A popularização e o crescente desenvolvimento dos programas 3D tornou cada vez mais comum uma prática antes improvável: a renderização de obras famosas que nunca saíram do papel ou que já não estão mais entre nós, como é o caso do Hotel Imperial de Tóquio (1922), de Frank Lloyd Wright. A elaboração realista de imagens que nunca existiram ou que não existem mais é fascinante, mas também faz pensar sobre qual o limite da representação de um projeto.
O render coloca o autor do projeto diante de aspectos que historicamente foram sublimados pelo raciocínio simplificador da geometria descritiva. Tive um orientando que fez um mestrado sobre isso – o Marcos Vinícius Damon (1) – reconstruindo digitalmente o Museu de Arte de Caracas do arquiteto Oscar Niemeyer, de 1953, e o MAC USP do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, de 1975.
Damon mostrou ao Paulo Mendes uma animação onde percorríamos por dentro o MAC USP etc. Paulo não manifestou muito entusiasmo. Entendo perfeitamente. O desenho é um artifício que mostra justamente (ou só aquilo) que o autor quer. Certas coisas não devem aparecer, caso contrário deporão contra a ideia que comunica o sentido do projeto. O desenho revela a ideia na medida certa. E essa medida só o autor tem.
nota
NE — artigo originalmente publicado na página de Facebook do autor.
1
DAMON, Marcus Vinicius. Arquiteturas não construídas: modos de aproximação e representação aplicadas no MAC USP de 1975. Orientador Rodrigo Queiroz. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU USP, 2015.
sobre o autor
Rodrigo Queiroz é arquiteto (FAU Mackenzie, 1998), licenciado em Artes (Febasp, 2001), mestre (ECA USP, 2003), doutor (FAU USP, 2007) e professor livre-docente do Departamento de Projeto da FAU USP. Curador de exposições de arquitetura moderna, tais como “Ibirapuera: modernidades sobrepostas” (Oca, 2014/2015), “Le Corbusier, América do Sul, 1929” (Ceuma, 2012), “Brasília: an utopia come true”, (Trienal de Milão, 2010) e “Coleção Niemeyer” (MAC USP, 2007/2008).