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drops ISSN 2175-6716

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Celso Sampaio homenageia Segismundo Bruno, proprietário do Café Sabelucha no Bixiga, cidade de São Paulo, ponto de encontro de militantes de esquerda.

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SAMPAIO, Celso Aparecido. Flores brancas de ipê para Segismundo Bruno. Drops, São Paulo, ano 21, n. 158.03, Vitruvius, nov. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/21.158/7940>.



Tomar um café no Sabelucha e bater um papo com Bruno sempre foi um excelente pós-almoço ou café da tarde. Foi assim que, na primavera de 2019, estivemos tantas vezes com o ele, suas histórias e suas memórias marcadas na pele e nas paredes da cafeteria, decorada com bandeiras do PT, fotos de Lula, Che Guevara... Bruno era um destes idealistas cultos, que adorava a provocação para um bom papo, que aguçasse a sua memória afetiva. Na entrada de seu estabelecimento havia uma cesta com livros, revistas, folhetos alternativos, coisas para distribuir e para vender, que revelavam sua disposição em sempre apoiar iniciativas populares e alternativas.

Sabelucha, nome da cafeteria, era o apelido de sua “nona”. Segismundo Bruno estava sempre disposto e disponível para um bom papo e um café com bolo ou canole. Servia doce acompanhado de afeto, próprio de quem recebe com carinho as visitas em sua “casa”, que se tornava nossa quando lá chegávamos.

Defendia “ideias progressistas e de esquerda”, como bem gostava de ressaltar. Lembro do dia que fui ao estabelecimento acompanhado de Afonso Castro e fiquei na mesa olhando a desenvoltura dos dois na discussão sobre os infortúnios do governo da ocasião; pareciam velhos amigos, mas na realidade acabavam de se conhecer. Bruno era assim, adotava a ideia e seu arguidor com prazer e o papo fluía com intimidade e afinidade.

Ele gostava de contar histórias e as contava com tempo para dialogar, trocar ideias e experiências com seus amigos/clientes. Às vezes, parava a história para fechar a conta de cliente que precisava sair, mas não a deixava pela metade e, logo a seguir, retomava o fio narrativo no ponto em que parou.

Em um belo dia, fui à cafeteria com Lizete Rubano. A atmosfera nos remeteu a um tempo passado, feliz, com muitas memórias do Bixiga, da rua 13 de Maio, do Cineclube do Bixiga. Tudo fluía com a cumplicidade daquelas paredes cheias de vida e histórias, um café pequeno e acolhedor. Na porta, um ipê branco florido soltava suas flores, que cobriam o chão como um tapete. Era um presente da natureza para o Sabelucha, um lugar de sonho, um portal para momentos em que realmente fomos felizes, dentro dos nossos sonhos de construir juntos uma nova realidade para o país. Ali, nossa estadia era prenhe de esperanças no futuro, acalentada pela memória do passado, adornada com carinho, atenção, afeto e doces.

Hoje o Bruno partiu. Em nossa memória ficará para sempre o gosto do café com bolo, a boa prosa, o otimismo e a fé no futuro, a consciência que a luta é dura, mas pode ser doce. Que viva Segismundo Bruno nas nossas memórias e em nossos ideais de materializar uma sociedade mais justa, mais igual.

sobre o autor

Celso Aparecido Sampaio, arquiteto e urbanista, morador do Bixiga a 20 anos, professor da FAU Mackenzie e doutorando do PPGAU da FAU Mackenzie.

 

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