Adalberto Retto Jr, Norma Constantino e Marta Enokibara: Para alguns teóricos, os anos do pós-guerra inauguraram uma escala diferenciada no tratamento à cidade. Gideon, por exemplo, reconhece três estágios na arquitetura, num percurso reflexivo sobre arte e coletividade iniciada em Bridgewater (CIAM 1947) e Bérgamo (CIAM 1949): um primeiro, no qual a atenção se volta à organização da célula e os arquitetos experimentam uma nova espacialidade em projetos de conjuntos isolados; um segundo, em que o tema se relaciona com a necessidade de uma maior articulação do projeto e das agregações de casas e de blocos de habitação, com um renovado interesse para a planificação; e um terceiro, que levaria os arquitetos a repensar o tema do centro comunitário, do centro cívico, questões centrais na reflexão dos anos de 1950. Dentro deste contexto, quais os projetos no Brasil, que seriam representativos desta alteração de escala na resolução da cidade?
José Cláudio Gomes: Em primeiro lugar, a célula individual: projetos de habitação monofamiliar geralmente para classe média elaborados pela primeira geração dos modernos (Artigas, Niemeyer, Lúcio Costa, etc). Como exemplo, poderíamos citar: agregação de blocos construídos – planificação; projetos elaborados no período SERFHAU – Serviço Federal de Habitação e Urbanismo – a partir de 1967, período inicial dos Planos Diretores; política habitacional do governo federal, com empresas habitacionais como COHAB, INCOOPs, etc; projetos diversos de Affonso Eduardo Reidy; M. M. Roberto, etc. Em segundo lugar, o centro cívico ou comunitário. Podemos citar Brasília e os projetos apresentados no Concurso de 1957; projetos de Prestes Maia para o Centro de São Paulo, de 1930; planos para o Rio de Janeiro, como a Cidade Universitária de Lúcio Costa e o Plano Agache, de 1926-1930; alguns projetos elaborados no quadro dos Planos Diretores por mim para Valparaíso, Garça, Guarujá, Ilhéus, Matão, etc.
A, N e M: A partir da leitura de textos de Saverio Muratori, Carlo Aymonino, Aldo Rossi e Gianfracesco Caniggia, emergem em diversos países nuances e implicações operativas baseadas na teoria tipo-morfológica. Na França, por exemplo, embasou o nascimento de um espaço específico da análise urbana capaz de dar uma nova vitalidade à prática da arquitetura e do urbanismo. Nesta retomada às pesquisas sobre tipologia edilícia e a morfologia urbana, alguns franceses apresentam contribuições originais atinentes à relação da cidade com o ambiente natural e o lugar recuperando a sólida tradição nacional de estudos de geografia urbana (P. George, G. Etienne, etc). Por outro lado, surgem numerosas polêmicas sobre a validade científica da teoria tipo-morfológica, abrindo-se para novos conceitos relativos à “arquitetura urbana”, à “composição urbana”, ao “projeto urbano”. Qual a contribuição brasileira sobre o debate do projeto urbano?
JCG: Desconheço “debate” sobre este tema. Talvez tenha havido algum debate “intramuros” na Academia. Eu mesmo conduzi, no âmbito da Pós-Graduação, na FAU USP, na década de 1980, disciplina e seminários com este nome e conteúdo (Projetos Urbanos). Entretanto, trata-se de iniciativa isolada que não teve desdobramentos.