Roberto Segre: Qual foi sua integração na intensa dinâmica de construções que se levaram a cabo ao longo da década de sessenta e na preparação da safra dos 10 milhões, que implicou na construção de vilas agrícolas e infra-estruturas territoriais.
Mario Coyula: Eu comecei em janeiro de 1959 trabalhando por um par de meses no projeto de Havana do Leste, mas muito cedo passei ao Corpo de Engenheiros do Exército Rebelde, onde participei em projetos de novos pequenos assentamentos rurais. Depois de formado mantive esta atividade delimitando novas vilas rurais e obras agropecuárias em Habitações Campestres do Instituto Nacional da Reforma Agrária, dirigida pelo Capitão José Ricardo Rabel, que desertou pouco depois espetacularmente pilotando um frágil avião. Em 1962 nos encarregaram seguir com o projeto da Cidade Escolar Camilo Cienfuegos, mencionada anteriormente. Em 1963-64 estive à frente de uma Oficina de projetos no Ministério da Construção, onde fizemos vários projetos de indústrias, e depois trabalhei mais de um ano como colaborador da equipe polaca que havia ganhado o Primeiro Prêmio no concurso internacional para o Monumento à Vitória de Praia Girón. Era um grupo muito jovem – exceto o engenheiro estrutural, Wieslaw Szymanski – com Marek Budzynski, Andrzej Mrowiec, Andrzej Domanski e Grazyna Boczewska. Aprendi muito com eles. Nesses anos participamos do concurso de Habitação por Meios Próprios com quatro projetos muito interessantes, cujo primeiro prêmio obteve Mario González e Julio Baladrón. Também estive por um tempo trabalhando com Tony Cintas no projeto de reabilitação do Palácio de Justiça para Palácio da Revolução. Isso incluiu o projeto para adaptar o Palácio do Centro Asturiano como Tribunal Supremo. Eu queria romper a monumentalidade fascistóide da grande fachada da Justiça com uns planos horizontais com vegetação que funcionariam como quebra-sóis; mas a proposta ficou no papel. O trabalho era gigantesco e depois de estar muito tempo pedindo reforços este chegou como uma intervenção: recordo ainda ao prestigioso e poderoso Antonio Quintana entrando em frente de uma grande equipe "em forma", como uma operação militar…
Isso coincidiu com a reação anti-cultural que desatou na Escola de Arquitetura, um decano disfarçado de revolucionário extremista, que com o tempo mudaria seu pouco merecido uniforme verde oliva pelo hábito branco de espírita. Foram eliminadas as matérias de Plástica e Fundamentos do Desenho, nas que trabalhei com Rallo, Gottardi, Emilio Escobar e Rodolfo Fofi Fernández, e nos dispersaram. Do Palácio saí para a JUCEI de Marianao, onde trabalhei como único arquiteto em muitos projetos simples de cafeterías, micro-parques e conjuntos de habitações. O lugar era muito afastado, em La Coronela; e as condições de trabalho muito duras. Recordo uma espécie de trabalho social que fizemos em Las Martinas –o último de Pinar do Río–, justo antes de começar a península de Guanahacabibes, onde somente se escutava a radio mexicana. Ali projetei um pequeno edifício de duas plantas que combinava loja, cabeleireiro e uns poucos quartos para hotel.
Desde 1964 conciliava meu trabalho na produção com o ensino. Em 1969 fui escolhido para viajar por um ano à União Soviética e Polônia com sete docentes mais da então Escola de Arquitetura. Eu nunca havia passado tanto tempo no exterior e houve momentos em que senti muito dura a mordida da nostalgia pelo país e minha família. Um dia me dei conta de que também sentia falta do cheiro do mar. Foi uma experiência interessante, tanto profissional como humana. Descobri que mesmo que na Polônia houvesse muitos bons arquitetos, a arquitetura que se fazia era ruim. Entendi por quê.
Quando regressei em 1970, a Grande Safra dos Dez Milhões estava em seu apogeu. Foi um choque terrível ver Havana paralisada, então me refugiei no campo, no plano cítrico de Ceiba da Agua onde estavam meus companheiros da Administração Regional de Marianao. Assim a vida me pareceu mais suportável. Nesse mesmo ano me nomearam subdiretor da Escola e pouco depois diretor. Tratei de concretizar múltiplas iniciativas sem deixar de dar aulas, o que naquele tempo era raro para um diretor.
Fizemos experimentos como a Unidade Lógica no Quarto Ano que organizei com Roberto Segre e outros professores, onde as matérias se sobrepunham tanto que depois quase não se podiam avaliar individualmente, o que afetava às rígidas estruturas burocráticas vigentes. Também dispersei grupos de alunos e docentes por meio país, fazendo projetos reais que se construíam. Foram anos em que ao ir-me para casa às dez da noite me parecia que estava fazendo algo indevido.