Beatriz de Abreu e Lima: O senhor se permite experimentar com estruturas que, num primeiro momento, não parecem lógicas ou racionais?
Charles Walker: Sim, claro, mas não acho que todos os engenheiros trabalhem assim. Na maioria das vezes os engenheiros adotam um processo bastante linear para projetar. Eu acho que com esse novo tipo de tecnologia em que podemos, até certo ponto, experimentar e tentar coisas diferentes, é possível adotar novas estratégias de projeto que de outra forma, não seriam possíveis, por causa da complexidade que envolvem. A tecnologia digital liberta-nos para buscar soluções mais complexas, tanto espacialmente quanto formalmente. Na maioria das vezes, quando realizamos estas experimentações, estamos seguindo uma estratégia que não sabemos exatamente aonde vai nos levar. O fato é que, hoje em dia, podemos produzir análises muito poderosas rapidamente. Muitas vezes, quando se lida com algo que possui uma complexidade geométrica real, não é possível prever imediatamente o comportamento estrutural – não importa o quão mecânico seja seu raciocínio – porque constitui um diagrama muito complexo. O que podemos fazer é colocar isso no computador e modelá-lo para que possamos entender seu comportamento estrutural e depois, é claro que teremos que voltar atrás e corroborar tudo com uma análise manual. Nunca devemos confiar completamente no computador, porém, utilizando-se uma análise computacional básica, podemos ter uma percepção imediata das ações estruturais complexas de sistemas não-lineares ou com alto grau de redundância. Há dez anos atrás, para uma análise desse nível, seriam necessárias semanas para que se pudesse acessar o computador e preparar tudo para “rodar” a análise, e isto teria que ser feito durante a noite ou durante dois dias para se chegar a um resultado. Por este ser um recurso tão precioso, era preciso ter cuidado na maneira como era utilizado. Mas hoje, temos o mesmo programa em um computador comum, que leva apenas trinta segundos para “rodar” uma análise. Nada nos impede de simplesmente examinar algo no computador, mandar “rodar”, dar uma olhada e refletir sobre o assunto. Desta maneira, a análise torna-se, na verdade, uma ferramenta no processo do projeto.
BAL: Acredito que a “Ove Arup & Partners” (6) seja uma firma que possibilita que a pesquisa aconteça paralelamente ao trabalho cotidiano. Cada engenheiro é também um pesquisador na firma?
CW: Dentro da “Ove Arup” existe um grupo chamado “Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento” que realiza muitas pesquisas complexas relacionadas à indústria da construção e que são relevantes para a indústria da construção de um modo geral. Porém, existe um outro tipo de pesquisa que é um pouco diferente porque é uma pesquisa guiada pelas paixões individuais dos engenheiros projetistas. Por exemplo, quando alguém se interessa por uma determinada estratégia de projeto que envolve Dobras ou Manufatura Integrada por Computador, as pesquisas desenvolvem-se de acordo com suas paixões de projetista. É como se um arquiteto se interessasse por programas de animação e pela sua utilização no processo de projetar. Ocorre exatamente a mesma coisa com os engenheiros.
BAL: Onde o senhor estudou Engenharia? Existe uma escola ligada a uma Engenharia mais criativa? A firma Ove Arup poderia ser essa escola?
CW: Estudei Engenharia no Imperial College [Imperial College of Science and Technology], mas antes disso, eu estudei Arquitetura no Canadá, na Universdade de Waterloo. E não, não existe uma escola para uma Engenharia mais criativa. Todos falam sobre isto, mas ninguém consegue criá-la. Acho que todos sabem que seria algo necessário e que seria uma coisa boa.
BAL: Então Ove Arup poderia ser essa escola?
CW: Sim, poderia.
nota
6
A Ove Arup é uma das mais importantes firmas de engenharia do mundo; fundada em 1946 na Inglaterra, construiu a Ópera de Sidney, a Tate Modern de Londres, e a recente ponte entre a Suécia e a Dinamarca (a ponte mais longa do mundo).