A afirmação, apesar do que possam achar seguidores do genocida e fariseus em geral, não é de nenhum comunista ou maconheiro sanguessuga dos cofres públicos.
Anísio Teixeira, baiano de Caetité, nasceu em 1900 e morreu há exatos cinquenta anos. E talvez nunca tenha sido tão lembrado como agora, quando parte de sua obra está mais ameaçada do que em qualquer outro momento.
Com Darcy Ribeiro e Paulo Freire, ele forma a tríade dos grandes educadores brasileiros do século 20. Vinte anos mais velho que ambos, há quem o considere o fundador da escola pública no Brasil.
Se numa perspectiva histórica devemos compreender que a criação da escola pública é conquista de muitas lutas e de muitos agentes – e hoje motivo de enorme resistência ao desmonte –, não há dúvida de que poucos tiveram a mesma posição de liderança intelectual e política.
Foi um dos redatores do Manifesto da Escola Nova, de 1932, ainda considerado o principal documento programático da educação pública, republicana e universal no Brasil.
Neste estão firmados os princípios de que a educação deve ser pública, ou seja, dever do Estado; deve ser universal, ou seja direito de todos e deve ser republicana, ou seja igualitária e destinada a formar cidadão aptos ao pleno uso de sua consciência social.
Isso seria suficiente para colocá-lo nos livros de história, mas foi apenas o começo de suas muitas lutas e contribuições.
Fundou a Universidade do Distrito Federal em 1935. Perseguido pela ditadura do Estado Novo, voltou a sua Bahia natal e ali aplicou, pela primeira vez no Brasil, os princípios do filósofo e educador John Dewey, de quem foi aluno nos Estados Unidos, implantando o ensino integral para crianças e jovens.
O Convênio Escolar, ação combinada entre a Prefeitura de São Paulo e o governo do estado, que construiu mais de 130 equipamentos escolares entre 1948 e 1954 teve sua inspiração direta.
Foi secretário geral da Capes e inspirou a criação do Inep, que hoje leva seu nome. No final dos anos 1950 liderou com Darcy Ribeiro a luta pela criação da Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira.
Incansável, criou a Universidade de Brasília, junto com Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, e foi seu reitor até ser afastado pela ditadura militar.
Morreu em circunstâncias estranhas em 11 de março de 1971. A versão oficial é que caiu no poço do elevador do edifício em que morava o amigo que ia visitar (1). A família afirma até hoje que há testemunhas de que, nos dois dias passados entre seu desaparecimento e o encontro do corpo, ele foi preso e assassinado pela ditadura do General Garrastazu Médici.
Toda vez que vejo aquela curiosa placa que pede para verificar se o elevador está parado no andar, eu lembro de Anísio Teixeira. A partir desta semana vou passar a torcer para que Lula olhe sempre duas vezes antes de entrar no elevador.
nota
NA – Não encontrei o autor ou a data da foto. Mas meu amigo Nivaldo Andrade confirma que a estrutura ao fundo é da escola parque de Salvador.
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Na publicação original no Facebook, agora corrigida, havia uma afirmação errônea: “A versão oficial é que caiu no poço do elevador do edifício em que morava”.
sobre o autor
Carlos Ferreira Martins é Professor Titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos e sempre tomou muito cuidado com elevadores.