Beatriz de Abreu e Lima: Houve um momento de virada na sua carreira, quando o senhor se tornou, digamos, um “engenheiro digital"?
Charles Walker: Sim, houve. Eu tinha consciência das mudanças tecnológicas e percebia a tendência gradual em direção às novas tecnologias. Os projetos com os quais trabalhei, permitiram que, desde cedo, eu compreendesse o poder dos programas de modelagem computacional. O primeiro projeto realmente digital que fiz foram os domos em Cingapura que começaram em 1995, há quase cinco anos, e acho que para a época, eram uma grande novidade.
BAL: O senhor exerce atividade acadêmica?
CW: Eu ensino com mais freqüência em escolas de Arquitetura. Também ensino no Imperial College, mas muito raramente.
BAL: Qual é sua principal preocupação em relação ao seu trabalho?
CW: Bem, existe um ditado que diz que um bom engenheiro não dorme bem. Quando você está simplesmente fazendo algo que já fez antes, que sabe que funciona, e é conservador em seus cálculos, então, você pode dormir perfeitamente bem porque não tem preocupações de nenhuma natureza. Mas, se você trabalha próximo dos limites e experimenta, tenta algo novo, correndo riscos não somente em relação à estrutura, mas também em relação ao custo; então você tem preocupações. Eu tenho preocupações, mas de certa forma, tenho orgulho disso. Se eu dormisse bem, eu ficaria realmente preocupado.
BAL: Em que projeto o senhor está trabalhando agora?
CW: Agora? No Arnhem Central de Ben van Berkel (11). Estamos fazendo o projeto da cobertura do terminal.
nota
11
Segundo o site oficial do UN Studio, o “projeto concentra um programa misto de 160.000m2 (...) Seis sistemas diferentes de transporte convergem na área da estação e todos os dias, 55.000 passageiros passam pelo terminal transferindo-se de um sistema para outro”. O diagrama de uma “Garrafa Klein” serviu de base para a concepção do projeto. A idéia da continuidade da superfície da “Garrafa Klein” se aplica à integração necessária entre os diferentes sistemas de transporte e se traduz também no esquema estrutural que permite a continuidade entre piso e teto. A circulação modula a estrutura do Terminal.