Na noite do dia 29 de março de 2011, assisti com grande satisfação a premiação da Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA, ocorrida no SESC Pinheiros. É a primeira vez em sua história de 55 anos que a prestigiosa entidade inclui a arquitetura como uma das artes a ser premiada. Criada em 1956 com o nome Associação Paulista de Críticos de Teatro, a APCA passou a ter outra amplitude após reestruturação ocorrida em 1972, quando adotou o nome atual e incorporou outros setores das artes.
Até 2010, a instituição – atualmente presidida por Aguinaldo Ribeiro da Cunha – premiava dez categorias artísticas: artes visuais, cinema, dança, música erudita, música popular, literatura, rádio, teatro, teatro infantil e televisão. Em 2009, por iniciativa do IAB-SP, um abaixo assinado com 450 assinaturas propôs a inclusão da arquitetura entre as artes premiadas. Em 2010, um parecer circunstanciado elaborado por Candido Malta Campos foi encaminhado por mim à diretoria da APCA. Sabatinada em reunião, expliquei a importância da valorização da arquitetura para a produção de cidades bonitas e de qualidade. Convencidos da importância artística e função social desta área do conhecimento, a diretoria aprovou a inclusão da arquitetura na premiação de 2011, lembrando da necessidade dos críticos também passarem por uma aprovação, cujos critérios exigiam não só produção crítica, mas também inserção midiática.
Abílio Guerra, Fernando Serapião,Guilherme Wisnik e Renato Anelli foram os primeiros críticos aceitos pela APCA e coube a eles a tarefa de estabelecer os critérios de seleção de três categorias provisórias – somente a partir do próximo ano teremos as sete categorias fixas, que estão no momento em discussão – e a escolha das melhores obras/projetos de 2010 (1).
A emoção foi grande ao ver nossos colegas arquitetos recebendo seus prêmios no palco, sem a necessidade de inscrição ou envio das tradicionais pranchas em tamanho padronizado exigidas pelos concursos, e extravasando para além do estreito círculo da categoria os temas do exercício da profissão, que são vitais para a coletividade, como é o caso dos projetos premiados. Também foi bom ver os arquitetos dividindo o palco com artistas e intelectuais consagrados, como Antunes Filho, Wagner Moura, Arnaldo Antunes, Martinho da Vila, Irene Ravache, Juca Kfouri, Alfredo Bosi, Alexandre Wollner e outras estrelas populares.
No recebimento do troféu desenhado pelo artista recifense Francisco Brennand, o arquiteto Mário Biselli, um dos autores do CEU Guarulhos Pimentas, agradeceu à APCA a inclusão da arquitetura na premiação; Álvaro Puntoni, co-autor da nova sede do Sebrae em Brasília, elogiou o IAB-DF, organizadora do concurso público, e a instituição promotora, que já ocupou o edifício inaugurado no ano passado; Lucas Fehr e Mario Figueroa, dois dos autores que ganharam o concurso para realização do Museu da Memória e dos Direitos Humanos em Santiago do Chile, lembraram dos direitos humanos valorizados pela obra premiada, proposta e construída pela ex-presidente chilena Michelle Bachelet.
Popularizar nosso trabalho é bom, vê-lo discutido pelo cidadão comum também. Alem da Bienal de Arquitetura – que publiciza a produção nacional e internacional e, portanto, traz o debate para o público não profissional para questões de construção da cidade e da cidadania –, considero muito importante o prêmio da APCA para a arquitetura, pois a insere em um âmbito mais amplo, resgatando e ampliando um debate perdido com as demais áreas artísticas, além de literalmente botar o nosso bloco na rua!
nota
1
As três categorias provisórias e as obras e arquitetos premiados são os seguintes: Obra de Arquitetura em São Paulo: CEU Guarulhos Pimentas, Guarulhos/SP. Arquitetos: Mario Biselli e Arthur Katchborian; Obra de Arquitetura no Brasil: Sede do Sebrae Brasília, Brasília/ DF. Arquitetos: Álvaro Puntoni, Luciano Margotto Soares, Jonathan Davies e João Sodré; Obra de Arquitetura no Exterior: Museu da Memória e dos Direitos Humanos, Santiago do Chile, Chile. Arquitetos: Mario Figueroa, Lucas Fehr e Carlos Dias.
sobre a autora
Nadia Somekh é professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie, representante do Brasil na UIA, Conselheira do Conpresp e IAB COSU. Foi presidente da Emurb e diretora da FAU Mackenzie.