Não viemos nos despedir.
Não relataremos a passagem. A isto se ocuparam os outros veículos de comunicação. Aqui no portal Vitruvius estamos entre arquitetos urbanistas e simpatizantes. Aqui trataremos do legado deste importante colega de ofício (1).
Falemos da vida de um sábio arquiteto urbanista Haruyoshi Ono (2), que não se atreveria a cometer o que aqui corremos o risco de fazer: falar de seu trabalho com a arrogância. Humildade e sabedoria é parte de seu caráter e personalidade. Tratar com simplicidade da genialidade de projetar a paisagem. Saber que o oficio não é mais nada que um ofício. Mas, simultaneamente, ter a consciência de seu potencial em transformar a vida.
Saber preservar a genialidade do traço e ter a criativa capacidade de contribuir na lenta construção de uma linguagem. Tratar a genialidade no seu cotidiano como se fosse ordinária. A necessidade autoral compartilhada que reinventa, com o mesmo traçado, por conhecer sua gramática, seus códigos, seus princípios. Uma invejável delicadeza que só sobrevive se acompanhada por uma sabedoria, talento e originalidade.
Descobrir a que se dedicar na vida em um passeio pelo Rio de Janeiro. Dia corriqueiro voltando da faculdade. Emocionar-se com a transformação da paisagem de um certo aterro e ir em busca de sua profissão. Aprender um ofício e constituir família. Passar valores que acumulou na convivência de quem era grande como ele. Aberto ao pouco diálogo necessário para fazer florir um novo canto. As sementes aqui já foram jogadas. A sua paz deixa rastro e há quem consiga acompanhá-lo. O trabalho não terminou. Segue em frente junto à outra geração. É assim que se constrói uma tradição. No silêncio. No dia a dia de um ofício de arquiteto urbanista que trabalha com a paisagem. No desejo de intervir e desenhar jardins. Jardins que falam na língua que Haru ajudou a criar, transmitir e preservar. Vida longa à linguagem. Vida longa ao legado de um desenho.
notas
1
O arquiteto paisagista Haruyoshi Ono faleceu aos 73 anos no dia 22 de janeiro de 2017 na cidade do Rio de Janeiro.
2
“Roberto Burle Marx, ao longo de sua carreira, estabeleceu uma relação de parceria muito forte com seu discípulo Haruyoshi Ono. A partir da segunda metade dos anos 60, este acabou se tornando um herdeiro artístico natural e vem, desde então, se dedicando com competência e afinco à tarefa de preservar a memória do mestre e de levar adiante projetos de envergadura e de inovação. Haruyoshi entrou para o escritório em 1965 na condição de estagiário e cresceu de tal forma dentro da empresa que passou de aprendiz a sócio em 1968, quando se formou em Arquitetura na antiga Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil”. Perfil de Haruyoshi Ono. Website de Burle Marx – escritório de paisagismo <http://burlemarx.com.br/perfil/haruyoshi-ono>.
sobre o autor
Jonathas Magalhães é arquiteto, professor da FAU PUC-Campinas e sócio-diretor na empresa MPS associados.