Caras colegas, caros colegas, autoridades presentes, amigas, amigos, familiares e demais participantes desta cerimônia,
Vocês podem imaginar o quão emocionada eu me sinto pela homenagem que foi a mim conferida.
Eu me formei pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 1955, há quase 64 anos atrás.
Fui a primeira mulher a integrar a diretoria de nossa importante entidade, o IAB, ainda na década de 1950.
Meu percurso de atuação profissional, como quase todos sabem, foi pela consolidação de um campo para a arquitetura paisagística e pela afirmação de um espaço para os arquitetos paisagistas.
Ao longo de todo esse período, minha trajetória foi no sentido de desenhar paisagens e moldar uma profissão. Assim, dediquei uma boa parte da minha energia para a construção da nossa Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas, a Abap.
A Abap se caracteriza como uma entidade que sempre colaborou, desde o início, para a consolidação do campo da arquitetura. Tanto que ela esteve desde o início junto com o IAB e demais entidades na luta pela constituição de um órgão próprio para os profissionais de arquitetura e urbanismo, que culminou no período mais recente na criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo, o CAU.
Para minha grande felicidade, tive a oportunidade de participar da elaboração de projetos por todas as regiões do país, oferecendo minha contribuição para a melhoria da qualidade de vida da população.
Como é da natureza da própria arquitetura paisagística, fui responsável por projetos de diferentes escalas e significados. Desde a introdução de elementos paisagísticos no âmbito da edificação até o planejamento paisagístico de todas as escalas – regional, metropolitano e municipal.
Nesse processo, a luta pela realização de concursos públicos para projetos de importância estratégica sempre fez parte de nossa militância. Transparência, participação e democracia são ingredientes fundamentais para que a qualidade da intervenção no espaço seja voltada ao atendimento das necessidades da maioria.
Aqui mesmo em São Paulo, temos hoje o exemplo de dois casos em que estou diretamente envolvida. Refiro-me aos projetos da avenida Paulista e do Vale do Anhangabaú. O abandono dos projetos originalmente executados e a tentativa de passar ao largo dos mesmos para introduzir inovações sem uma discussão com os autores nem com os atores da cidade estão em flagrante contradição com as práticas da gestão democrática do espaço público.
Receber o Colar de Ouro do IAB hoje me faz lembrar da criação da comenda, há mais de meio século, em 1967. Com muito orgulho, então, passo a integrar a lista de inúmeros arquitetos e personalidades que ofereceram sua colaboração para a melhoria da arquitetura e do urbanismo em nosso País. Dentre tantos, faço questão de lembrar aqui figuras como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Roberto Burle Marx e Vilanova Artigas.
Mas não poderia deixar de mencionar um aspecto que também é relevante. Depois de mais de 50 anos de homenagens, apenas esse ano uma mulher recebe o Colar de Ouro. Tenho a certeza que tal fato não deriva da ausência de profissionais mulheres com qualidade para receber o prêmio antes de mim. Sou muito grata e espero que essa decisão possa incluir a questão de gênero também dentre os demais critérios de atribuição do prêmio daqui em diante.
Muito obrigado ao IAB e todas as pessoas que colaboraram para essa premiação acontecesse hoje com todos nós presentes.
nota
NE – A transcrição do pronunciamento foi inicialmente reproduzida no site oficial do Conselho de Arquitetos e Urbanistas do Brasil – CAU BR, em 15 set. 2019.
sobre a autora
Arquiteta e urbanista pela FAU USP, Rosa Grena Kliass foi a primeira arquiteta a integrar a diretoria do IAB. Além de fundadora e primeira presidente da Abap, é ex-diretora da Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas. Reconhecida internacionalmente, tem projetos importantes espalhados por todas as regiões do país.