Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Roberto R. Andrés sobre o edifício em que atualmente se encontra o Museu de Arte da Pampulha, originalmente projetado por Niemeyer para abrigar um cassino, cujo funcionamento fora proibido em 1946

english
Roberto R. Andrés on the building that currently houses the Museum de Arte da Pampulha, originally designed by Niemeyer to house a casino, whose operation had been banned in 1946

español
Roberto R. Andrés sobre el edificio en donde actualmente se encuentra el Museo de Arte de Pampulha, originalmente proyectado por Niemeyer para albergar un casino, cuyo funcionamiento fue prohibido en 1946

how to quote

ANDRÉS, Roberto R.. O cassino e o incubo branco. Sobre o projeto de Niemeyer para a Pampulha. Drops, São Paulo, ano 09, n. 024.05, Vitruvius, set. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/09.024/1768>.


Mundus Admirabilis, Regina Silveira, 2007. Instalação Site Specific no MAP [Foto Acervo do Map]


O edifício atual do MAP foi construído para ser um cassino. Projetado por Oscar Niemeyer na década de 1940, foi transformado em Museu em 1957 – o cassino havia sido fechado em 1946, com a proibição das casas de jogos no Brasil. No edifício, Niemeyer realiza um trabalho fino com os materiais, as soluções plásticas e espaciais, gerando uma arquitetura inebriante, que toca ao corpo e aos diversos sentidos. Propicia a promenade architecturale de uma maneira sinestésica: o corpo se insere na complexidade do espaço e sua apreensão se faz com o deslocar em uma experiência pluri-sensorial. O toque fino do alabastro soma-se ao vento e som da lagoa e à reflexão do ambiente no grande espelho. A reflexão da voz na boate soma-se ao piso iluminado e à vista panorâmica da lagoa da Pampulha. Assume a arquitetura seu papel de mãe de todas as artes: conjuga os diversos sentidos em uma experiência corporal completa.

Quando tal edifício serve para a exposição de arte, surge um embate. “Trata-se de uma arquitetura insubordinada”, aponta o curador do MAP, Marconi Drummond. A arquitetura não se resigna a ser pano de fundo para as pinturas, desenhos, esculturas, etc. Não assume o lugar supostamente neutro do cubo branco, que, para O’doherty, “coloca a obra de arte entre aspas”. Este colocar entre aspas foi a maneira hegemônica de se expor durante o séc. XX e pode ser visto como uma ampliação dos procedimentos da ciência moderna, que isola fenômenos de seu contexto para vê-los objetivamente. No MAP, a obra de arte não é isolada do mundo (como bactérias nas lâminas de um microscópio) mas deve entrar em diálogo com a arquitetura na qual se insere. O edifício participa da apreensão da arte, o que tem de ser assumido pelos que ali expõem.

Há alguns anos, a curadoria anterior investiu suas fichas nesta relação arte/arquitetura. Traçou uma linha curatorial focada sobre práticas artísticas que assumissem uma relação dialogal entre o museu e a obra que ali se instala, apresenta e expõe (para falarmos com Buren). As exposições de diversos artistas, de Damien Ortega a Rivane Neuenschwander, foram obras construídas para aquela arquitetura, surgidas de um diálogo do artista com as especificidades do edifício. Também o programa de residência artística se voltou para a relação com a arquitetura: os artistas residentes deveriam realizar trabalhos site specifics no edifício.

A curadoria atual, propondo a re-inserção de artistas que trabalham em suportes bi-dimensionais, fez uma outra aposta: o diálogo com o edifício seria cumprido pela expografia. Este é o caso das exposições Binária e NeoVanguardas , ocorridas em 2007, ano de comemoração do cinqüentenário do MAP. Em ambas, os objetos expostos eram principalmente bi-dimensionais (pinturas, desenhos, fotografias, etc.), e o diálogo com o edifício foi feito pelo projeto expositivo.

Fato é que fazer uma exposição no MAP não é tarefa banal. A arquitetura não está pronta, com todas as paredes brancas, passiva, esperando a instalação da exposição. Além disso, o edifício do Cassino não suporta uma reserva técnica adequada e os espaços administrativos são pequenos. Parecem ser estas as motivações da Direção do MAP para a construção do anexo. Ter uma galeria grande, neutra, passiva, flexível e silenciosa. Ou seja, subordinada. Uma reserva técnica adequada e confortável, além dos espaços administrativos apropriados para o porte do Museu.

O projeto do anexo cumpre estas demandas? Quanto à reserva técnica e aos espaços administrativos, parecem estar bem dimensionados, embora exista o receio de haver problemas de umidade, pela localização no subsolo. O espaço expositivo constitui-se de duas galerias, uma medindo 12x20m com 7,5m de pé direito e a outra medindo cerca de 20x60m com 4m de pé direito. A primeira funcionará como hall de recepção e a segunda como galeria efetivamente. Nela, as duas únicas paredes medem 20m e estão distanciadas em cerca de 60m. Na face sudoeste há um enorme pano de vidro voltado para o edifício do Cassino e a Lagoa, mas também para o sol escaldante das tardes de Belo Horizonte.

