Dizem que Louis Kahn foi o primeiro a explodir o núcleo de circulação + áreas molhadas e manda-lo em partes para a periferia. Esta estratégia permite uma planta perfeita e totalmente livre para distribuição de espaços de trabalho, obtendo como efeito secundário um amplo horizonte de possibilidades para a composição volumétrica dos edifícios.
De fato Kahn fez exatamente isto no seu projeto para o Richards Medical Research Building, localizado no campus da Universidade da Pennsilvania em 1957.
Eu discutia isto certa vez, defendendo que Carlos Bratke (1) é quem havia produzido esta inovação em seus edifícios da área da Avenida Luis Carlos Berrini. Ainda acho que meu ponto de vista é válido, mesmo se não completamente comprobatório.
Em primeiro lugar, o mencionado projeto de Louis Kahn possui apenas seis pavimentos. Não é um arranha-céu, portanto não cabe a comparação.
Em segundo lugar, e principalmente, porque Carlos Bratke nunca foi influenciado pela obra de Kahn, ao contrário, eu o vi negar categoricamente qualquer interesse em sua obra antes de meados dos anos 1980, quando suas maravilhosas obras da região da Berrini já estavam consolidadas.
No contexto da mesma resposta negativa, Bratke foi claro em admitir uma influência de origem muito diversa em seu trabalho, a obra do arquiteto americano Paul Rudolph – coisa que qualquer observador sem muita perspicácia já sabia de velho.
Polêmica à parte, o que me parece indiscutível é que ninguém explorou esta estratégia de maneira sistêmica com tanta profundidade e até as últimas consequências como Carlos Bratke. É a parte mais marcante de sua obra, certamente, e fez história na arquitetura.
Quando se fala de Carlos Bratke, é frequente ouvir uma certa menção de que seu pai foi um arquiteto mais importante do que ele. Não concordo e aqui apresentei apenas um dos meus argumentos em contrário, porque sua obra é variada e muito criativa. A infinidade de publicações do seu trabalho torna supérflua qualquer menção à qualidade dos seus desenhos e seus métodos. O tempo dirá.
Fui aluno do Carlos no início dos anos 1980, um momento particularmente glorioso de sua vida e carreira. Aquilo foi um grande privilégio. Obrigado, Mestre.
nota
1
Carlos Bratke, nascido em São Paulo no dia 20 de outubro de 1942, arquiteto (FAU Mackenzie, 1967), ex-presidente do IAB/SP e da Fundação Bienal de São Paulo, faleceu no dia 9 de janeiro de 2017.
sobre o autor
Mario Biselli é arquiteto formado pela FAU Mackenzie, mestre e doutor em Arquitetura e Urbanismos pela mesmo instituição. É sócio do escritório Biselli & Katchborian arquitetura e professor do Departamento de Projeto da FAU Mackenzie.