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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Raíssa de Oliveira entrevista o arquiteto Marcelo Ferraz, sócio do escritório Brasil Arquitetura, onde mostra o seu ponto de vista sobre a dialética entre o antigo e o novo através de suas experiências, sua formação e seu contato com a arquiteta Lina Bo

english
Raissa de Oliveira interviews the architect Marcelo Ferraz, partener of escritório Brasil, that shows his point of view on the dialectic between old and new through their experiences, their training and contact with the architect Lina Bo Bardi

español
Raíssa de Oliveira entrevista al arquitecto Marcelo Ferraz, socio del estudio Brasil Arquitectura, donde muestra su punto de vista sobre la dialéctica entre lo viejo y lo nuevo a través de sus experiencias, su formación y su contacto con Lina Bo Bardi

how to quote

OLIVEIRA, Raíssa. Marcelo Carvalho Ferraz. Entrevista, São Paulo, ano 08, n. 030.02, Vitruvius, abr. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.030/3295>.


SESC Pompéia, contraste entre a torre e os galpões
Foto Nelson Kon

Raíssa de Oliveira: Lina usava muitos termos como “presente histórico”, “continuidade histórica” e admitia algumas vezes que fazia um “restauro crítico”. No entanto, se pensarmos em Teoria da Restauração ela se contradizia em muitos momentos. Neste sentido não é necessário entender como a área da Teoria da Restauração define estes termos para podermos justificar ou entender melhor estas diferenças? Para você, o que significa o uso destes termos?

Marcelo Ferraz: Lina, primeiramente, era uma pessoa muito contraditória. Você não podia “escrever” o que ela dizia. Porque ela era um poço de contradição. Talvez isso seja uma das grandes qualidades da Lina. Ela era uma pessoa que dizia uma coisa hoje e amanhã dizia outra e você ficava tentando entender e até justificar para os colegas de trabalho e para você mesmo. E essa capacidade que ela tinha de mudar e alterar suas idéias era a genialidade dela. Para ser exato e justo: Lina era paradoxal. Isso era uma coisa fantástica. É muito perigoso para os historiadores que escrevem sobre a Lina tomarem ao pé da letra certas declarações dela. E eu vejo que as pessoas as tomam erroneamente. Eu acho uma piada, de dar risada. Tem muita coisa escrita por aí sobre a Lina que acho perigosíssimo. Não preciso citar aqui, não vou entrar em detalhes.

RO: Mas ela definia estes termos ou era apenas usado como argumento?

MF: Lina tinha formação e sabia o que significava restauro científico ou Carta de Veneza. Ela tinha estudado com Giovannoni e podia dizer isso com convicção. Era uma forma de dizer “alto lá, olha com quem vocês estão falando!” Ela tinha conhecimento e impunha respeito. Nesse sentido ela usava a Carta de Veneza. Como é uma carta de princípios a ser aplicada em infinitas situações, ela se torna flexível e permite que você dê sua interpretação.

A questão do “presente histórico” é fantástica. É uma grande formulação teórica que ela usava para justificar os seus projetos. Foi muito usado para justificar os projetos, principalmente em Salvador. O “presente histórico” é algo que guarda do passado aquilo que ainda vive, mesmo que hibernado, e você pode fazer aquilo aparecer e viver novamente através do projeto, da ação. Mas sempre está ligado à vida contemporânea, aos usos e necessidades atuais. Agora, aquilo que não serve, não levanta mais, você descarta – como eu falava no começo da conversa. O “presente histórico” é o presente que traz raízes, memórias. Mas é presente, não é passado. Ninguém vive no passado, assim como, ninguém vive no futuro. É uma coisa muito pragmática, então, nós fazemos projeto para um horizonte de hoje, da maneira que nós vivemos hoje. Como utilizamos os objetos, como nos deslocamos, nos comunicamos. Isso é presente. Lina é muito pragmática nesse sentido. Sempre é presente, ainda que carregado de elementos simbólicos ou históricos que enriquecem o imaginário para formular o que está por vir. O mundo é assim, deveria ser assim. Essa formulação é um ponto extremamente importante.

RO: Quando você fala deste tema você sai do aspecto meramente morfológico.

MF: Completamente.

RO: Você entra na questão da “prática social”, do lugar. Estas duas coisas me parecem os elementos de análise naquele momento do projeto para o Centro Histórico de Salvador. Acho que é nesse sentido que aparece a diferença com os outros arquitetos: na questão analítica. Ou seja, a “prática social” é quase intrínseca ao processo de análise neste caso. Caímos novamente na questão da formação.

