Adalberto Retto Jr, Norma Constantino e Marta Enokibara: Em São Paulo, no memorial do Concurso Público Nacional para Elaboração de Plano de Reurbanização do Vale do Anhangabaú (1981), aparece uma nova direção no tratamento do espaço público: o desenho do vazio, dos espaços abertos, cada um dos quais é tratado como material específico da construção da cidade e do território e a cada um é dada a tarefa de reabilitar o espaço da cidade contemporânea, propondo inovações espaciais.
Algumas décadas depois, no seu projeto “Bauru Centro Novo”, o senhor ao mesmo tempo que trabalha a escala do centro cívico, propõe a Mixitè, isto é, um programa para o espaço aberto constando de edifícios públicos, serviços e também a habitação: constrói o tecido urbano numa esplanada árida articulando a cisão histórica feita pela ferrovia. É verdade que suas proposições se inserem na reabilitação dos centros, problemática que se alastra em muitas cidades de porte médio do oeste paulista. Entretanto, no mesmo período o senhor propõe o projeto para o Largo da Batata, em São Paulo. Qual a diferença escalar ao trabalhar o centro da cidade de porte médio e a metrópole congestionada? Qual a forma de tratar o fragmento?
José Cláudio Gomes: Mais do que uma diferença escalar trata-se de uma diferença de contexto ou situação. Bauru é um contexto que se constrói: um centro monofuncional afogado pelo comércio varejista, popular e escritórios, carente de habitação permanente, enfim, um conjunto que requer intervenção de construção do centro de uma cidade em expansão e crescimento: de uma cidade que já é um centro regional.
Largo da bata em Pinheiros: contexto de uma área metropolitana que se normaliza; saturação do espaço construído; estabilização do crescimento demográfico; diferenciação funcional da base econômica e industrial para serviços, etc.
Neste sentido, diferentes contextos problemáticos requerem projetos diferenciados. No caso de Bauru trata-se de superar o escândalo urbano de um enorme pátio ferroviário decadente, degradado e obsoleto... Daí a proposta de atender à necessidade de expandir as atividades centrais pelo adensamento do uso, diversificação funcional e espacial incorporando a enorme área do obsoleto pátio ferroviário a um novo desenho do centro da cidade. Atenção para a generalidade deste problema, que ocorre em grande número de cidades do oeste paulista (Agudos, inclusive...).
No caso do Largo da Batata (trabalho inacabado conduzido, há muitos anos no quadro de modesta disciplina de pós-graduação da FAU USP, tratava-se de investigar um fragmento urbano que, no contexto metropolitano, não seria mais do que pontual. Aqui, à sua natureza de novo centro de articulação viária, era no seu conjunto, mero fragmento secundário no interior da imensidão metropolitana. A intervenção, portanto, indicava a necessidade de abrir o espaço, desadensando espacialmente e devolvendo o chão do Largo ao pedestre.
Certamente os pressupostos mais gerais, em ambos os casos são os mesmos: requalificar espaços degradados devolvendo-os ao uso coletivo, construindo-os “ex-novo” em Bauru, reconstruindo-os, no Largo da Batata. Desenhos, num e noutro caso, específicos e diferenciados: processos históricos diferenciados, linguagens formais específicas, etc.