Beatriz de Abreu e Lima: Como o senhor vê a “revolução digital” em países como o Brasil, onde a realidade dos canteiros de obra parece muito distante de qualquer tipo de revolução?
Charles Walker: Bem, uma das vantagens de se fazer coisas digitalmente é a facilidade de comunicação. Quando eu envio um fax com um desenho para alguém, o fax contém uma parte ínfima de informação. Mas eu também posso enviar um e-mail contendo cinqüenta desenhos que representam milhares de horas de trabalho e informações sobre o projeto. Isto é uma coisa totalmente nova. Quando trabalhamos, digamos, com Ben Van Berkel que está na Holanda, nós nos correspondemos regularmente, via e-mail, enviando maquetes eletrônicas sofisticadas contendo a geometria completa do projeto. É fácil se comunicar desta maneira. Então, quando nos reunimos, precisamos apenas verificar uma lista de pendências. É claro que o contato pessoal sempre será necessário, certo? Existe toda uma linguagem corporal e questões sensoriais que são importantes. No entanto, pode-se ter uma equipe virtual em que o engenheiro estrutural está em um país, o arquiteto em outro, o engenheiro mecânico em um terceiro país e os empreiteiros em algum outro lugar.
BAL: Então as fronteiras são realmente rompidas...
CW: Sim, a internet fez isso e eu acho que isso pode acontecer também no campo do projeto e, de fato, isso já acontece nos projetos aeroespaciais há algum tempo, envolvendo, é claro, uma tecnologia de ponta. O projeto de um ônibus espacial inclui equipes de projeto na Inglaterra, na Alemanha, na França, na Espanha; todos projetando partes diferentes e trabalhando a partir de uma complexa maquete tridimensional que é armazenada em algum computador central. Então, acho que é possível.
BAL: Na América Latina, sempre esbarramos na questão da mão-de-obra não-especializada. Com a tecnologia do concreto armado, que até certo ponto não exige mão-de-obra muito cara para a execução, o Brasil alcançou expressão arquitetônica por meio do trabalho de Niemeyer, Mendes da Rocha, Reidy, Artigas...
CW: Todos falam das “cascas” de Felix Candela no México, que naquele tempo, foram possíveis porque o custo da mão-de-obra era muito baixo. Se você tentar construir estruturas de cascas na Europa utilizando fôrmas complicadas que requerem intensa mão-de-obra, o custo será proibitivo. Hoje, estamos cada vez mais usando novas tecnologias para subtrair o componente da mão-de-obra. Por exemplo, o processo ao qual me referi antes – modelagem de blocos de styrofoam por meio de CNC, os quais são colocados dentro de fôrmas convencionais de madeira para produzir superfícies com dupla curvatura – automatiza a mão-de-obra mais pesada. Então, pode-se dizer que esses sistemas são realmente montados para a economia européia. Mas a firma que está fazendo a estrutura espacial para Cingapura, a MERO, está fabricando a estrutura na Alemanha e enviando-a para Cingapura. Os componentes pré-fabricados são enviados para o mundo todo. Talvez seja óbvio, mas está-se formando uma economia mais global.
BAL: É curioso que se fale sobre arquitetura e design contemporâneo holandês e não se fale especificamente sobre engenharia holandesa...
CW: Eu não estou tentando promover nenhum tipo de estilo internacional na Arquitetura com essa idéia de tecnologia digital. Quer dizer, a arquitetura regional ainda existe. A Engenharia é uma disciplina mais universal, mas mesmo assim, ainda existem influências regionais na cultura da Engenharia.