MF: Acho que é isso. Gosto deste termo “prática social”. Meus colegas de trabalho e eu não conseguimos vestir a camisa daquele arquiteto que fica na prancheta, cultivando as “coisas geniais do desenho”. Não sei como é isso. Não estou fazendo piada e não é falsa modéstia, não é isso. A prática social no caso é dada, você está sempre buscando as relações com todos agentes que interferem no projeto; a política, no sentido mais nobre da palavra, principalmente com aquele que vai utilizar o projeto. Eu acho que isso aconteceu na Bahia. Se você verificar a proposta do Anhangabaú – que foi tida como piada, mas não era – também ocorreu isso. Era um Parque para São Paulo. Fazer a estrutura lá em cima, moderna e arrojada, com vãos enormes. Uma fita que passava no céu do Anhangabaú. Em baixo, o parque. Tudo aquilo para os pedestres. Essa necessidade ainda não vigora em São Paulo? Na Bahia a proposta de chegar ali, 1986, olhar a cidade semi-destruída e fazer uma intervenção tinha um peso. O que marca ali como intervenção é a recuperação do que estava faltando: complementos, consolidação. O que era para reconstruir nós não falseávamos. Fazíamos uma coisa nova, com uma linguagem nova, uma tecnologia nova. A linguagem – e isso é importante – não é a vontade do arquiteto. Não é assim: temos várias linguagens como estilos ou modelos à disposição. E uma linguagem circunstanciada depende de um momento, de contingências. Naquele momento havia uma fábrica pública que fazia pré-moldados de concreto, dirigida pelo arquiteto Lelé. Aliamos esta tecnologia existente – o pré-moldado – à possibilidade de recuperação rápida e econômica de um Centro Histórico. Isso nos fez mergulhar na técnica para desenhar corretamente, adequadamente, com aquela demanda, naquele momento. Não é uma vontade apriorística de usar uma forma porque a forma é o que resulta disso tudo. Mesmo quando você pensa no Restaurante Coaty, que parece ser a vontade do arquiteto de fazer uma coisa redonda e não quadrada. Isso está fora do trabalho da gente, essa vontade formalística. A forma é um resultado, e não ponto de partida.

RO: Lembro da afirmação da Lina sobre o MASP: “Eu não quis fazer o maior vão do mundo”.

MF: Exatamente. A gente não começa pela forma, terminamos pela forma. Isso faz diferença.

RO: Para mim é difícil enquadrar a Lina numa Escola da Teoria do Restauro como há uma tendência em se fazer. Na minha opinião estas questões sobre a preexistência vêm da sua experiência com o design, da busca maior de uma cultura autêntica e não entregue completamente ao mercado. Ou seja, sua formação, sua experiência somada à preocupação mais ampla com a cultura a colocam frente discussões sobre o que é fazer uma arquitetura neste ou naquele determinado lugar, ou melhor, como tratar com o existente. Sua pesquisa sobre o artesanato talvez já tenha colocado estas questões anteriormente sobre a preexistência.

MF: Eu acho que você tem razão. Eu dividiria esta questão em duas partes. Quando ela vem para o Brasil ela pensa que pode experimentar coisas novas, ousar mais que na Europa. Isso já está dito, todo mundo sabe: a América é livre do ranço e tudo mais. Ela não gostava que a comparássemos com Carlo Scarpa. É porque de certa forma Scarpa tinha todo um requinte em lidar com peças absolutamente valiosas, importantíssimas da história da humanidade, da arquitetura. Ele trabalhava em Veneza, em Verona. Tudo isso o fazia trabalhar delicadamente, com muito cuidado. As intervenções são sutis e às vezes você pode pensar que tem muita ‘firula’ nas soluções. Talvez seja por isso que Lina não gostasse da comparação. Ela era mais direta. Nada sutil. E essa é a diferença. Ela não queria ser comparada a nada e a ninguém. Os projetos abarcam dissonâncias e não contradições. É muito interessante isso. A Lina incorpora dissonâncias. Por isso é que as pessoas reclamam da escada do MASP, falam que o SESC Pompéia é horroroso, um bloco pesado. Ela não busca o equilíbrio, a proporção da composição das regras. É totalmente fora da composição clássica, não tenha dúvidas. Esse é um lado. Quando você fala do design está usando o termo no sentido mais alto da palavra, no sentido inglês de origem, que abarca o ato de projetar de forma ampla. O design é uma palavra que está absolutamente desgastada. Todo mundo diz que aqui na Vila Madalena tem lojas de design, imagina!? Neste sentido que você usa, eu concordo sim. É importante não relacionar design com objeto. Hoje se você diz isso (que sua relação com a preexistência vem da sua relação com o design) numa escola de arquitetura pode parecer a relação dela com objetos, no desenho de objetos e não com o desenho de arquitetura e cidades. Nesse sentido tem que ter cuidado, tem que ter uma nota de rodapé. Nesse sentido sim, é a via de uma leitura de em mundo sócio-cultural da formação italiana que vem para o Brasil e que vai se enriquecendo. Nem precisa dizer se é popular ou não popular, ela entra na cultura como um todo. Foi importante reafirmar a arte popular como algo distinto do artesanato. Muitos falam por aí que Lina gostava de coisinhas velhas, de bichinho, caquinho, cerâmica... Isso tem que ser evitado ao máximo porque não é por aí.

RO: É uma forma rasa de definir o seu procedimento?

MF: As pessoas usam muito isso para dizer que ela era meio assim “hyppie”, não é nada disso. Pelo contrário, era uma pessoa rigorosa e fazia tudo com rigor, exatidão. Não tinha sobra, não tinha bagaço. Era exata e concisa. Quando ela falava da criatividade na arte popular brasileira, era para você olhar pra aquilo como exemplo de saídas num mundo de dificuldades. Exemplos de soluções e não algo a ser reproduzido. Fazem uma confusão por aí. Quando ela usa sapé num projeto, as pessoas acham que é referência à arte popular, não é nada disso. É um equívoco que se propaga. Ela olhava para sociedade como um todo do ponto de vista cultural. Acho que a gente tem que olhar para o passado no momento de criação de algo novo. Tem que dialogar com uma arquitetura preexistente. Temos que olhar aquilo como testemunhos de um trabalho humano, até como fato humano, e não como pedaço de parede. Isso faz diferença quando você vai ponderar e decidir o que é que deve prosperar ou não. Aqui no escritório, lidamos com esse tema continuamente.

Escada do Unhão
Foto Acervo Lina Bo Bardi [fonte: OLIVEIRA, Olivia. Lina Bo Bardi. Sutis substâncias da arquitetura. Romano Guerra Editora / Gustavo Gili, 2006]

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