Adalberto da Silva Retto Júnior: Em La città dell’Ottocento (2001), a cidade aparece dominada por fatores dinâmicos, que serão fornecidos pela demografia, antes que da economia (Zucconi, 2001). À frente de estrepitosas performances quantitativas, se difunde e se impõe o termo “metrópole”. Queria que o Sr. respondesse a uma pergunta feita pelo senhor mesmo em seu livro: O que caracteriza a história da cidade ocidental de modo particular? Quais fatores de continuidade recordam um longo período, entre o fim do século XVIII e o início do século XX?
Guido Zucconi: Difícil dar uma resposta seca. Preferiria contudo falar de “cidade européia”, incluindo nesta definição também as que Braudel havia definido as “novas Europas” (neste caso entrariam também cidades que estão nominalmente no leste, como Vladivostok ou Sidnei). Começaria com um dado quantitativo: a onda demográfica se manifesta na Inglaterra e na metade do século XVIII, depois avança para a Europa continental de norte a sul, para depois dirigir-se para novas Europas. Nos últimos cinqüenta – quarenta anos voltou-se para além das novas Europas: o que hoje está acontecendo em Djacarta ou em Seul é, portanto, a “cauda” de um fenômeno iniciado há mais de duzentos anos, nas ilhas britânicas. Nisto há uma perfeita continuidade entre Ocidente e Oriente, entre não-Europas e Europas, sejam elas velhas ou novas.
Mas cheguemos aos aspectos qualitativos. Se nos detivermos no período que antecede 1970, talvez possamos chamar para a causa, a persistência de uma acomodação topográfico-formal que nas velhas e novas Europas tinha “sustentado” também a passagem da cidade para metrópole, por quanto estivessem dilatadas desmedidamente. Londres, Boston ou Rio de Janeiro haviam conservado as noções de centro e de limite, já amplamente “demolidas” em lugares como Tóquio ou Calcutá. Neste processo de manutenção acredito tenha desenvolvido um papel importante a presença de algumas instituições bem localizadas: a igreja, a prefeitura, os prédios governativos que, nas cidades das velhas e novas Europas mantiveram uma relação de identidade com os lugares. No oriente, a “volatilidade” dos lugares das instituições tem contribuído com uma lentidão na relação forma-identidade.
Enfim, após um certo período, também no ocidente, a dimensão da megalópole parece ter submergido uma série de consolidadas coordenadas urbanas, como bem demonstra o caso de São Paulo.