Nos dias 12 e 13 de setembro desenvolveu-se no Fórum de Ciência e Técnica da UFRJ no Rio de Janeiro, o 1º Encontro Regional do Docomomo-Rio, dedicado ao tema “Panoramas do Moderno Fluminense: Presente e Futuro”. Curiosa e inexplicavelmente, o núcleo regional do Rio de Janeiro foi o último a ser criado no sistema brasileiro do Docomomo, no ano 2007, sediado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. O fato de não ter um elemento aglutinador dos professores, arquitetos e pesquisadores neste Estado, limitou o diálogo e o intercâmbio entre as iniciativas voltadas para a documentação e conservação do patrimônio moderno. Daí a importância deste primeiro encontro que permitiu às instituições públicas e aos centros universitários de pesquisa, conhecer e debater o trabalho desenvolvido neste tema. A iniciativa foi assumida com entusiasmo pelos quase cem assistentes, não somente do Estado, mas provenientes também de outras regiões do país.
No primeiro dia, depois da palestra de abertura ministrada por um dos mestres do Movimento Moderno carioca, Marcos Konder, se desenvolveu o seminário em duas sessões; uma dedicada às instituições nacionais e regionais – Iphan, Inepac, Sedrepahc, Prefeitura de Niterói e Prefeitura de Nova Iguaçu –, que mostraram os trabalhos de preservação dos edifícios que constituem o patrimônio moderno fluminense. O IPHAN, além da lista dos edifícios mostrados, está promovendo a divulgação dos principais protagonistas do Movimento Moderno carioca, e apresentou dois DVD, um sobre a palestra de Oscar Niemeyer no XVII Congresso Brasileiro de Arquitetos de 2003; e o documentário de Ana Maria Magalhães sobre Affonso Eduardo Reidy. E também, Carlos Fernando de Andrade, Superintendente Regional do Iphan, informou que vai ser iniciado o processo para a apresentação do MES na candidatura de Patrimônio Cultural da Humanidade na Unesco. Foi interessante a exposição de Paulo Vidal, Secretário do Patrimônio da Prefeitura de Nova Iguaçu, quem mostrou o trabalho de conservação, não somente dos prédios isolados, mas das estruturas urbanas e territoriais, numa articulação entre o resgate do passado e a perspectiva futura desta região fluminense.
Na segunda sessão, compareceram os pesquisadores dos centros universitários locais: entre eles, mostraram os trabalhos realizados, tanto na pós-graduação quanto com os alunos da graduação, Ana Luiza Nobre da PUC-Rio; Luiz Felipe Machado da Estácio de Sá, e Marlice Azevedo da Universidade Federal Fluminense. Particularmente interessante foi à apresentação do trabalho de conservação dos documentos e objetos contidos no Museu Dom João VI na EBA da UFRJ. E tiveram um alto nível acadêmico os posters apresentados por alunos e professores, não somente do Rio de Janeiro, mas também de trabalhos desenvolvidos nas universidades paulistas. Os melhores receberam os prêmios outorgados pelo Seminário. Alem dos convidados especiais, como o Diretor de Vitruvius, Abílio Guerra e o Coordenador do Docomomo Brasil, Carlos Eduardo Comas, participou no evento o filho do arquiteto Attilio Correa Lima e a filha de Lúcio Costa, Maria Elisa Costa, quem falou da história do Park Hotel em Nova Friburgo.
Nas conclusões do evento, Maria Lobo e Roberto Segre, explicaram o programa do Seminário Nacional do Docomomo, que acontecera nos dias 1 e 4 de setembro de 2009 no Rio de Janeiro. Este vai ser dedicado a lembrança do Congresso de Críticos de Arte que aconteceu no Brasil em 1959, realizado sob iniciativa de Juscelino Kubitschek e organizado por Mario Pedrosa, com a presença dos mais famosos arquitetos e críticos de arte internacionais, que permitirá debater sobre o relacionamento entre a cidade, a arquitetura, as artes plásticas e a teoria.
No sábado, se organizou uma viagem à Nova Friburgo para realizar uma visita ao Park Hotel de Lucio Costa, obra paradigmática do Mestre, e desde alguns anos abandonado e em péssimo estado de conservação. Além da visita ao prédio se organizou um debate sobre as perspectivas futuras da sua possível utilização que permitam a sua manutenção uma vez que seja restaurado; e contou com a presença de Maria Elisa Costa e Maria Helena Flores Guinle, herdeira da família que solicitou nos anos quarenta o projeto ao Mestre. Foi emocionante verificar a finura do detalhamento e o tratamento dos materiais locais – madeira e pedra –, integrados em uma expressão formal e espacial totalmente contemporânea. Temos a esperança que as instituições nacionais e locais se sensibilizem com a necessidade de preservar esta importante obra que representa a integração entre os códigos regionalistas e a linguagem cosmopolita do Movimento Moderno brasileiro.
sobre o autor
Roberto Segre, arquiteto e crítico de arquitetura, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Roberto Segre, Rio de Janeiro RJ Brasil