A sua volumetria é simples, esquemática, mais próxima da limpeza visual da produção recente de Niemeyer do que da complexidade e tensão presentes no edifício do Cassino. Não possui, certamente, a fineza, a elaboração e a qualidade ambiental e de materiais do primeiro Niemeyer. Tenta ser pano de fundo: por dentro, para as obras de arte, e, por fora, para o edifício do Cassino.

Como pano de fundo interior (cubo branco), o projeto falha: o baixo pé direito da galeria, que dificulta a exposição de grandes objetos e de instalações; a ausência de paredes, que demandará a montagem de painéis para cada nova exposição; e o enorme pano de vidro, que deverá ser coberto com painéis, para se expor as obras e evitar a insolação direta, farão com que o prédio tenha de ser novamente adaptado para a função à qual se destina.

Fazer exposições no MAP continuará uma tarefa difícil. No entanto, se no edifício do Cassino esta dificuldade gerou proposições artísticas e expositivas ricas, no anexo o mesmo não deve ocorrer. Pois, a suposta neutralidade do edifício (sua simplicidade formal, espacial e de materiais) não instiga diálogos ricos e proposições radicais como no Cassino. Entre o cubo branco e o Cassino, o Anexo fica no meio do caminho: não possui nem a praticidade do primeiro nem a riqueza arquitetônica do segundo.

David Sperling chamou o Guggenheim de Bilbao de ‘cubo branco decorado’. Por dentro, o cubo branco ideal, isolando a obra de arte do mundo; por fora, uma decoração autônoma, independente do interior. Este projeto do anexo do MAP possui características inversas. Por fora, passa a imagem de cubo branco, e, por dentro, precisa ser adaptado para funcionar como tal. Eis o que ele é: um edifício fantasiado de cubo branco. Um Íncubo Branco: um pesadelo tardomodernista que assombra os sonhos da arquitetura brasileira e atrasa o despertar de uma proposta contemporânea.

O autor do projeto é Oscar Niemeyer. Aos 100 anos, encomendam-lhe projetos pelos quatro cantos do País. Há uma paixão por Niemeyer entre os governantes, querendo, talvez, aproximarem-se a Juscelino Kubitschek – este sim, visionário, ao lançar o jovem Niemeyer no projeto da Pampulha. E Belo Horizonte perde a chance de ter uma grande obra de arquitetura contemporânea. Como se Le Corbusier fosse vivo em 1970 e o Centro Pompidou lhe fosse encomendado, ao invés de ter sido feito o enorme concurso internacional que premiou e construiu o projeto inovador de Renzo Piano e Richard Rogers. Paris teria perdido um edifício que foi marco de uma época e que impulsionou uma nova abordagem para a arquitetura.

Por aqui, os concursos têm menos lugar que a grife Niemeyer. Mais de 60 anos depois da construção do Cassino, lhe é encomendado este anexo. O arquiteto se coloca na delicada situação de dialogar com sua própria obra – e, talvez, com sua obra prima, trabalhada criativamente em cada detalhe por aquele jovem arquiteto de outrora. Diálogo mais autista e tarefa mais ingrata não poderiam haver.

notas

1
Artigo originalmente publicado na revista espanhola A-desk (www.a-desk.org).

sobre o autor

Roberto R. Andrés é arquiteto e mestre em teoria da arquitetura pela UFMG.

Roberto R. Andrés, Belo Horizonte MG Brasil

Projeto do anexo do Museu de Arte da Pampulha, por Oscar Niemeyer
Foto Euler Andrés

Maquete do edifício do MAP com o anexo ao fundo
Foto Euler Andrés

Chove Chuva, Rivane Neuenschwander, 2002. Instalação Site Specific no MAP [Foto Acervo do Map]

Tonight, Valeska Soares, 2002. Instalação Site Specific com projeção em DVD [Foto Acervo do Map]

Ordem, Réplica, Acaso, Damián Ortega, 2004. Instalação Site Specific no MAP [Foto Acervo do Map]

 

comments

024.05
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

024

024.01

Metodologias integradas

O croqui e a materialização da idéia

Elaine Cavalcante Gomes, Giovanna Ortiz de Oliveira and Regina Lemgruber Julianele

024.02

XXIII Congresso UIA

Algumas notas sobre o evento Turim 2008

Haifa Yazigi Sabbag

024.03

Athos Bulcão

Maria Elisa Costa

024.04

Sejima + Nishizawa / SANAA

Flexibilidade, transparência, amplitude

Yuko Hasegawa

024.06

Todos somos responsáveis pelos governos

Antônio Agenor Barbosa and Gisela Verri de Santana

024.07

VI Bienal Ibero-americana de arquitetura e urbanismo

Antonio Toca Fernández

024.08

Biblioteca Prestes Maia

Tempos urbanos diversos

Ana Luiza Martins

024.09

Joaquim Guedes

Quando cessa o pensamento

Miguel Pereira

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided