Entrevista com o Senador Roberto Saturnino Braga – PT/RJ
Antônio Agenor de Melo Barbosa
Preparado inicialmente para uma conversa formal, rigorosamente cronometrada e apenas restrita aos temas que havia combinado previamente com a sua assessoria política, fui positivamente surpreendido com um entrevistado extremamente afável, bem humorado e muito disposto a falar sobre qualquer assunto. Não houve nenhum tema que o Senador Roberto Saturnino Braga se negasse a responder nesta longa entrevista concedida pioneiramente para o Portal Vitruvius. E, já que o entrevistado parecia estar bem à vontade e interessado mesmo em responder com total sinceridade às questões colocadas, diversos temas espinhosos da biografia política do Senador foram, obviamente, abordados e lançados para a sua reflexão ao longo desta entrevista realizada em duas tardes de dezembro de 2004 em seu Gabinete Político no Bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Ao mencionar os espinhos na sua biografia estou me referindo, sobretudo, ao episódio da falência do Município do Rio decretada pelo então Prefeito Saturnino Braga na década de 80 e, mais recentemente, ao complicado jogo de alianças que o elegeu Senador em 1998, mas com um acordo político de divisão de mandatos com o PDT do Ex-Governador Leonel Brizola, com quem o entrevistado viveu momentos de céu e de inferno conforme nos relatou.
Com uma voz sempre firme, discurso e pensamento muito bem alinhavado – talvez lapidado pelos muitos anos de treinamento no Parlamento como Deputado Federal e Senador - e uma maneira pausada e serena de falar, ao longo da entrevista, o Senador fez a revelação de uma pequena intimidade: ele é barítono, estudioso de música e de Teoria Musical e já chegou a ser premiado em 1º lugar em concurso de músicos realizado pela Rádio MEC em 1954 e, ao lado do conceituado Maestro Edino Krieger, já se apresentou em Moscou, no Teatro Bolshoi. Dono de uma memória que impressiona pelo detalhamento preciso de datas, nomes e processos pelos quais passou desde a infância e adolescência, nos anos 30 e 40 no Bairro Peixoto em Copacabana, até os dias de hoje quando, certamente, o Senador trava uma dura batalha para recuperar-se totalmente de problemas de saúde em sessões de quimioterapia.
Na maior parte da entrevista questões relativas ao desenvolvimento urbano, à favelização e à violência que tanto apavoram os cariocas – de nascimento ou de adoção – foram também contempladas com reflexões do Senador. Ele chega mesmo a revelar que o tão celebrado programa “Favela-Bairro” atual vedete da Prefeitura do Rio nos anos 90 foi, de fato, semeado na sua gestão pelo corpo de técnicos, arquitetos e urbanistas que, sob a sua liderança como Prefeito, ali atuaram na cidade no final da década de 80. Também fez uma autocrítica de muitos erros que julga ter cometido ao longo de sua vida pública, mas nenhum foi mais firmemente destacado que o arrependimento de ter confiado apoio ao Ex-Governador Garotinho com quem rompeu politicamente. E diz que foi um erro para o Rio a eleição do Garotinho para o Governo do Estado em 1998.
Em 2005 o Rio de Janeiro estará completando duas décadas da chegada de Saturnino à Prefeitura da Cidade, na época pelo PDT, do então Governador Brizola. A despeito do seu curto mandato de apenas 3 anos, cabe relembrar que ele foi o primeiro Prefeito eleito da cidade após os anos da ditadura militar onde os Prefeitos eram nomeados. E, portanto, esta entrevista – possivelmente uma das mais completas e abrangentes entrevistas concedidas pelo Ex-Prefeito - certamente será muito útil para todos aqueles pesquisadores interessados em ampliar os seus conhecimentos sobre os bastidores da política e da gestão pública no Estado do Rio.