Brasil e Moçambique são países que compartilham o patrimônio cultural definido pela língua portuguesa e a sua forma singular de ver e dar sentido ao mundo. A vontade recíproca de aproximação entre estes dois distantes países parte do reconhecimento de um conjunto de afinidades no universo das culturas material e imaterial – sobretudo, para a presente exposição, o patrimônio urbanístico e arquitetônico – e nas demandas sociais, onde a necessidade de melhoria das condições do habitat humano se faz urgente.
Motivadas pelo desejo de um conhecimento mútuo e pelo sentimento de que este conhecimento enseja ganhos expressivos para ambas, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e a Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, Moçambique, estabeleceram um convênio de cooperação acadêmica visando:
- ao fomento de projetos de investigação científica no âmbito da urbanização do território e do desenvolvimento das nossas cidades;
- ao desenvolvimento de projetos de arquitetura de interesse social com compromissos com as nossas tradições culturais e distintas realidades sócio-econômicas, tecnológicas e produtivas;
- à promoção de trocas de experiências pedagógicas para a melhoria dos processos de ensino-aprendizagem e enriquecimento cultural na formação dos nossos alunos e futuros profissionais;
- à difusão recíproca dos patrimônios cultural, arquitetônico e urbanístico, com especial atenção às obras dos principais autores neste campo do conhecimento em ambos os países.
A presente exposição responde ao objetivo de difusão cultural e resulta de um trabalho colaborativo entre a FAU USP e o Museu da Casa Brasileira, ampliando, de forma substancial, o alcance da divulgação pretendida, seja sobre os inventários que vem sendo realizados, pelo Centro de Estudos e Desenvolvimento do Habitat da Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico da Universidade Eduardo Mondlane, sobre o patrimônio histórico, arquitetônico, urbanístico e paisagístico de Moçambique, seja sobre a admirável obra de José Forjaz, um dos principais nomes da história recente da arquitetura do país.
A exposição da obra do arquiteto José Forjaz permite conhecer o melhor da arquitetura produzida na África nas últimas décadas. Nascido em Portugal (1936) e radicado em Moçambique desde 1974, este grande arquiteto, urbanista e designer de móveis integrou à sua atividade profissional, as causas humanitárias que a tais ofícios deveriam sempre ser exigidos: compromisso ético, engajamento sócio-político, pesquisa tecnológica sensível às dimensões econômicas e ambientais e profundo reconhecimento do sentido cultural do habitat africano. A mostra, de caráter retrospectivo e panorâmico, apresenta obras do início dos anos 1960 até os dias atuais, demonstrando intenso trabalho de lapidação projetual e elaboração de inovações técnicas, plásticas e espaciais dentro dos estreitos recursos materiais disponíveis – fato que concorre para a coerência que torna identificável a sua linguagem.
O escritório José Forjaz Arquitectos destaca-se pela ampla atuação nos campos do design, da arquitetura, do urbanismo e do paisagismo, integrando-os com notável organicidade e por uma constante preocupação com a degradação do ambiente urbano. Forjaz é um intelectual atuante e crítico implacável da arquitetura afeita aos deslumbres do consumismo e da ostentação irresponsável de toda sorte de desperdício , da fácil aceitação da imagem globalizada dos empreendimentos imobiliários, do descompromisso social, do descuido com o meio ambiente e com os escassos recursos naturais. Envolveu-se com a formação do profissional arquiteto ao coordenar a implantação e dirigir a primeira escola pública de arquitetura e urbanismo de Moçambique; publicou livros e textos memoráveis, defendendo seus pontos de vista, os compromissos éticos e políticos da arquitetura com o seu lugar no mundo.
Esta exposição oferece uma rara possibilidade de (re)conhecermos as nossas afinidades culturais, em especial, o legado do movimento moderno, em países tropicais, diante das vastas e urgentes demandas sociais e ambientais. Serve naquilo que ela expressa como crítica a um certo deslumbramento difuso na profissão de arquitetura e urbanismo em tempos de crescimento econômico a todo custo. Serve como alerta e como testemunho de uma época de grandes alterações históricas, mas de recorrentes demandas não atendidas. Serve como lição de uma vida dedicada a construir a habitabilidade desejada.
ficha técnica
Exposição "José Forjaz – arquitetura de Moçambique"
De 29 de março a 5 de junho de 2011, no Museu da Casa Brasileira
Promoção
Universidade de São Paulo
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
FAU USP
Concepção e organização geral da exposição
Prof. Dr. Luís Antônio Jorge (FAU USP)
Exposição sobre Patrimônio Histórico de Moçambique:
Centro de Estudos e Desenvolvimento do Habitat (FAPF UEM)
Prof. Dr. Luís E. S. Lage
Prof. Dr. Carlos Trindade
Prof. Dr. Julio Carrilho
Arq. Ana Anjo
Arq. Carmela Agostino
Exposição José Forjaz – Arquitetura de Moçambique
José Forjaz – Arquitectos
O Convênio FAU/USP – FAPF/UEM foi uma iniciativa do Prof. Dr. Sylvio B. Sawaya
sobre o autor
Luís Antônio Jorge é arquiteto e urbanista pela FAU-PUC-Campinas (1985), mestre (1993) e doutor (1999) pela FAU-USP, onde é professor do Departamento de Projeto e coordenador da área “Projeto, espaço e cultura” do programa de pós-graduação. Foi professor-convidado da UAM do México. Recebeu seis prêmios do IAB por suas publicações e projetos de arquitetura e urbanismo.