Adalberto Retto Jr, Norma Constantino e Marta Enokibara: Alguns especialistas colocam o congresso internacional organizado pelo DAU, do Ministère de l’Équipement, du Logement et dês Transports, em Strasburgo em setembro de 1992, intitulado, Projet Urbain’92 – de l’intention à réalisation, como prova daquilo que aconteceu no primeiro qüinqüênio dos anos 90 e dos equívocos engendrados pelo uso maciço da expressão "projeto urbano".
O Projeto Urbano, conforme escrito na brochura de apresentação do congresso, "se transforma no meio para lutar contra a cidade explodida preparando-a para acolher progressivamente programas e arquiteturas". O projeto urbano é também uma maneira de lutar contra a cidade que exclui, a cidade do “zoneamento”. "É a tentativa de obter a complexidade urbana, trabalhando sobre a totalidade do território urbano com a mesma profundidade, ou com uma maior complexidade, para os bairros e as populações em dificuldade. É um outro modo de fazer a cidade ou de não deixar que se desfaça sob pequenas operações esparsas ou incoerentes”.
Na França, na primeira metade dos anos 90, se desenvolve um debate que, de qualquer modo, retoma aquele sobre plano/projeto que aconteceu no decênio precedente na Itália, com diversos questionamentos: para que serve a noção de projeto urbano? Trata-se de arquitetura da cidade ou de arquitetura na cidade? De um projeto de plano urbano, de um plano de controle morfológico da arquitetura na cidade, da interface cidade-arquitetura? De projeto de arquitetura urbana, de mega-estrutura urbana ou de mega-projeto arquitetônico?
E no seu ponto de vista?
José Cláudio Gomes: O modo como é apresentada a formulação da pergunta vincula a noção à problemática de países centrais que não é a mesma de países periféricos. Só recentemente o Brasil vem se constituindo em país urbano, mas de extraordinária desigualdade social que todos conhecem. Neste sentido, qualquer que seja a noção de “projeto urbano” deve, obrigatoriamente, ser entendida dentro daquelas condições históricas que nos são próprias. Isto é, devemos na verdade indagar qual a noção de projeto urbano que nos convém e não a que França, Espanha Itália, etc buscam.
Creio que “projeto urbano” no Brasil será qualquer projeto que leve em conta condições básicas e elementares de cidadania e civilidade a começar pelo mais elementar nível de equipamentação material e estruturação do espaço de um país que se constrói.
Projeto Urbano, aqui, não terá a conotação estetizante de linguagem formal dos países centrais, mas o significado mais básico de projeto de espaço dotado de uma “qualidade” urbana onde a população se reconheça e se aproprie. Neste sentido, creio que o projeto urbano tem a ver antes com uma certa “qualidade” do espaço da cidade do que com a simples funcionalidade material.