Enquanto Juliette e Gil do Vigor iniciam os novos patamares de suas carreiras midiáticas e Carol Conká busca os melhores consultores de imagem para tentar reverter o desastre de sua passagem pelo reality, uma nova atração diária monopoliza a atenção de uma audiência, mais limitada numericamente, mas igualmente fiel à atração.
Com direito ao mesmo esquema de emissão ao vivo para assinantes e seleção diária de melhores momentos nos programas abertos, o que gaiatos vem chamando de Big Brother Bolsonaro tem apresentado de tudo: bombados truculentos, neoconversos arrependidos, farsantes de vários matizes e uma variedade de raposas para sommelier de vacina nenhum botar defeito.
Não sabemos ainda se estamos chegando ao paredão final ou se o sucesso da temporada vai garantir uma prorrogação, mas é inegável que os roteiristas vêm se empenhando em garantir que valha a pena acompanhar.
Depois de um período que ameaçava começar a entediar, com cientistas do bem combatendo os negacionistas do mal, e uma ou outra despeitada porque não foi aceita no laboratório do castelo assombrado, os roteiristas acharam que valia a pena colocar umas pitadas daquilo que todo brasileiro adora: um pouco de denúncia e muito de corrupção.
Usando de alguma liberdade poético-histórica parece que se descobriu que a denuncia das maldades do fascismo já foi esgotada por Hollywood, mas o charme do udenismo se mantém revigorado.
E para garantir a repercussão, não apareceu um corrupto, mas logo quatro, cujas relações entre si não são nada claras, mas que tem algo em comum: a prevaricação, palavra obscura, mas que só pelo som não prenuncia nada bom, do presida.
Hora de desligar, um pouquinho só, a televisão e prestar atenção ao que podemos aprender sobre nós mesmos e sobretudo por aquelas entidades mágicas que se fazem chamar de opinião pública embora expressem interesses privados bem concretos.
Por que o morticínio deliberado de meio milhão de pessoas (e contando...) e a venda de todo o patrimônio nacional são menos graves do que o fato de que tem bolso privado aberto para grana pública no international business da vacina?
Aliás, o que permitiu em algum momento pensar que essas coisas eram separadas? Alguém realmente acha, neste mundão de wizards e havans, que privatização é uma questão de ideologia?
Teria isso algo a ver com o fato de que a ênfase sobre a corrupção e não sobre o genocídio urbi et orbe é o que permite o truque retórico de retomar a polarização entre o genocida e Lula e, por extensão, tentar pela enésima vez criar o Frankenstein terceira via?
E, curiosidade das curiosidades, os roteiristas do novo show da vida estão mesmo apostando num Frankenstein da diversidade contra o dragão pernambucano da maldade? Algo assim como um Bacurau às avessas?
nota
NE1 – Publicação original do texto: MARTINS, Carlos Ferreira. O novo e velho BBB. Opera Mundi Uol, São Paulo, 4 jul. 2021 <https://operamundi.uol.com.br/opiniao/70388/o-novo-e-velho-bbb>.
sobre o autor
Carlos Ferreira Martins é professor Titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos.