É cada vez mais freqüente a preocupação dos arquitetos e urbanistas com o enfrentamento da cidade antiga na proposição diária de novos projetos. Neste sentido, perguntam-se quais os critérios, parâmetros e limites colocados para a invenção de algo novo em locais considerados importantes marcos referenciais da cidade. Como lidar com o patrimônio histórico sem cristalizá-lo num passado totalmente distante e sem sentido para nós hoje?
Nota-se que o problema colocado perpassa diversos temas muitas vezes ignorados na rotina diária de um escritório. Com isso, é destruída e construída continuamente cidade sobre cidade até que se perceba um dia qualidades perdidas – e tudo isso sobre o tom nostálgico das perdas.
As transformações das cidades são absolutamente esperadas, mas até que ponto estas mudanças conseguem agregar qualidades? Na maior parte dos casos nota-se que as contínuas destruições do existente além de ignorar sua importância referencial não garante a qualidade esperada. Nesta realidade configuram-se dois lados distintos e incomunicáveis de atuação: aqueles que defendem o novo a qualquer custo de destruição (disponíveis para mostrar suas “obras-primas”); e aqueles que defendem o antigo como peças raras e intocáveis pertencentes a um passado distante.
Marcelo Ferraz mostra nesta entrevista o seu ponto de vista sobre a dialética entre o antigo e o novo – enfrentada diariamente no seu escritório. Sua posição configura um outro caminho, rompendo com a idéia de oposição entre as categorias de permanência e modificação. É através da própria experiência prática que Marcelo Ferraz constrói esse repertório. Dessa forma, o arquiteto fala das suas experiências, sua formação e seu contato com a arquiteta Lina Bo Bardi na construção deste juízo crítico sobre a preexistência. Neste sentido, dois projetos em espaços considerados importantes marcos referenciais da cidade realizados na década de 1980 são abordados: o Centro Histórico de Salvador e o Concurso Público de renovação do Vale do Anhangabaú.