Adalberto Retto Jr, Norma Constantino e Marta Enokibara: O senhor fez parte da equipe que ganhou o segundo lugar no concurso do Museu George Pompidou (coordenação de Paulo Mendes da Rocha). Vale ressaltar que, o referido concurso tornou-se paradigmático na história da arquitetura e do urbanismo no tratamento relativo à cidade, mas também pelo fato de deslocar o centro do debate do âmbito disciplinar àquele político:
1 – Após um qüinqüênio de sombra, tem-se uma mudança na política urbanística com conseqüente descentralização que é operada na França a partir de 1985. O projeto urbano na sua expressão “mediatizada” é transformado, em um dos principais recursos políticos com os quais se mediaram e se confrontaram a esquerda e a direita de Mitterand e Chirac, a todos os administradores das cidades francesas. Esta nova situação política-administrativa aponta a necessidade de que os novos instrumentos de intervenção na cidade e no território apresentem características diversas com respeito àquelas produzidas nas décadas precedentes.
2 – A questão não se relaciona somente aos instrumentos, mas a todo aparato teórico que está a montante: isto é, a necessidade de dar frente à nova situação, de criar uma cultura do projeto urbano entre os técnicos, mas também entre os políticos e os administradores, que levaria seu aprofundamento epistemológico.
Essa nova situação, que leva em conta a experiência dos Grands Projets, também se baseia na afirmação de uma prática de intervenções sobre a cidade respaldadas nas suas características contextuais.
Concomitantemente, explodiu uma grande polêmica: Bernard Huet e Antoine Grumbach naquela ocasião alardearam: “Nos encontramos em uma época de arquitetura-espetáculo com finalidade eleitoreira”, afirmava o primeiro. “As cidade e o Estado levam adiante uma política feita por colecionadores de belos objetos. Ora, o projeto urbano é exatamente o oposto”. O projeto urbano “não é um projeto de design”, – argumentava o segundo – “não tem implicações somente pontuais, mas é urbanismo, deve se inserir em um quadro de definições da cidade no seu complexo como espaço físico em que vive uma comunidade”. Judith Rueff ressalta que “diferente de uma obra de arquitetura, o projeto urbano não pode existir se não produzir contexto ou, em outras palavras, se não produzir tecido urbano. (...) O que é fundamental, é a ação de transformação e de criação do espaço urbano”.
Qual a resposta dada pelo projeto da sua equipe e qual o diferencial da equipe vencedora de Rogers & Piano?
José Cláudio Gomes: O projeto Rogers-Piano é uma grande operação de marketing cultural que inaugura um novo ciclo da política cultural nos países centrais (e periféricos...). Bilbao, Guggenheim Rio, etc. O projeto de Paulo Mendes da Rocha pretendeu oferecer à antiguíssima cidade de Paris a resposta de como uma jovem nação de arquitetos constrói o espaço no centro do velho Marais. Muito mais do que simplesmente responder aos óbvios requisitos funcionais do programa do Concurso, o projeto cuidou de ensinar à cidade de Paris como se constrói uma nova espacialidade de congraçamento, civilidade e urbanidade usando, sem exibicionismos nem malabarismos, da melhor tecnologia e sistema construtivo. A análise cuidadosa do projeto PMRocha revela uma evidente carga didática e pedagógica na maneira como, por exemplo, ensina a redesenhar as ruas do Marais, cruzando por sobre os jardins da biblioteca propostos 6 metros abaixo do chão de Paris, etc, etc.