De 25 a 28 de Agosto de 2008 foi realizado o II Seminário DOCOMOMO Sul “Concreto - Plasticidade e Industrialização na Arquitetura do Cone Sul Americano”, organizado pelo PROPAR-UFRGS e UniRitter, com o apoio da CAPES, Fundação Iberê Camargo e Vitruvius. A conjunção de esforços institucionais vem de encontro à motivação convergente de professores, pesquisadores, estudantes e arquitetos, de diversas filiações e gerações na Documentação e Conservação do Movimento Moderno. Ânimo redobrado pelas análises históricas, a partir dos anos 80, que paradoxalmente, mas não surpreendentemente, revalidaram a arquitetura moderna, tida como ruptura, em movimento histórico, o principal do século XX.
Os três últimos encontros, realizados em Porto Alegre, devidamente tematizados por Carlos E. D. Comas (PROPAR-UFRGS), coordenador dos eventos, favoreceram debates relevantes com o concreto, neste último, oportunizando abordagens de viés tectônico, emergentes na arquitetura contemporânea, excessivamente imagética. Das conferências, cabe destacar a sessão de abertura, franqueada ao público, no auditório da FAU UniRitter, “Arquitetos e engenheiros, entre guerras”, Margareth Pereira (UFRJ) e Hugo Segawa (USP), que ofereceram um oportuno panorama histórico no uso do concreto desde suas raízes ancestrais, e os depoimentos dos veteranos Emil Bered, Moacyr Moojen Marques e Cláudio L. G. Araújo, representantes da arquitetura moderna brasileira no sul.
A sessão de conferências, na FAUFRGS, “Plasticidade e industrialização – Argentina, Chile, Brasil, 1945-75”, elencou Paulo Bruna (USP) com o retrospecto analítico da experiência brasileira na industrialização da construção e o uso de pré-fabricados, sinalizando uma discussão ainda em maturação. Na sessão realizada na Fundação Iberê Camargo, inaugurando o auditório para eventos de arquitetura, José L. Canal, narrando a história da construção da Fundação, com apresentação e conteúdos irretocáveis, fez jus ao significado do edifício para a arquitetura contemporânea, e em especial, Porto Alegre. A culminância das apresentações teve na participação de Angelo Bucci (USP), o vigor da arquitetura paulista contemporânea, concorrente ao espírito de revalidação do DOCOMOMO e da técnica em questão. Dentre comunicações realizadas em sessões simultâneas, as discussões sobre a natureza patrimonial e critérios de preservação da Arquitetura Moderna, também evocados pela apresentação de Eline Caixeta (UCG) e José A. Frota (UFG), tratando de obras de Paulo Mendes da Rocha em Goiás, evidenciaram o teor das teses dominantes, de relativização defendida por Jorge Liernur (Torcuato Di Tella) ou conservadorismo, da maioria.
As comunicações de Cecília Rodrigues dos Santos (Mackenzie), “Opus caemanticium” e Ana Vaz Milheiro (UALisboa) “Experiências em concreto armado na África Portuguesa: Influências do Brasil”, corroboraram a dimensão poética e sensível, na primeira, o bom humor na segunda, por vezes ausentes no meio científico, igualmente necessários no resgate do espírito moderno, que o DOCOMOMO, ambiente intelectual privilegiado, busca alcançar.
Atividade de encerramento, o MOMOTUR, organizado por Anna Paula Canez (UniRitter) e guiado por Moojen, viabilizou acesso à Refinaria Alberto Pasqualini (1962-68) de Carlos M. Fayet, Claudio L.G. Araújo, Moacyr M. Marques e Miguel Pereira, que segundo Ruth Verde Zein (Mackenzie) “é sem a menor dúvida um patrimônio dos mais relevantes da arquitetura moderna gaúcha e brasileira, pela qualidade das propostas, seu grande valor inovativo, para a época, a unidade do conjunto, mantida mesmo quando se tratava de uma grande equipe de autores e de obras com os mais diversos destinos” e Ana Vaz Milheiro (UALisboa) “"penso que é invulgar, mesmo no contexto internacional, ter um complexo industrial moderno com esta qualidade patrimonial e escala de construção, que se tenha mantido de forma tão integra até aos nossos dias. Tratando-se de um conjunto histórico reflecte preocupações paisagisticas extremamente actuais, provando que qualidades formais, funcionais e ambientais podem coexistir no mesmo projecto".
Finalmente, como em outras oportunidades, o evento evidenciou, que em termos de patrimônio brasileiro de Arquitetura Moderna, tanto há para se fazer, quanto já foi feito.
sobre o autor
Sérgio M. Marques é arquiteto, coordenador do Núcleo DOCOMOMO Sul.
Sergio Moacyr Marques, Porto Alegre RS Brasil