A experiência participativa de Giancarlo De Carlo
João Piza
De Carlo é certamente um dos maiores nomes da arquitetura italiana no século XX, e provavelmente o precursor da arquitetura participativa na Itália. Foi também um dos precursores na crítica ao uso abusivo da alta tecnologia.
Na entrevista a seguir, De Carlo expõe sua visão, muito rica, das interfaces entre a arquitetura, o urbanismo, a sociedade e seus valores culturais e ambientais. Um dos elementos mais marcantes de sua obra é que à excelência técnica se soma uma visão humanista profunda, que coloca a técnica a serviço do homem, antes de tudo. É neste sentido que critica o uso abusivo da alta tecnologia: pouco a pouco, limita a ação do homem e passa a mediar toda sua relação com o ambiente e a vida. Tolhe sua liberdade, promove o sedentarismo e não raramente prejudica sua saúde.
A participação, para De Carlo, é mais que um processo político: é também a construção de uma estética verdadeira, construída com a redescoberta do gosto verdadeiro das pessoas, em um processo dialógico que pouco a pouco depura os elementos estéticos impostos pela cultura de massa e traz à tona os reais valores da sociedade.
A entrevista a seguir foi realizada em 1 de agosto de 2002, em seu estúdio em Milão. Inicialmente, muitas perguntas de De Carlo sobre o Brasil: como ia a política, como ia a juventude? Havia racismo? Havia esperança? E as universidades, como andavam? Concluiu a longa série de perguntas dizendo:”Brasil e Argentina, são países riquíssimos, com tudo por se fazer. Que coisa fascinante ser jovem em um lugar como este”. Passou então à leitura das questões propostas, e preferiu fazer uma fala contínua, pontuada pelas questões, que memorizou perfeitamente.