto do mundo culto e pessoal de André Le Nôtre, diferente do que se banalizou como o “estilo francês” difundido através do catálogo de formas de Dézallier, desprovido da profundidade dos questionamentos de Le Nôtre, como se verá ao longo deste escrito. E se a imagem do mais hábil paisagista francês é mais popular fora da França, como observa Bernard Jeannel (1), é provavelmente porque para vários franceses sua obra ainda está muito associada a um passado fortemente criticado, ligado à monarquia francesa.

André Le Nôtre (1613–1700) era filho de jardineiros e seu círculo familiar, profissional e social foi em parte ligado a este meio. Sua família vivia no entorno do Jardim des Tuileries, seguindo uma tradição “tão antiga quanto lógica de alojar os jardineiros nas proximidades dos jardins que cuidavam” (2). Desde muito jovem Le Nôtre pode assistir as transformações do jardim des Tuileries, acompanhando o trabalho de seu pai e dos melhores jardineiros da época. Certamente também contribuíram em sua formação a leitura dos escritos (3) de autoria de Claude Mollet, primeiro jardineiro do rei e colega de seu pai Pierre Le Nôtre.

Paralelamente à jardinagem, Le Nôtre freqüentou durante seis anos o ateliê de Simon Vouet (1590–1649), convivendo com importantes artistas contemporâneos a ele. O pintor Simon Vouet, que foi também professor de Charles Le Brun e Eustache Le Sueur, tinha vivido na Itália entre 1615 e 1627 onde tomou contato com as correntes representativas da pintura italiana da época. Na sua volta à Paris dirigiu um importante ateliê de pintura adaptando o estilo italiano ao gosto das grandes decorações pedidas pela corte, aproximando-se do classicismo de Nicholas Poussin.

Nesse ateliê Le Nôtre fez amizade com Charles Le Brun pintor e decorador, de Vaux-le-Vicompte e Versalhes, com quem compartilha do gosto e a curiosidade pelos mitos da antiguidade nos quais Le Brun se inspirava com frequência. Também se iniciou em escultura com Lerambert.

Além das amizades ligadas ao mundo das artes e da jardinagem, outro aspecto a destacar na sua formação foi a familiaridade que adquiriu relativa aos problemas teóricos e práticos da perspectiva. Segundo, Bernard Jeannel na sua época “era possível estudar as Leçons de perspective positive du Cerceau (4), e segundo este mesmo autor Le Nôtre também “estuda com atenção os quarenta e três livros de La perspective curieuse ou magie artificielle do padre Nicéron. Neste tratado diferentemente da perspectiva teórica (ou ótica) a perspectiva “positiva” trata essencialmente dos efeitos práticos da deformação da perspectiva” (5). Como se verá na seqüência do artigo, Le Nôtre aplicará com maestria os conhecimentos técnicos relativos à perspectiva e outros ligados à arte dos jardins.

Em 1635, aos 22 anos de idade, André Le Nôtre foi nomeado primeiro jardineiro de Gaston d’Orleans, irmão do rei Luis XIII e trabalha acompanhando seu pai no Jardin des Tuileries, onde permanecerá durante mais de 20 anos.

Seus contatos, a tradição oral, o estudo de pintura e escritos ligados às técnicas de jardinagem, aliados a sua curiosidade, vão pouco a pouco ampliando sua visão e sua capacidade de expressão plástica. Esta bagagem de conhecimentos e vivências o permitirão realizar a partir dos seus quarenta anos um conjunto de obras marcantes das quais destacamos os jardins de Vaux-le-Vicompte e Versailles.

Vaux-le-Vicompte, situado em Maincy, 55 Km a sudeste de Paris, é considerado uma de suas obras primas. O jardim e o palácio foram concebidos para o ministro das Finanças Nicholas Fouquet. Paradoxalmente – após a festa de inauguração deste jardim em 1661, feita em homenagem a Luis XIV – Nicholas Fouquet foi encarcerado e mantido em prisão até sua morte, entre outros motivos, por possuir uma propriedade mais aparatosa que a do Rei.

No jardim de Vaux-le-Vicompte Le Nôtre usa com maestria os recursos da perspectiva na composição paisagística. Este é um jardim para ser visto a partir do Palácio e tem autonomia em relação à sua arquitetura. Para compensar a distribuição axial em pendente do terreno e sua longa extensão em detrimento de sua largura, Le Nôtre oculta partes do jardim (6) e anula os efeitos da perspectiva em fuga. Cria assim um jardim de uma cena só, aparentemente menos longa e não imediatamente evidente como em Versalhes. Para isso, ao longo de um eixo central ordena uma seqüência de parterres, espelhos d’água que culminam com uma estátua de Hércules fechando a perspectiva e relacionando o fundo do jardim com um quadro de Nicholas Poussin dos 7 sacramentos.

No mesmo ano da prisão de Fouquet, Luis XIV iniciou a ampliação do antigo pavilhão de caça de Luis XIII que seria transformado no palácio de Versalhes e residência real a partir de 1682. As obras do palácio foram desenvolvidas num longo período de tempo e dela participaram os arquitetos, Louis Le Vau (1612–1670), Jules Hardouin-Mansart (1646–1708),Jacques Ange Gabriel (1698–1782) e o pintor e interiorista Charles Le Brun (1619–1690).

