A opinião foi generalizada: decepcionou. Pouca divulgação, organização confusa, distância grande entre o edifício principal do complexo de Lingotto, antiga instalação da Fiat restaurada por Renzo Piano, e o pavilhão de Palavela onde se realizavam as palestras magnas; conteúdos fracos das exposições, quase sempre, ou melhor, como sempre, voltadas para a apresentação das obras dos palestrantes; pouca crítica e raras conclusões. Fato sintomático do esvaziamento cultural do maior encontro de arquitetura – o comparecimento de poucos astros internacionais, especialmente, os italianos; onde estavam Vittorio Gregotti e Renzo Piano? A exceção concentrou-se em Maximiliano Fucsas, Peter Eisenman, Kengo Kuma, Mathias Klotz e Teodoro Gonzáles de Leon, o escolhido para a Medalha de Ouro da XXIII Congresso da UIA, que comemorava também 60 anos de atividade.
Em contraposição, um grande contingente de profissionais do mundo todo, não só arquitetos e jovens estudantes, mas designers e artistas de outras áreas – foram 10 mil inscritos – compareceu em peso para assistir alguns dos cerca de 600 palestrantes relacionados ou alguma das mais de 100 apresentações programadas.
Antecipando a fragilidade do evento, a cerimônia de abertura, organizada no pátio do castelo de Reggia di Venaria, nos subúrbios de Turim e de difícil acesso, foi iniciada com um dilúvio, que atingiu centenas de pessoas, alagou o cenário dos frágeis cubos de plástico como assentos e encolheu os discursos.
Outro acontecimento triste fechou o congresso: a morte súbita de Giancarlo Ius, vice-presidente da UIA e o próximo a presidir a entidade. Tomou posse então a arquiteta australiana Louise Cox.
Mais feliz foi o tema principal do evento Transmitting Architecture, objetivando, entre outras questões, implantar mais democracia nas cidades. Abrindo as discussões, “A linguagem da arquitetura contemporânea”, como fazê-la, ou melhor, como deveria ser feita, um dos tópicos do segmento Cultura, dividiu com Democracia e Esperança a proposta de diálogos entre diferentes etnias e ideologias, ou seja, através de valores e sentimentos entre todas as culturas, por meio dos profissionais que se reuniam em Turim. E encontrar fórmulas ou novas perspectivas de vida a partir de uma “arquitetura para todos”, a fim de humanizar o século XXI. Jovem arquitetura, outro tema importante para a troca de idéias e trabalhos de alguns jovens arquitetos, contribuiu para a discussão sobre o futuro das cidades. Sustentabilidade e preservação do meio ambiente continuaram em pauta.
Presidindo o Comitê de Críticos de Arquitetura – CICA, Joseph Rykwert demonstrou a esperança de que o congresso pudesse efetivamente promover, especialmente por meio da mídia, a difusão da importância da arquitetura do cotidiano que normalmente não provoca interesse, e que procurasse encorajar o ensino da arquitetura já a partir das escolas secundárias. Para ele, conforme entrevista concedida ao Jornal de Arquitetura do Congresso, o papel da crítica no processo criativo continua bastante complicado; manda um recado lembrando que os grandes críticos são, freqüentemente, artistas, e que então eles mesmos deveriam exercer a autocrítica.
Finalizando, uma das mensagens do manifesto divulgado após o congresso sintetiza as preocupações atuais dos arquitetos e urbanistas e referenda as propostas do encontro ao demandar, entre outras observações, “uma arquitetura que se faça interprete da natureza, que defenda e valorize a biodiversidade em todos os âmbitos: estético, ético e político”.
A escolha da cidade italiana de Turim para sediar o importante evento, deveu-se, segundo os organizadores do congresso, ao fato de a cidade, ao mudar sua identidade de capital da indústria automobilística italiana, cujo pólo principal era a indústria Fiat, se transformar em uma nova metrópole com qualidade urbana, sem perder seu caráter histórico. Nela predominam as obras do arquiteto Guarino Guarini, do século 17. Cortada pelo rio Pó, e afastada do circuito histórico de Roma e Florença e seus não menos importantes entornos, a capital piemontesa se favorece desse fato vivendo sua tranqüilidade e proporcionando aos poucos turistas tempo para apreciar seus lindos monumentos e não menos lindas paisagens. E tomar um “curto” ou um vermouth sem pressa em um dos inúmeros cafés.
notasPara maiores informações sobre o evento, consulte o site: www.uia2008torino.org
sobre o autor
Haifa Yazigi Sabbag, crítica de arquitetura, participou do XXIII Congresso UIA – Turim 2008 na condição de correspondente do Portal Vitruvius.
Haifa Yazigi Sabbag, São Paulo SP Brasil