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interview ISSN 2175-6708

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Na entrevista a seguir, o arquiteto italiano Giancarlo De Carlo expõe sua visão, muito rica, das interfaces entre a arquitetura, o urbanismo, a sociedade e seus valores culturais e ambientais

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PIZA, João. Giancarlo De Carlo. Entrevista, São Paulo, ano 08, n. 032.02, Vitruvius, out. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.032/3292>.


Universidade de Urbino, Giancarlo De Carlo

João Piza: Sua trajetória é bastante singular na arquitetura italiana, e freqüentemente isolada. Qual foi sua formação intelectual?

Giancarlo De Carlo: Eu não tive uma formação acadêmica propriamente, porque primeiro estudei engenharia em Milão e me graduei antecipadamente em 1942, por ser convocado para a guerra. Depois me formei arquiteto em Veneza, após a guerra. E a minha cultura era diferente daqueles que haviam vivido na Itália, pois eu vivi também no exterior (cresceu na Tunísia, então colônia Francesa), de modo que eu era influenciado igualmente pela cultura italiana e pela cultura francesa, que era mais liberal, assim como pela inglesa um pouco depois.

Portanto, as pessoas da minha idade ou um pouco mais velhas que passaram pela linha principal da cultura italiana não se influenciaram por Gramsci – que ainda estava preso –mas sim por Croce. Croce me influenciou, porque representava uma cultura liberal, que, se não era propriamente contra o fascismo, também não era a favor. Então, estes jovens rebeldes se orientavam muito por Croce.

A Guerra Espanhola (1936-1939) forçou muitos jovens italianos a tomar posição: ou se era de um lado ou de outro, não era possível estar no meio.

Os italianos bombardeavam as cidades da República Espanhola. O fascismo começou a mostrar sua cara naquele momento, aliando-se a Hitler. Eu era muito jovem e acompanhei a Guerra Espanhola como podia, pois não chegavam muitas notícias. A Guerra Espanhola me persuadiu que a estrada a seguir seria a do antifascismo, do pensamento avançado.

Contudo, foi a Guerra Partigiana (1943-1945) que me deu a verdadeira estrutura. Nela eu participei por 24 ou 25 meses, primeiro nas montanhas, depois na cidade. Na cidade era mais duro que nas montanhas, muito mais difícil. Porém, isso me pôs em contato com muita gente – os antifascistas que retornavam da França e da Suíça, os anarquistas provenientes da Guerra Espanhola...

Os anarquistas, após a vitória de Franco, fugiram para a França. Lá, ficaram presos um longo período. Eram muito isolados, pois até os comunistas eram contra eles, fuzilando anarquistas em Barcelona. Tive contato com eles e isso me abriu este pensamento diverso, muito humano contra uma organização rígida. O verdadeiro anarquismo acredita na energia humana.

Sobre o anarquismo há muitos equívocos, pois os anarquistas foram sempre descritos como aqueles que põem bombas em teatros. No entanto, há intelectuais de altíssimo nível, como Kropotkin, Mumford, Herbert Lee, Woodcock e, sobretudo, Geddes.

Na raiz do meu interesse por uma certa arquitetura e também pelo problema da participação tem muito desta cultura anarquista que eu cultivei lendo e um pouco freqüentando esta gente. Na minha opinião, as coisas que eles escreveram são muito importantes e produziram uma urbanística anárquica. Geddes fez vários planos – um para Tel-Aviv, muito belo, depois fez coisas na Índia e para Edimburgo.

É uma corrente muito interessante, que depois foi posta de lado pela corrente mais autoritária, que era principalmente alemã, do Zonning, e é de matriz capitalista.

Edifício do Magitério em Urbino, Itália, Giancarlo De Carlo

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