Entrevista com Sérgio Ferro
Daniela Colin Lima
Quando ainda cursava o colégio técnico, eu já me incomodava com a distância existente entre o pensar e o fazer dentro de um canteiro de obras. Numa tentativa de aliar o trabalho intelectual, como projetista, ao trabalho manual do operário, passei a freqüentar um curso de prática em alvenaria e revestimentos, oferecido pelo SENAI e no qual, como era de se esperar, eu era a única participante que possuía algum conhecimento de desenho na área da construção civil.
Contudo, minhas indagações sobre a opressão no canteiro de obras e sobre a nítida e violenta separação entre o trabalho intelectual e o manual permaneciam. Em 2001, eu ingressei na Universidade Estadual Paulista e durante o curso de arquitetura e urbanismo, consegui obter algumas respostas. Foi quando um professor do departamento de ciências humanas me apresentou o livro “O Canteiro e o Desenho” escrito por Sérgio Ferro, e que, junto com o estudo das experiências realizadas a partir do final da década de 50 pelo grupo Arquitetura Nova, formado pelos arquitetos Sérgio Ferro, Rodrigo Lefèvre e Flávio Império, me levaram a pesquisar o tema do canteiro de obras, com ênfase na divisão do trabalho e nas relações sociais de produção nele existentes.
Com o financiamento da FAPESP, desenvolvi durante o ano de 2005, uma pesquisa de iniciação científica sobre a questão pedagógica no canteiro de obras e pude, então, contar com a generosa e valiosa colaboração do Arquiteto Sérgio Ferro, que sempre atendeu prontamente as minhas solicitações. A entrevista a seguir foi realizada em duas etapas, ambas por telefone, tendo em vista que eu me encontrava no Brasil e Sérgio Ferro na França. A primeira parte foi feita em novembro de 2005, para integrar o relatório final de pesquisa e para fundamentar o meu trabalho final de graduação. Já a segunda entrevista, foi realizada alguns meses depois, em julho de 2006, com o objetivo de complementar algumas questões que surgiram após a reflexão e o amadurecimento do tema.
Espero com esta publicação, ampliar a discussão entre estudantes, professores, operários e arquitetos; oprimidos e opressores, para a importância de um assunto ainda hoje pouco discutido dentro da universidade e, muito menos, dentro do canteiro de obras.
Meus sinceros agradecimentos a Sérgio Ferro.