Uma mulher por quem tenho admiração na história do design é Grette (Margarethe) Schütte-Lihotzky. Ela passou à história por projeto de cozinha, mas fez muito mais que isso.
Primeira mulher a se formar em arquitetura na Áustria, desenhou cozinha para o programa de habitação da Viena vermelha e foi convidada por Ernest May para projetar a cozinha do conjunto habitacional de Frankfurt. Tudo nos anos 1920.
A recepção das cozinhas foi bem desigual. Arquitetos amaram. E muitas das donas dos apartamentos detestaram. A cozinha foi projetada como laboratório de one woman show, tirando a mulheres da convivência e das possibilidades de olhar as crianças, por exemplo, enquanto cozinhavam ou passavam roupa.
O que acho extraordinário e que quase ninguém conta. Anos depois, a arquiteta foi chamada para projetar cozinhas na Turquia e lá fez questão de ouvir as mulheres e seu desenho nada tem a ver com o de Frankfurt. Nesse, as mulheres foram ouvidas e suas sugestões incorporadas. Não é lindo?
Aqui também se pode fazer a discussão de como a história do consumo é fundamental para uma nova historiografia do design.
Grette Schütte-Lihotzky realizou muitos outros projetos de escolas, centros comunitários etc. A historiografia oficial e masculina relegou-lhe esse lugar da autora da cozinha. Mas as pesquisadoras da história da tecnologia e do consumo dos últimos 20 anos fizeram por tirá-la desse limbo.
No lugar da cozinha de Frankfurt, tão celebrada, decidi inserir estas imagens de alojamento para mulheres solteiras, projetado por Grette S-L, um pouco na linha de “one room of one's own” da Virgina Woolf.
nota
NE – terceiro texto da série “Terça-feira das mulheres”, publicado pela autora em sua página Facebook.
sobre a autora
Ethel Leon é jornalista, pesquisadora, professora na área de história do design brasileiro e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – Primeira Escola de Design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.