O Estádio de Braga, de Eduardo Souto de Moura
José Mateus
Para muitos, o estádio mais belo e arrojado do Euro 2004 encontra-se em Braga. Uma obra ímpar, fruto do encontro entre diversos saberes e talentos e que já motiva excursões de arquitetos e engenheiros vindos de várias partes do mundo. Há também quem afirme que foi a maior derrapagem orçamental entre os estádios do Euro.
O mérito desta obra pluridiciplinar pertence a diversos intervenientes — Eduardo Souto de Moura (arquiteto e autor do projeto), Daniel Monteiro (arquiteto paisagista), AFA (engenharia de estruturas) e Soares da Costa (empreiteiro geral), para mencionar apenas alguns.
Eduardo Souto de Moura (ESM), arquiteto portuense, concebeu, entre outros, a exposição do Pavilhão de Portugal, a Casa das Artes do Porto (prêmio Secil 1992), e a extraordinária adaptação das ruínas do Convento de Santa Maria do Bouro. Viu reconhecida a sua carreira em 1998 ao receber o Prêmio Pessoa. ESM, como os grandes arquitetos que conheço, é obsessivo. Transporta consigo uma enorme quantidade de memórias, de viagens, leituras, lugares e coisas vividas. A sua arquitetura revela um sentido crítico e transformador da paisagem, específico para cada contexto. Em cada novo caso questionam-se as soluções mais óbvias; cada parte da obra é pensada como se fosse decisiva.
Depois de falar com ESM, e de fazer a viagem por quatro vezes para visitar o estádio, há uma frase do arquiteto francês Jean Nouvel que não esqueço: “Ser moderno é fazer o melhor uso da memória e arriscar-se a inventar”.