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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Entrevista com o engenheiro Charles Walker, da firma de engenharia Ove Arup, é responsável, entre outras obras, pela construção do Pavilhão temporário para a Galeria de Arte Serpentine em Londres, de autoria de Oscar Niemeyer

english
Interview with engineer Charles Walker, the engineering firm Ove Arup, is responsible, among other works, for construction of a temporary pavilion for the Serpentine Art Gallery in London, designed by Oscar Niemeyer

español
Entrevista con el ingeniero Charles Walker, de la firma de ingeniería Ove Arup, es responsable, entre otras obras, de la construcción del Pabellón temporario para la Galería de Arte Serpentine en Londres, de autoría de Oscar Niemeyer

how to quote

LIMA, Beatriz de Abreu e; SCHRAMM, Mônica. Charles Walker. Entrevista, São Paulo, ano 04, n. 014.02, Vitruvius, abr. 2003 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/04.014/3336>.


Los Manantiales, México, 1958
Felix Candela

Beatriz de Abreu e Lima: Como o senhor vê a “revolução digital” em países como o Brasil, onde a realidade dos canteiros de obra parece muito distante de qualquer tipo de revolução?

Charles Walker: Bem, uma das vantagens de se fazer coisas digitalmente é a facilidade de comunicação. Quando eu envio um fax com um desenho para alguém, o fax contém uma parte ínfima de informação. Mas eu também posso enviar um e-mail contendo cinqüenta desenhos que representam milhares de horas de trabalho e informações sobre o projeto. Isto é uma coisa totalmente nova. Quando trabalhamos, digamos, com Ben Van Berkel que está na Holanda, nós nos correspondemos regularmente, via e-mail, enviando maquetes eletrônicas sofisticadas contendo a geometria completa do projeto. É fácil se comunicar desta maneira. Então, quando nos reunimos, precisamos apenas verificar uma lista de pendências. É claro que o contato pessoal sempre será necessário, certo? Existe toda uma linguagem corporal e questões sensoriais que são importantes. No entanto, pode-se ter uma equipe virtual em que o engenheiro estrutural está em um país, o arquiteto em outro, o engenheiro mecânico em um terceiro país e os empreiteiros em algum outro lugar.

BAL: Então as fronteiras são realmente rompidas...

CW: Sim, a internet fez isso e eu acho que isso pode acontecer também no campo do projeto e, de fato, isso já acontece nos projetos aeroespaciais há algum tempo, envolvendo, é claro, uma tecnologia de ponta. O projeto de um ônibus espacial inclui equipes de projeto na Inglaterra, na Alemanha, na França, na Espanha; todos projetando partes diferentes e trabalhando a partir de uma complexa maquete tridimensional que é armazenada em algum computador central. Então, acho que é possível.

BAL: Na América Latina, sempre esbarramos na questão da mão-de-obra não-especializada. Com a tecnologia do concreto armado, que até certo ponto não exige mão-de-obra muito cara para a execução, o Brasil alcançou expressão arquitetônica por meio do trabalho de Niemeyer, Mendes da Rocha, Reidy, Artigas...

CW: Todos falam das “cascas” de Felix Candela no México, que naquele tempo, foram possíveis porque o custo da mão-de-obra era muito baixo. Se você tentar construir estruturas de cascas na Europa utilizando fôrmas complicadas que requerem intensa mão-de-obra, o custo será proibitivo. Hoje, estamos cada vez mais usando novas tecnologias para subtrair o componente da mão-de-obra. Por exemplo, o processo ao qual me referi antes – modelagem de blocos de styrofoam por meio de CNC, os quais são colocados dentro de fôrmas convencionais de madeira para produzir superfícies com dupla curvatura – automatiza a mão-de-obra mais pesada. Então, pode-se dizer que esses sistemas são realmente montados para a economia européia. Mas a firma que está fazendo a estrutura espacial para Cingapura, a MERO, está fabricando a estrutura na Alemanha e enviando-a para Cingapura. Os componentes pré-fabricados são enviados para o mundo todo. Talvez seja óbvio, mas está-se formando uma economia mais global.

BAL: É curioso que se fale sobre arquitetura e design contemporâneo holandês e não se fale especificamente sobre engenharia holandesa...

CW: Eu não estou tentando promover nenhum tipo de estilo internacional na Arquitetura com essa idéia de tecnologia digital. Quer dizer, a arquitetura regional ainda existe. A Engenharia é uma disciplina mais universal, mas mesmo assim, ainda existem influências regionais na cultura da Engenharia.

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