Beatriz de Abreu e Lima: Em uma palestra, o engenheiro Cecil Balmond (7) afirmou ser co-autor de projetos juntamente com alguns arquitetos. Este é um estilo pessoal ou é uma tendência? Os profissionais estão mais afeitos a trabalhar em colaboração?
Charles Walker: Existem colaborações. Eu não posso falar por Cecil, mas acho que atualmente, a diferença é que os arquitetos estão propondo soluções que realmente dependem profundamente das soluções de engenharia para sua realização. Por causa disso a engenharia supera a condição de apenas aconselhar e, de fato, chega a ser parte das decisões-chave ou estratégicas de um projeto, participando até mesmo do processo criativo do arquiteto. A criatividade e, até certo ponto, a autoria das idéias, mesmo no partido conceitual de uma proposta arquitetônica, é compartilhada ou, algo totalmente diferente, de autoria exclusiva do engenheiro. Certamente, todo engenheiro experiente tem seu próprio direcionamento e uma formulação conceitual do próprio trabalho e, baseado nisso, um arquiteto pode convidar um engenheiro para trabalhar com ele, iniciando uma colaboração. Isso é cada vez mais comum. Eu sempre acreditei que tanto os engenheiros quanto os arquitetos são designers; o arquiteto lida com o cliente, o programa, o planejamento o espaço e até com o orçamento e outras transações comerciais, enquanto o engenheiro lida mais com a materialização concreta e detalhes estruturais.
BAL: Como projetista/designer, quais são os seus interesses atuais?
CW: Meu principal interesse atualmente é a Manufatura Integrada por Computador. Agora dispomos de ferramentas para modelar geométrica e espacialmente qualquer coisa no computador utilizando um programa de CAD e com um programa de análise, podemos analisar qualquer coisa, podemos analisar até mesmo materiais que não existem. Podemos atribuir uma densidade ou rigidez fictícia a um material. Podemos criar materiais artificiais no computador. Podemos criar qualquer coisa no computador, mas o problema atual é a execução. Não existem muitas firmas aparelhadas para fabricar essas coisas. Este é definitivamente o elo fraco na cadeia digital: projeto – análise – fabricação. Portanto, eu estou realmente interessado em saber cada vez mais sobre as firmas que trabalham com Manufatura Integrada por Computador, que possuem máquinas CNC – Controle Numérico Computadorizado (Computer Numerical Control) para fabricar moldes de styrofoam (8) para peças de concreto; firmas que conseguem produzir rapidamente protótipos para fôrmas de aço inoxidável e que estão usando CNC para fabricar componentes metálicos; firmas que usam máquinas a laser para trabalhar o aço. Acho que estes processos são a chave para o futuro.
BAL: Foi este o processo utilizado por Frank Gehry no museu de Bilbao?
CW: O Gehry é um dos arquitetos que está alavancando este processo, mas não acho que o engenheiro consultor desempenhe um papel fundamental em seus projetos, pois o Gehry vai direto para os fabricantes.
notas 7
Cecil Balmond: engenheiro conhecido por trabalhar em estreita colaboração com arquitetos, é o responsável pela Divisão de Operações da firma inglesa Ove Arup, na área de estratégias de pesquisa e desenvolvimento. Trabalhou no projeto da extensão do Victoria and Albert Museum em Londres.
8
Tipo de espuma leve de poliestireno.