Regiane Pupo: Como se deu a implantação de uma nova grade com disciplinas de informática no curso de arquitetura do IST?
José Pinto Duarte: A idéia de criar um conjunto de disciplinas na área da informática na Licenciatura em Arquitetura do IST surgiu em parte porque cursos existentes em outras escolas já possuíam disciplinas nesta área. A Faculdade de Arquitetura (FA) da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), a mesma universidade a que pertence o IST, foi pioneira nesta área, criando o Centro de Informática (CIFA) logo em 1987 e introduzindo disciplinas nesta área no ano seguinte no currículo de arquitetura e urbanismo. A iniciativa partiu de um grupo de professores da escola que percebeu a existência de centros destes em outros cursos europeus e da importância que a formação nesta área poderia vir a ter para a empregabilidade dos alunos. Naturalmente, estas disciplinas foram introduzidas nos anos mais avançados. Depois, outras escolas criaram e introduziram centros e disciplinas semelhantes, sempre nos anos mais avançados. Assim, quando o curso do IST surgiu, pensou-se logo em incluir formação na área de informática. A novidade foi a inclusão destas cadeiras nos anos iniciais de formação. Uma das razões desta decisão deveu-se ao fato de em outras licenciaturas do IST existirem já disciplinas de informática nos anos iniciais e de a escola ter a filosofia de exigir alguma semelhança entre os primeiros anos das diferentes licenciaturas. A outra razão esteve relacionada com a própria filosofia que presidiu à criação da licenciatura em Arquitectura no IST. O objetivo foi criar uma licenciatura mais direcionada para as tecnologias em contraste às licenciaturas já existentes no país que provinham de uma tradição mais próxima das Belas-Artes e estavam, por isso, mais orientadas para as artes. Por este motivo, a licenciatura do IST incluiu no seu currículo várias disciplinas não só de novas tecnologias, mas de tecnologias em geral.
RP: Quais eram as novas disciplinas e como funcionavam?
JPD: Na área das novas tecnologias existiam três disciplinas básicas semestrais: Desenho Assistido por Computador I (DAC I), ensinada no 1º semestre do 1º ano, DAC II do 1º semestre do 2º ano e Sistemas de Informação Geográfica, do 1º semestre do 3º ano. DAC I e II eram lecionadas por mim. DAC I abordava a modelação geométrica e a visualização de edifícios. Era pedido aos alunos que escolhessem uma obra de renome e desenvolvessem o seu modelo digital com a finalidade de analisar e descrever as suas qualidades arquitetônicas. Os alunos aprendiam as técnicas digitais básicas (modelação 2D e 3D, foto-realismo, processamento de imagem e edição de páginas WEB) não como um objetivo em si mas motivados pela aprendizagem da arquitetura. DAC II abordava a programação e a fabricação de formas arquitetônicas. Os alunos tinham que selecionar uma classe (tipo) de formas com significado arquitetônico e desenvolver um programa de computador que codificasse as regras subjacentes ao tipo e fosse capaz de gerar novos exemplos do mesmo. Tinham depois de recorrer a técnicas de prototipagem para criar um modelo físico que materializasse o output do programa.
Existia depois uma cadeira anual avançada intitulada “Projeto Assistido por Computador” (PAC) oferecida no 5º ano e também sob minha responsabilidade. Esta cadeira era uma cadeira de projeto que integrava os conhecimentos adquiridos nas duas cadeiras anteriores ao mesmo tempo que expunha os alunos a novas ferramentas, tais como, modelação geométrica avançada, prototipagem rápida, colaboração remota e realidade virtual. Pretendia explorar o uso de técnicas avançadas na abordagem de problemas complexos e no desenvolvimento de soluções inovadoras em colaboração com a indústria. Tinha o formato de uma cadeira de colaboração à distância, aberta a formandos de arquitetura e engenharia não só do IST, mas de outras universidades. O tema de estudo variava de ano para ano, bem como as universidades ou indústrias colaboradoras. Por exemplo, num ano o problema dado aos alunos foi projetar um centro cultural de base tecnológica que incorporasse superfícies com dupla curvatura para ser construído com elementos cerâmicos. Nesse ano trabalhou-se com o Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos e com o Centro de Tecnologia da Cerâmica e do Vidro (CTCV), em Coimbra, Portugal. Os alunos foram solicitados a projetar o edifício e a conceber o sistema construtivo. Tiveram que refletir sobre a forma como as novas tecnologias afetavam os diversos tipos de arte e os edifícios projetados para os albergar e resolver os problemas de representação, estrutura e produção implicados no projeto e construção de formas livres.
RP: Qual a diferença prática em se inserir disciplinas de informática aplicada no inicio do curso de arquitetura ao invés de disponibilizá-las no final do curso?
JPD: Se os alunos aprenderem cedo no seu processo de formação a lidar com as ferramentas disponibilizadas pelas novas tecnologias, o seu uso torna-se natural e espontâneo, facilitando a sua utilização no processo de raciocínio e concepção durante o projeto. É menos natural que a tecnologia se coloque no seu caminho e dificulte a sua tarefa que é conceber edifícios e não manipular software ou hardware. Penso que uma aprendizagem cedo lhes permite utilizar esta tecnologia da mesma forma que utilizam o lápis ou o pincel: para representar e pensar. Também acredito que um conhecimento mais aprofundado da tecnologia lhes permita conhecer as suas vantagens e desvantagens e identificar mais facilmente qual o tipo de ferramenta apropriado para resolver determinado problema.