Adalberto da Silva Retto Júnior: O que deve ser objeto de estudo com a finalidade de focalizar o aposto disciplinar na montagem de uma biografia de um arquiteto urbanista? Os planos: enquanto produto de uma prática, e portanto documentos que evidenciam o modo próprio de usar e padronizar as ferramentas da profissão, ou os planos enquanto instrumento eficaz de domínio dos fenômenos, e portanto planos realizados, planos eficazes, obras induzidas e processos iniciados? Os escritos e portanto, a teoria expressa que restitui o sentido da prática?
Guido Zucconi: Eu penso que foi excessivamente enfatizado o papel dos planos, com prejuízo de elementos menos espetaculares, mas igualmente eficazes: por exemplo, em sua constituição, a ”Veneza maior” não foi objeto de planos, porém, a seu modo, foi igualmente planejada (através do desenho da viabilidade, o projeto de alguns pontos significativos, a localização de serviços estratégicos...) Para não falar dos países anglo-saxões onde nunca existiram planos, no sentido comumente dado pelas nações à alta taxa de direcionamento (França, antes de tudo, mas também a Itália, Brasil...): Londres nunca teve um plano, depois da perda dos esquemas que se seguiram ao grande incêndio de 1666: impingir para os planos os esquemas redigidos para o Greater London por Unwin e por Abercrombie foi forçar claramente a situação.
Há contudo um setor ainda totalmente a ser explorado que eu chamaria de unproper planning: é dominado por indivíduos teoricamente estranhos ao planejamento oficial, os quais porém condicionaram profundamente a forma e o destino da cidade. Penso, por exemplo nos superintendentes dos monumentos os quais na Itália marcaram a acomodação de muita áreas protegidas (em alguns casos de inteiros centros históricos); penso no corporate planning, ou nos desenhos de administrações que souberam incidir sobre a acomodação territorial bem mais do que o plano regulador (como a Fiat em Turim, a Anic-Eni em Ravena e, obviamente, a Olivetti em Ivrea).
Penso sobretudo nos militares, grande “buraco negro” da historiografia urbana: por dificuldade de acesso aos arquivos, além de razões ligadas ao politically correct, falou-se muito pouco, principalmente, do período compreendido entre o fim do século XVIII e a metade do século XIX: nesta fase, as corporações do exército substituíram a ausência de aparatos civis que nasceram somente mais tarde. Isto vale, me parece, também e principalmente, para países do novo mundo, como o Brasil e o México.
Mesmo na ausência de planos stricto sensu, conheço não poucas cidades européias redesenhadas por militares no curso do século XIX: Tolone, Corfù, Malta, Timi-oara, Belgrado...para não falar das que nasceram de um esquema inteiramente militar (Odessa, La Spezia...).