Com relação ao lugar escolhido para instalar Versalhes, sua topografia plana e sem atrativos e a falta de água para abastecer a corte o indicam como um dos mais inadequados para estabelecer o jardim e a residência da corte. No entanto, para Luis XIV, Versalhes foi concebido para dar “a medida exata da gigantesca dimensão do governo humano sobre a natureza” e entendimento desta iniciativa deve ser vinculado a um contexto de domínio simbólico e físico do território.

Numa escala macro o jardim se estrutura através de grandes eixos retilíneos onde se distribuem parterres, espelhos d’água, elementos arquitetônicos. O eixo central atinge cerca de 14 km de comprimento e permite uma visão ampla do território. Esta experiência do olhar que alcança o horizonte longínquo está na base do eixo visual, o mecanismo fundamental de ordenação do conjunto de Versalhes e de muitos outros da arquitetura barroca. Ela se incorporará como um dos mecanismos de ordenação compositiva mais fundamentais da Ecole de Beaux Arts cujas origens remontam precisamente ao reinado de Luis XIV (7).

Numa escala micro, o jardim apresenta uma cenografia arquitetônica e vegetal obcecada pelo detalhe e voltada ao deleite e à provisão de acontecimentos para os convidados do rei (cenas de teatro, terraços, fontes, conjuntos de estátuas, labirinto, espelhos d’água).

Embora Vaux-le-Vicompte e Versalhes em si já representem muito bem o auge da produção de Le Nôtre, paralelamente a estes o paisagista também participa do desenho de vários outros jardins nos arredores de Paris e nas províncias, entre eles Tuileries, Champs-Élysées, Chantily, Saint Germain, Saint Cloud, Sceaux, Fontainebleau, Meaudon. Permanece em todos eles a idéia de ordem, simetria que concorrem para sua inteligibilidade. Por outro lado, “numa época na qual a linguagem mitológica é o modo de expressão comum na Europa Artística, os jardins de Le Nôtre exprimem uma mensagem de triunfo que se evidencia ou oculta segundo o caso” (8). Essa dupla polaridade dos seus jardins que tem como apoteose Versalhes, onde, de um lado temos o rigor de uma organização geométrica do espaço e do outro temos o ressurgimento de uma mitologia lúdica e oracular – vem a cristalizar a herança do humanismo francês, como bem observa Bernard Jeannel. Em síntese, sua obra é um registro excepcional da política, ciência e sensibilidade do seu tempo (9).

notas

1
JEANNEL, Bernard. Le Notre. Paris, Fernand Hazan, 1985.

2
Idem, ibidem.

3
Théâtre des plans et jardinages contenant des secrets et des inventions inconnus à tous ceux qui jusqu’à présent se sont mellés d’écrire sur cette matière. Através de seus contatos, tradição oral, estudo de pintura e escritos ligados às técnicas de jardinagem.

4
J. Androuet du Cerceau.

5
JEANNEL, Bernard. Op. cit.

6
Em um eixo transversal que corta o eixo central e rebaixado em relação a este, distribui um canal de água, uma gruta e uma cascata.

7
OYARZÚN, F; ARAVENA, A. QUINTANILHA, J. Los hechos de la arquitectura. Santiago de Chile, 1999.

8
JEANNEL, Bernard. Op. cit.

9
Outras fontes consultadas: ADAMS, William Howard. Les jardins em France, 1500-1800. Paris, Le Reve et le Pouvoir, 1979 ; DEZALLIER D’ARGENVILLE, J. La théorie et la pratique du jardinage, Paris, 1709 ; COLONNA, Francesco. Hypnerotomachia Poliphili. Veneza, 1499, reeditado Pádua 1964; HALZEHURTS, Hamilton F. Gardens of Ilusion (The Genius of André le Nostre), Nashville, 1980.

10
http://www.lesplusbeauxjardinsdefrance.com/vaux_le_vicomte.html

11
http://www.lesplusbeauxjardinsdefrance.com/chateau-jardins-vaux-le-vicomte.php

sobre o autor

Ana Rosa de Oliveira, pesquisadora e paisagista do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Ana Rosa de Oliveira, Rio de Janeiro RJ Brasil

Andrê Le Nôtre [www.lenotre.culture.gouv.fr]

Charles Le Brun [www.lenotre.culture.gouv.fr]

Vista do jardim de Vaux-le-Vicompte a partir do castelo [(10)]

Vista do castelo a partir do Canal [(11)]

Vista aérea dos Jardins e mapa da cidade de Versailles [www.lenotre.culture.gouv.fr]

Planta baixa dos jardins de Versalhes [VERCELLONI, Virgilio. Atlas Historique des jardins européens. Paris, Hatier, 1991]

Vista do jardim de Versalhes [www.lenotre.culture.gouv.fr]

 

comments

022.07
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

022

022.01

46º Salone del Mobile

Milano, 18-23 de abril 2007

Giovanna Rosso Del Brenna

022.02

"És um gênio"

Ou o efeito Gehry

Fredy Massad and Alicia Guerrero Yeste

022.03

De contrastes arquitetônicos

Humberto González Ortiz

022.04

Vegetação nas Alturas

Fredy Massad and Alicia Guerrero Yeste

022.05

Christopher Tunnard

Um jardim para a modernidade

Ana Rosa de Oliveira

022.06

De outra latitude

Fredy Massad and Alicia Guerrero Yeste

022.08

A casa da gente

Quando o habitante se assenhora de sua moradia

Sonia Manski

022.09

São Paulo Now

Wellington Cançado

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided