Adalberto Retto Jr, Norma Constantino e Marta Enokibara: Em sua recente conferência no workshop organizado pelo grupo SITU com a participação do urbanista italiano Bernardo Secchi, o senhor propôs algumas chaves de leituras para as cidades “em traçado hipodâmico“, que proliferaram com o avanço do cultivo do café no oeste paulista e que foram alvo de estudos aprofundados do geógrafo Pierre Monbeig (1984). Manfredo Tafuri (1998), analisando a formação das cidades americanas, afirma que a própria natureza da indústria ferroviária propicia, no entorno de cada estação, um acelerado esquema de valorização das terras assegurando excepcionais dividendos para o assentamento do “inteiro sistema”, que se estenderia à escala regional. Assim, cada estação que se transforma no núcleo de um colossal processo de usufruto de áreas estabelece uma outra dinâmica na cidade por meio de um rígido esquema espacial que, sem variação, é destinado a ser reproduzido, tendo por base os parâmetros econômicos. Seguindo tal lógica, sua forma de análise parte do esquema original de formação, ou melhor, do sistema ferroviário, e estabelece alguns critérios que apesar de ressaltar os pontos de homogeneidade não perde as particularidades de cada ponto. O senhor poderia discorrer sobre seus estudos sobre estas cidades?
José Cláudio Gomes: A análise da cidade – de qualquer cidade – Agudos, Diamantina, etc, ou fragmento de cidade, Largo da batata, Bauru Centro Novo, etc, busca sempre, preliminarmente, compreender o processo histórico do contexto regional mais amplo. Neste momento comparecem as disciplinas da história regional; do âmbito paisagístico mais amplo; das redes urbanas; da mobilidade e infraestrutura do território. Neste momento há que se compreender o processo histórico na sua formação territorial.
Este primeiro momento de análise é balizado por dois âmbitos problemáticos: a) pela dimensão histórica; e b) pela dimensão estrutural onde o objeto de análise é sempre matrizado pelo “espaço”.
Somente após esta abordagem histórica-estrutural à escala territorial será possível compreender as escalas menores da cidade (ou do fragmento em estudo) onde então comparecem as disciplinas da história da cidade; a paisagem natural ou construída (o sítio); as tipologias edificadas; os tecidos urbanos; os pontos fixos e as áreas homogêneas; as permanências e transformações, etc.
Finalmente, operativamente a análise procede da dimensão mais objetiva e concreta, que é o “desenho” do contexto em questão, para o desvelamento da sua “forma” e revelação da sua “estrutura” conceitual básica. Em resumo:
2 âmbitos problemáticos = história e estrutura
3 âmbitos escalares = região – o urbano – o fragmento
3 âmbitos operativos= o desenho – a forma- a estrutura.