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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
José Lira fala sobre do enigmático museu de Bacurau: cidade perdida em qualquer parte, será de sua memória profunda, gravada no couro da gente na base de sofrimento, que ela se fez, ou se fará. Ainda assim, o Brasil não conhece o Brasil.

english
José Lira talks about the enigmatic museum of Bacurau: a city lost anywhere, it will be from his deep memory, engraved in the leather of the people on the basis of suffering, that it made herself, or will make. Still, Brazil does not know Brazil.

español
José Lira habla sobre el enigmático museo de Bacurau: una ciudad perdida en cualquier lugar, será de su memoria profunda, grabada en el cuero de la gente sobre la base del sufrimiento, que ella misma hizo, o será. Aún así, Brasil no conoce a Brasil.

how to quote

LIRA, José. O museu de Bacurau, de Frexeiras, do Nordeste e de outro mundo. Drops, São Paulo, ano 20, n. 145.02, Vitruvius, out. 2019 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/20.145/7493>.



O Brasil definitivamente não conhece o Brasil.

Todo mundo espantado que em Bacurau tem um museu. Não se fala noutra coisa: que é a chave do filme (1), sua metáfora secreta, o elemento desconcertante, seu enigma.

Ontem mesmo li um belo artigo no El País (2) a respeito, que nele reincidia. Fico esperando que os museólogos, ou antes, os benjaminianos se pronunciem sobre o tema. Mas adianto que no Nordeste sabemos que o povo devoto, a gente simples, sem ter a quem apelar, costuma amontoar suas ofertas mais preciosas, ainda que, para muitos, triviais, seus suportes materiais do sagrado, artefatos cotidianos e memoriais e imagens de desejos e graças, em coleções verdadeiramente borgeanas, a que dão o nome lírico-católico-pagão de Museu.

Só isso: “museu”. Tá pregado numa tabuleta no portão de entrada. Não tem muito a ver com a definição do ICOM, mas evoca certos acervos de relíquias e ex-votos de catedrais e mosteiros europeus, principalmente ibéricos, só que bem mais copioso e variado que naquelas terras de reis mais católicos que os papas. Vai ver!

Esse acima é o de Santa Quitéria de Frexeiras, no Agreste meridional de Pernambuco, quando o visitei com Dona Mercês Tavares Correia – “vovó Mercês” – em 1993. Ela gostava de viajar como ninguém. Dessa vez achou tudo um pouco “lúgubre” demais – achei arcaica a expressão que ela usou –, mas sorriu pra mim nessa foto, em meio à sua sementeira, ali perto.

Como Frexeiras, Bacurau não está no GPS, tá num mundo futuro (ou ancestral) qualquer, perdida em qualquer parte e não necessariamente no nordeste brasileiro. Mas é dessa memória profunda, densa, pesada, gravada no couro da gente na base de sofrimento, abandono, medo, esperança, benção e redenção que ele – o museu, a cidade imaginária, o filme – se fez, ou se fará.

notas

1
Bacurau, ficção, Brasil/França, 2019, 2h12min. Direção e roteiro de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Com Sônia Braga, Barbara Colen, Sônia Braga, Udo Kier.

2
NUNES, Rodrigo. ‘Bacurau’ não é sobre o presente, mas o futuro. El Pais, Madri, 6 out. 2019 <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/05/cultura/1570306373_739263.html>.

sobre o autor

José Tavares Correia de Lira é professor titular do departamento de história da arquitetura e estética do projeto da FAU USP e ex-diretor do Centro de Preservação Cultural da USP. É autor de Warchavchik: fraturas da vanguarda (Cosac Naify, 2011) e O visível e o invisível na arquitetura brasileira (DBA, 2017), e organizador, entre outros, de Caminhos da arquitetura, de Vilanova Artigas (Cosac Naify, 2004, com Rosa Artigas).

Museu de Santa Quitéria de Frexeiras, Estado de Pernambuco, 1993
Foto José Lira

Museu de Santa Quitéria de Frexeiras, Estado de Pernambuco, 1993
Foto José Lira

Dona Mercês Tavares Correia – “vovó Mercês” – de volta a Garanhuns após passeio em Frexeiras, 1993
Foto José Lira

 

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145.02 cultura
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