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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
O arquiteto português José Mateus, titular do escritório ARX Portugal, conversa com um dos mais renomados arquitetos atuais, Eduardo Souto de Moura, sobre o novo Estádio de Futebol em Braga

english
The Portuguese architect José Mateus, holder of the office ARX Portugal, talk with one of today's most renowned architects Eduardo Souto de Moura, on the new football stadium in Braga

español
El arquitecto portugués José Mateus, titular del estudio ARX Portugal, conversa con uno de los más renombrados arquitectos actuales, Eduardo Souto de Moura, sobre el nuevo Estadio de Fútbol en Braga

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MATEUS, José. Eduardo Souto de Moura. Entrevista, São Paulo, ano 05, n. 019.03, Vitruvius, jul. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/05.019/3325>.


Corredor de acesso à arquibancada. Estádio de Futebol de Braga, arquiteto Eduardo Souto de Moura

José Mateus: As obras de maior dimensão são “organismos” complexos que, por vezes, começam a ultrapassar o arquiteto. Chegamos a dar conta que corremos atrás delas. Sentiu isso alguma vez?

Eduardo Souto de Moura: Não, no sentido de dizer ‘aquela parte escapou-me, ficou mal porque não consegui acompanhar ou tratar dela’. Senti surpresas devido a incidentes durante a obra, coisas que fui encarando, apesar de tudo, como fatos normais de uma obra. Incidente, considero a obrigação a certa altura imposta de introduzir dezenas de ventiladores na grande sala debaixo do relvado. Gostava tanto daquela sala, era uma coisa quase emblemática, tem a beleza de um espaço sem função aparente, calmo, e com uma luz bonita. Agora está cheio de ventiladores. O que me custa é que, contrariamente a uma casa de banho onde as pessoas vêem torneiras e percebem para que estão ali, neste caso ninguém percebe, sendo um espaço aberto, a razão para aqueles ventiladores. E há também umas luzes que ficaram maiores do que era suposto, uns “charutos” horríveis.

JM: Para si, que está habituado a desenhar a obra até ao ínfimo detalhe, como foi projetar um estádio, que vive sobretudo do grande gesto? Prescinde-se de detalhes mais finos?

ESM: A preocupação pelo detalhe foi exatamente igual à que existe para uma obra pequena. Simplesmente, tive de reduzir a variedade de detalhes, ou enlouquecia. Um estádio é uma obra de sistematização de meia dúzia de detalhes. Para lá chegar tive de trabalhar duramente e testar protótipos, fizemos quase tudo numa dimensão real. E aconteceu uma coisa com piada: até certo ponto, o projeto era muito mais “janota” que a obra. Ou seja, havia guardas em inox e pavimentos epoxy auto-nivelantes. Quando percebi a escala, e de certo modo a grosseria do betão, que eu não podia controlar, retirei estes materiais. Neste contexto resultam melhor guardas galvanizadas, e são mais baratas; adequa-se mais um cimento afagado no chão que um auto-nivelante suíço. Foi um trabalho quase ao contrário, de retirar desenho, retirar presença das coisas.

JM: Para materializar um projeto destes é necessário uma enorme “cumplicidade” entre todos os intervenientes.

ESM: O número de pessoas envolvido foi tremendo, os paisagistas, outros arquitetos, as engenharias infinitas. Há algumas semanas, o estádio foi tema de um Congresso da Ordem dos Engenheiros em Braga. Eu fiz uma apresentação mas falei em termos de engenharia pois não sei explicar a arquitetura do estádio sem falar da maneira como trabalhei com os engenheiros. Depois falaram os engenheiros, que disseram: 'Então, já que o arquiteto explicou a engenharia, nós vamos falar da arquitetura'. O presidente da Câmara fechou: 'Gostava de dizer uma coisa: isto é uma loucura completa e eu sou louco porque aderi a outro louco que é aquele senhor que está ali com barba, mas só queria dizer que, se fosse hoje, eu repetia tudo desde o início'.

Arquibancada em meio à pedreira. Estádio de Futebol de Braga, arquiteto Eduardo Souto de Moura

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